O mundo encantado de Gigi
Toda criança tem um mundo encantado em sua farta imaginação. Gigi não é diferente. Orfã de pai, a garotinha passa os dias fantasiada de pinguim com o sonho de um dia conseguir voar como acredita que as aves o façam. Tudo porque seu pai lhe contou isso. E seu ídolo não poderia mentir, mas essa crença acaba tornando-a alvo de chacota dos meninos do bairro. Seus amigos são apenas os idosos do local, mas a garota não se importa. Seus momentos solitários são olhando para o céu e conversando com seu pai. A forma visual como Rintaro conta tudo isso é bem realizada, fácil de acompanhar, mas rica em detalhes. A história da fonte das sete divindades também é boa e a cena em que Gigi tenta tocá-la é uma das mais bonitas do filme.
Um dia, Gigi ganha um presente estranho, um gatinho de armar. Ela o coloca na cabeceira da cama e ele ganha vida levando-a a um mundo mágico, inacreditável, mas que está sendo dominado por um demônio. Parece que uma profecia teria dito que aquele que livraria todos da ameaça constante, libertando aquele mundo, seria um pássaro que não sabe voar. Por isso, o gatinho Charles foi buscar Gigi, achando que ela seria esse tal pássaro. No mundo encantado, os cenários são bastante oníricos, cheio de cores e traços mais leves.
Várias referências são possíveis de localizar na aventura de Gigi por esse mundo maravilhoso, desde Nárnia, passando por Mágico de Oz até Alice no país das maravilhas. Tudo isso, com o toque especial da filosofia japonesa, ainda que com anjos e demônios bem judaicos / cristãos. É um filme divertido, com um tema bem desenvolvido e uma estética bem cuidada, misturando desenhos em 3D nos personagens com 2D nos cenários. Mais uma boa realização de Rintaro, pseudônimo de Shigeyuki Hayashi.
Direção: Rintaro
País: Japão
Ano: 2009
Duração: 90 min
Temos a cena do jogo de burro entre Fred e sua vizinha, que começa com um big close nos olhos de cada um e a montagem alterna a situação e planos de uma forma dinâmica e interessante completada pela boa trilha sonora. Há também um jogo de cena com a porta do quarto de Fred para esconder Storm do pai. Além de diversos momentos do garoto andando pelas ruas da cidade, sempre procurando novos ângulos e movimentos de câmera, procurando dar ritmo à trama.
Ela em si, é bem simples, com um roteiro bobo em vários momentos. Não dá para entender o medo do protagonista de um tampinha besta como o seu rival, nem sua atitude com o dono de Storm, sem contar ao pai a verdade que resolveria tudo facilmente. O pai do garoto, por outro lado, banca o bobo também na frente de uma mulher como se nunca tivesse namorado na vida. E toda a situação na pista de corrida é bastante surreal. Mas combina com a proposta.
Meu amigo Storm é um filme divertido, para quem gosta de cachorro e reconhece a amizade sincera que pode existir entre uma criança e esse bichinho de estimação. Além de ser uma boa produção, que se preocupa em contar a história com imagens criativas e bem desenvolvidas. Uma boa surpresa.
Direção: Giacomo Campeotto
País: Dinamarca
Ano: 2009
Duração: 90 min.
Além do bom roteiro, com uma história gostosa de acompanhar, a produção dirigida por Hayo Freitag enche os olhos. Já começa com uma piada metalinguística como se os "atores" estivessem atrás da cochia esperando o filme começar. Toda a animação é construída em um 2D básico, com uma economia de espaço que traz uma linguagem própria bem interessante, como quando Tiffany sobe a escada da torre e a vemos surgir simplesmente do outro lado. Mas, também tem um cuidado com detalhes interessantes, como quando a carruagem vai andando pela floresta e vemos os bichinhos em sua rotina meio surreal como apagando a luz da árvore, ou fechando a torneira de um tronco.
Na toca dos ladrões, a brincadeira continua. Vemos o espaço por dentro dividido em cômodos como se fossem telas divididas. É interessante ver a interação dos cenários. Assim como a transformação que Tiffany vai fazendo ali. As pinturas nas paredes, a arrumação, o café que tem seu cheiro passeando pelos aposentos. A luz que entra a cada janela aberta. Tudo é bem orquestrado. Já no orfanato o clima é tenso, com as crianças quase escravizadas contrastando com a torre da tia má cheia de doces e cores. É interessante ver também a forma como os realizadores mostram a violência sem ser explícita, como no castigo com o chicote que só é visto através das sombras projetadas na parede.
Há ainda a tonalidade azul que toma conta dos ladrões e do ambiente onde vivem sempre que eles se tornam "maus" e fica colorida sempre que Tiffany vai modificando o coração dos três. É uma bela fábula infantil, com elementos para encantar todas as idades. O melhor filme que vi no FICI desde O Segredo de Kells em 2009.
Direção: Hayo Freitag
País: Alemanha
Ano: 2007
Duração: 80 min.