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E os 48 quadros?

GandalfBom, após muitas explicações, opiniões e notícias, finalmente assisti a O Hobbit em 48 quadros por segundo. Juro que esperei as filas diminuírem para poder assistir com atenção, fora da balbúrdia natural das salas. Não foi na sala IMAX, é verdade, mas já deu para sentir a imensidão de detalhes e outras coisinhas que um filme com o dobro de frames nos proporciona. E a sensação final é de que vi algo experimental, mas que não revoluciona o cinema ainda. E que espero, não seja adotada como padrão, pelo menos, não tão cedo. Como já expliquei um pouco sobre o processo no texto Contagem Regressiva para O Hobbit, irei me ater aqui aos comentários sobre como foi assistir a isso.

Entendo a rejeição das primeiras plateias de teste que começaram a polêmica e fizeram diminuir a quantidade de salas que exibiria o filme nesse formato. A estética é completamente diferente, incômoda no início e hiper-realista. Não quer dizer que isso seja ruim, ao longo das duas horas e quarenta do filme, vamos nos acostumando àquilo e temos uma experiência nova dentro da sala. Assim, entendo também o público eufórico que tem alardeado que 48 quadros por segundo é "a" tecnologia. E que quer todos os filmes assim.

O HobbitNem tanto, nem tão pouco. Sim, a 48 quadros por segundo temos imagens extremamente nítidas. Uma riqueza de detalhes sem iguais. Vemos os pelos dos cavalos, os fiapos das roupas, os detalhes das folhas, uma imensidão de informações. Vemos o bater das asas de um passarinho em todas as posições, sem borrões. Quase pegamos nas imagens de tão reais que nos parece. Estamos mesmo visualizando um mundo de uma janela. Mas, aí, já se encontra um problema. Cinema não é mundo real.

Podem me chamar de velha, retrógrada, mas eu gosto dessa estética construída em grãos, que nos dá uma sensação de outro mundo, esse tratamento de perspectiva construído com profundidade de campo. Essa sensação de estarmos vendo um filme. Porque com 48 quadros, fica tudo muito vídeo. Parece mais uma televisão HD de tão nítida. Sem camadas, sem filtros. Uma imagem aparentemente crua, que causa estranheza em diversas cenas, principalmente quando nossos olhos se deparam com orcs e outros seres mágicos. Um amigo disse que em alguns momentos parece vídeo game, não diria. Mas, parece mesmo algo suspenso, deslocado de tão real. E acho que isso vem da imagem com "cara" de vídeo.

O HobbitOutro problema, este perfeitamente resolvível é a aceleração da imagem. A cada momento, parece que os personagens pegam "no tranco". Dando uma aceleradinha antes de se movimentar de fato. A princípio isso incomoda muito, mas logo depois nos acostumamos. Acredito que seja uma questão apenas de aperfeiçoamento da linguagem, novos testes, ou mesmo costume. Já que somos seres altamente adaptáveis e nos acostumamos a tudo.

Agora, se tem um ponto muito positivo nos 48 quadros é o 3D. Não apenas o efeito em si, nos dando uma maior profundidade e ambiência. Isso, por si só, é impressionante e talvez seja o ponto que mais atraiu os fãs eufóricos. Mas, é que além disso, problemas do 3D foram resolvidos. A começar pelo escurecimento da tela. Não há, tudo é muito nítido, claro e uniforme. Não temos o problema de ver as imagens mais escuras do que deveriam. A outra questão é no conforto da visão. Muitas pessoas tem dor de cabeça ao sair de um filme 3D, ou mesmo sem uma dor física, fica um cansaço na vista. Com os 48 quadros por segundo, isso não acontece. Pelo contrário, parece até que ajuda a descansar a visão. É tudo muito confortável para que possamos assistir a tudo sem perdas. Eu tenho astigmatismo e sei bem o que é uma vista cansada diante de um computador, televisão ou imagens que usam luz em movimento.

O HobbitA conclusão é que, talvez, a moda pegue e os 48 quadros por segundo sejam um mal necessário, uma evolução na linguagem, uma transformação. Não se sabe, tudo por enquanto são apenas suposições, mas de qualquer forma, é preciso estudar e evoluir muito ainda para que se torne o padrão. Talvez, seja utilizado apenas em filmes em 3D. Enquanto que os 2D continuem a ser em 24 quadros. Tudo é possível. E acho que todos devem conhecer, assistir e tirar suas próprias conclusões. Não ficar naquela de "não vi e não gostei". Porque não deixa de ser uma nova experiência.

Independente de número de frames, tecnologias empregadas, ou linguagens refeitas, o que eu espero mesmo, é que o cinema continue a ser uma arte a serviço da narrativa. Que busque sempre nos contar boas histórias utilizando os equipamentos e regras estilísticas em função do que pede aquela trama. Isso, para mim, é o fundamental. Não por acaso A Invenção de Hugo Cabret e o documentário Pina foram os melhores exemplos de 3D que eu vi até hoje, porque tem utilidade ali, sem eles, a narrativa perderia alguns pontos. Isso é o fundamental no cinema. Assistir uma história bem contada. Se em 48, 24 ou até os antigos 16/18 do cinema mudo, não importa, contando que seja justificado.

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