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O Mestre

O MestreForam cinco anos entre o lançamento de Sangue Negro e O Mestre, mas Paul Thomas Anderson nos apresenta novamente, uma grande obra. Polêmico, é verdade. Mas, afinal, qual o filme baseado em origens de seitas religiosas não seria?

E o mais interessante de O Mestre é que mesmo se você não souber nada sobre L. Ron Hubbard ou sua Cientologia, o filme funciona e te envolve. Até porque nenhum dos dois nomes é citado na obra, somos nós que fazemos a relação. Principalmente ao sabermos que divulgadores da seita como Tom Cruise não gostaram do que viram. Na ficção, o Mestre é Lancaster Dodd, um homem que se auto-intitula escritor, médico, filósofo e físico nuclear. E suas ideias são divulgadas em uma seita chamada de A Causa, comanda por ele e sua família.

O MestreMas, o fio condutor da trama é mesmo o ex-combatente de guerra, Freddie Quell, vivido de maneira impressionante por Joaquin Phoenix. O ator, que chegou a fingir um afastamento da carreira, está visceral no papel de um homem com traumas de combate e problemas com o álcool. Mas, mais do que isso, sua relação com o personagem de Philip Seymour Hoffman, o mestre Dodd, é de uma intensidade emocionante, ainda que o olhar de Paul Thomas Anderson nos leve a observar tudo aquilo sob um ponto de vista crítico.

A polêmica, no entanto, não chega a ser completamente fundamentada já que o diretor/roteirista não chega a tomar partido sobre o que seria certo ou errado. O Mestre apenas investiga mais a fundo o surgimento de uma seita que se diz basear em ciência e filosofia, passando a realizar sessões de uma espécie de terapia com técnicas de estímulo de emoções e regressões a vidas passadas. O ponto crítico vem sob o olhar de personagens esporádicos que contestam as inconstâncias de algumas coisas como o próprio fato de Dodd não ser médico ou psicólogo para estar mexendo com isso, ou quando ele muda alguns preceitos em seu segundo livro ("lembre-se" para "imagine"). Isso sem falar de sua própria perda de controle em determinados momentos.

O MestreMas, mais do que seguir Dodd e seus pensamentos, o roteiro como já disse, segue Quell e seus traumas. O personagem mais inconstante da trama é também o ponto de apoio que o Mestre buscará, como um caso raro, um exemplo a ser investigado. E é interessante como os dois se ligam e se repelem de uma maneira tão extrema. Quell é alcoólista (o termo alcoólatra caiu em desuso) e mentalmente instável. Tem atitudes intempestivas, fabrica suas próprias bebidas, sabe-se lá com quais ingredientes e não pode ouvir ninguém criticar o seu mestre que já parte para a briga corpórea. Como pode ser um exemplo de centramento e libertação que A Seita promete a seus seguidores?

Mas, ainda que queria investigar surgimento de seitas comuns nos Estados Unidos e discutir um pouco do reenquadramento de soldados traumatizados de guerra no convívio comum, o ponto chave do filme de Paul Thomas Anderson está em uma frase de Philip Seymour Hoffman sobre O Mestre. Ele diz ao personagem de Joaquin Phoenix que se ele descobrisse uma forma de viver sem seguir um mestre, seja ele qual for, que o ensinasse.

O MestrePois é verdade, mesmo um ateu segue um mestre. O ser humano não é capaz de ser completamente livre e de fazer escolhas baseadas apenas em sua vontade interior. Estamos sempre buscando exemplos, pessoas que nos digam qual é o caminho, portos seguros. Porque precisamos de alguém para culpar, caso algo dê errado. E precisamos sempre acreditar que temos alguém olhando por nós, que não estamos sós nesse mundo. Por isso, é tão fácil criar grupos religiosos, gurus de auto-ajuda, mestres diversos. Estamos susceptíveis a isso.

O Mestre não é um filme que critica qualquer que seja a religião ou seita. É apenas uma obra que investiga, de maneira quase científica a condição humana. Nada é taxativo, nada é definitivo. Freddie Quell e Lancaster Dodd não são heróis nem bandidos. São seres humanos em seus processos evolutivos. Nada é definitivo, nada é por acaso e não há exploração de boa fé, apenas possibilidades. Quem somos nós para julgá-los?



