A semana passada ferveu aqui no Brasil com a divulgação de um vídeo de Caio Blat em uma universidade de Suzano. O vídeo oficial na íntegra já foi até retirado do Youtube, mas a declaração polêmica ainda é possível de ser vista em vários formatos. Tirado do contexto, a polêmica fica maior ainda, mas o fato é que no bate-papo descontraído, o ator acabou soltando o que muitos já sabiam. Toniko Melo, mesmo, na época do lançamento de VIPs, fez campanha em seu Facebook pedindo que as pessoas ajudassem na divulgação porque o filme não tinha contrato com a Globo Filmes e, por isso, não era divulgado nos programas da rede. O fato é esse: se o filme tem o apoio da Globo Filmes, tem divulgação em todos os programas da Rede Globo, senão, não entra em nenhum deles.Só que a questão da distribuição é mesmo mais complexa do que isso. Sem querer defender nenhum lado, não se pode culpar a Globo pela falta de espaço do cinema nacional em salas de cinema de todo o país. Nem mesmo dizer que o filme que assina com a Globo Filmes deve mais do que arrecada. Na verdade, nossa distribuição é controlada pelas majores norte-americanas que tem grande poder de marketing e sempre cercam os cinemas com vários títulos. Então, um filme para chegar aos cinemas de shoppings tem duas opções: ou acerta com a Globo Filmes para ter divulgação e ser esperado pelo público ou acerta com uma distribuidora norte-americana para entrar no bolo dela com as regras dela. O que a Globo faz é usar suas armas para criar a sua própria rede. É capitalista, claro, vivemos em um mundo assim, não sejamos ingênuos.
Agora, se boa parte do cinema se tornou (desde a década de 30 nos Estados Unidos), uma indústria cruel e fechada, ainda há também uma forma de burlar esse jogo: bons filmes que cheguem e conquistem o público. Temos um exemplo recente bem interessante: Tropa de Elite. Mesmo sem parceria com a Globo Filmes, o filme chegou ao público, virou fenômeno e sua continuação quebrou um recorde de público que durava desde 1976 com Dona Flor e seus Dois Maridos. Interessante é que aqui, a ajuda de Padilha veio de um mercado ainda pior: a pirataria. O filme vazou nos camelôs, virou fenômeno nacional e quando chegou aos cinemas todo mundo queria ver. Tropa de Elite 2, então, foi ainda mais aguardado. Naquela época, Tropa de Elite já tinha feito sua carreira internacional, ganhando o urso de ouro em Berlim, e Padilha tinha se consagrado. Tanto que agora está em Hollywood terminando o remake de RoboCop. Não foi difícil chegar as grandes salas, ainda que sem tantas cópias. Só que dessa vez, tinha a parceria da Globo Filmes, então, não funciona como exemplo.
Agora, ser co-produzido pela Globo Filmes, ser um bom filme e ainda assim não ter grandes bilheterias também é possível. Vide o longametragem Xingu de Cao Hamburger. O filme tinha tudo para ser sucesso, mas simplesmente não aconteceu. Por coincidência, Caio Blat é um dos irmãos Villas Bôas. Não é mesmo uma matemática exata. E nem a Rede Globo é certeza de levar multidões aos cinemas. Na verdade, a maior parte da platéia está em busca de entretenimento fácil. De só ir no que é conhecido. Ninguém gosta de arriscar com preços de ingressos tão caros.
Acredito que ainda há uma luz no fim do túnel. E Caio também pode chegar lá. Sendo um depoimento não autorizado, feito sem pensar ou não. Pelo menos ajudou a, mais uma vez, levantar a discussão no nosso cinema. O que lamento é ele ter tido que se retratar publicamente, provavelmente pressionado por sua própria "patroa". Veja pedido de desculpas aqui.

