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O Pecado Mora ao Lado

O Pecado Mora ao LadoBilly Wilder não era um diretor qualquer. Crítico e talentoso ao extremo, conseguia passar o seu recado através de tramas aparentemente tolas. Foi assim que em plena vigência do Código Hayes, que mantinha uma censura prévia aos filmes de Hollywood, ele apresentou O Pecado Mora ao Lado, uma comédia de costumes cheia de veneno contra a sociedade norte-americana.

O início do filme já tem uma sátira bem humorada falando do comportamento dos homens. Em um paralelo dos índios que ali viviam e do moderno novaiorquino. Eles continuavam com o costume de, no verão, enviar suas mulheres e filhos para longe, enquanto permaneciam na cidade com a desculpa do trabalho, mas que na verdade era um pretexto para agirem como solteiros novamente. A forma caricata como os machistas e mulherengos são expostos à mulheres que para eles não passam de objetos é bem realizada.

O Pecado Mora ao LadoAssim é o personagem de Tom Ewell, o editor de livros Richard Sherman. Sua esposa Helen e seu filho vão passar as férias de verão longe e ele fica em Nova York. Em uma tentativa padrão de manter a linha, ele está sempre se controlando para não beber e fumar. E claro, para não olhar para outras mulheres. O tempo todo ele respira fundo e diz "não eu, e não vou fumar também". O problema é que surge uma nova vizinha no andar de cima. E ela é nada mais nada menos que Marilyn Monroe.

É interessante perceber que a personagem de Marilyn não tem nome. Ela é apenas a garota que alugou o andar de cima e que é irresistível. Mais do que isso, ela sabe disso e o tempo todo provoca Richard Sherman com um jogo de sedução de vai-mas-não-vai. Ela chega a expor a sua consciência ao dizer que prefere que ele seja casado, pois não vai correr o risco de ser pedida em casamento mais uma vez. "Todos os homens se apaixonam por mim e acabam me pedindo em casamento. Eu sou muito nova para casar". Isso sem falar nas calcinhas na geladeira.

O Pecado Mora ao LadoTomando a tela para si, ainda que sem nome e com menos tempo em tela que Tom Ewell, Marilyn Monroe acaba se tornando a protagonista do filme. A garota que quer ser modelo, que não se preocupa com convenções, que se faz de vítima, mas que é tão doce que todos se encantam. E é neste filme que acontece a famosa cena do metrô, quando seu vestido é levantado pelo vento da passagem do trem subterrâneo. Eles estavam saindo do cinema, falando exatamente de um filme de monstros e a pena que ela sentia deste. Há questões sutis aí sobre os próprios valores da sociedade.

Aliás, a sociedade hipócrita e de aparências está lá, sendo testada o tempo inteiro. Desde detalhes como as mudanças de títulos e capas para livros, trabalho de Sherman, passando por suas diversas fantasias sensuais, como se ele fosse o próprio galã de cinema, até a atitude de sua esposa, preocupada apenas com o remo do filho que foi esquecido e passeando com um homem que ele considera seu rival.

O Pecado Mora ao LadoHá ainda a sua comparação em delírio a Dorian Gray e o psiquiatra com seu livro sobre a crise dos sete anos. Que aliás é o significado do nome original do filme, The seven year itch. Segundo essa teoria, após sete anos de casado, o homem começava a se sentir preso, em crise e precisava extravasar com novas experiências. Claro que o personagem principal está em seu sétimo ano de casado. E a presença de Monroe ao seu lado, é apenas mais um pretexto para a traição iminente.

O Pecado Mora ao Lado, no entanto, constrói muitas gags bobas e foi provavelmente prejudicado pela censura prévia, como é afirmado em vários documentos históricos, além do próprio depoimento de Billy Wilder. No entanto, é uma comédia de costumes bem realizada, icônica até, que ficou mais conhecida pela sequência do metrô que qualquer outra coisa, mas ajudou a sustentar a imagem de sex symbol de uma das atrizes mais famosas e controversas de Hollywood.


O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1956)
Diretor: Billy Wilder
Roteiro: Billy Wilder
Com: Marilyn Monroe, Tom Ewell e Evelyn Keyes
Duração: 105 min.

Comentários (6)

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Sempre é bom ler sobre clássicos! Acho Billy Wilder genial, mesmo tendo visto poucos filmes dele já dá pra perceber a capacidade do diretor de alterar gêneros com mesma qualidade: Quanto mais quente melhor, The Apartment, Crepusculo dos Deuses e Pacto de Sangue são provas disso.
Ainda não assisti a este O Pecado Mora o Lado e eu não sabia que a tal cena veio dele! Interessante...
1 resposta · ativo 667 semanas atrás
Crepusculo dos Deuses é um dos meus filmes preferidos de todos os tempos, Bruno. Gosto muito de Billy Wilder também. E pois é, a famosa cena veio daqui, hehe.
Billy Wilder é um dos meus diretores favoritos. Um dos profissionais mais ácidos e versáteis que Hollywood teve a chance de conhecer. "O Pecado Mora ao Lado" é um daqueles filmes cheio de mensagens dúbias, mas que é uma delícia de se assistir. Além disso, tem Marilyn Monroe em mais um papel que reforça suas características icônicas. Mas, há que se reconhecer que ela tinha um grande timing cômico.
1 resposta · ativo 667 semanas atrás
Verdade, Kamila, com todos os problemas de bastidores que diziam que ela tinha, Marilyn Monroe conseguia tomar a tela para si e tinha um timing incrível pra comédia;

E Billy Wilder é incrível mesmo.
Adoro Quanto Mais Quente Melhor, mas o momento decisivo da carreira de Marilyn Monroe esta neste filme encantador e divertido apesar de machista. Até o Monstro Da Lagoa Negra é citado pouco antes dela brincar no respiradouro do metrô, rs!

Bjs.
1 resposta · ativo 666 semanas atrás
Verdade, Rodrigo, o filme tem um encanto mesmo.

bjs

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