O Mestre (The Master, 2012 / EUA)
Direção: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson
Com: Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix e Amy Adams
Duração: 144 min.

Comentários (18)

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Outro que quero muito ver! ;)
1 resposta · ativo 647 semanas atrás
Tomara que goste, Malu. É um belo filme mesmo.
Adorei seu texto, Amanda. "O Mestre" ainda não estreou aqui na minha cidade, mas estou bastante ansiosa para conferir ao filme, que me parece ter uma temática bem interessante, excluindo a polêmica na qual o filme está envolvido. Os longas de PT Anderson sempre são muito fortes e imperdíveis, com grandes performances. E, em "O Mestre", isso não parece ser diferente.
1 resposta · ativo 647 semanas atrás
Tomara que chegue por aí, Kamila, pois é mesmo um filme bem construído, envolvente e com ótimas atuações. Bem humano também.
Bela crítica Amanda! O seu recorte sobre essa frase de Dodd foi vital para a excelência de sua crítica e para a melhor compreensão, por parte do leitor, da força do pensamento de Paul Thomas Anderson. Um filme excepcional na abordagem, na linguagem, na estética e em tudo mais o que se possa considerar!
Bjs

PS: a seita é A causa, acho que vc trocou a palavra...
1 resposta · ativo 647 semanas atrás
Obrigada, Reinaldo, concordo, o filme é muito bem pensado e resolvido. Gostei bastante.

E obrigada pela correção, lapso meu. hehe.

bjs
Como todos os filmes de PTA, esse filme deve tem um forte impacto no enredo, parabéns a análise da Amanda também!

Nesse fim de semana recheado de premiações, talvez O Mestre seja uma melhor opção, já estou querendo ver como PTA conduziu um polêmico tema e as interpretaçoes de Phoenix e Seymour.
1 resposta · ativo 647 semanas atrás
Obrigada, Lucas. E uma pena que o logo esse filme não tenha sido indicado ao Oscar de Melhor Filme, mas as atuações estão muito bem contempladas. E sim, Paul Thomas Anderson é mestre nesse tipo de filme e emoção.
MARAVILHOSO Amanda! Filmaço e parabéns por mais um texto que faz jus a um grande filme.
hilip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix e Amy Adams, arrasam nos respectivos papéis. Concordo com você que o filme é mais uma investigação do ser humano, o fanático, sim e daí? O poder e a entrega. É a buscar por respostas...uma odisséia sombria da ciência e religião.

Bjs.
1 resposta · ativo 646 semanas atrás
Obrigada, Rodrigo. Pois é, é uma grande odisséia em busca da compreensão do ser humano, e feito de uma maneira tão competente que nos encanta.

bjs
Obra-prima. PTA dirige o filme com extrema simplicidade, deixando espaço para grandes atuações. Desde já, um dos melhores do ano.
1 resposta · ativo 646 semanas atrás
A forma como PTA discute e "investiga" (como você mesmo comentou) a condição humana (muito mais do que apenas uma obra que mostra a criação de uma 'seita') é bastante interessante. Como não sou muito fã de PTA acabou me chamando mesmo mais atenção a atuação dos protagonistas.

Gostei do filme, mas não consigo venerar os trabalhos deste cineasta, acho que a culpa foi aquela chuva de sapos.
1 resposta · ativo 646 semanas atrás
hahahahahaha, mas aquela chuva de sapos é genial, Márcio. E já tem pistas dele no filme, na citação à bíblia.

Quanto ao Mestre, realmente, as atuações chamam a atenção. Principalmente de Philip Seymour Hoffman e Joaquin Phoenix
Não sei o que foi, mas sai do filme com sensação de que não tinha entendido nada :/
1 resposta · ativo 645 semanas atrás
Que pena, Luís, eu gostei bastante do que vi, não achei confuso.
Belo filme, bela atuação, mas acho que Hugh Jackman foi ainda melhor, e Daniel Day-Lewis tem muitos méritos.

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