Em uma caverna vive a família Croods, onde o patriarca Grug é o exemplo do homem precavido. Seu lema é sempre ter medo e o novo nunca é bom. Assim, ele vai vivendo, escondido com sua família, nunca saindo à noite e sempre observando o mundo de uma maneira muito limitada. Isso irrita sua filha Eep que tem um espírito aventureiro e quer conhecer algo além das suas próprias paredes. Tudo piora quando ela conhece o jovem Guy que não apenas lhe apresenta outras perspectivas da vida, como o próprio fogo, mas também alerta que o mundo está "acabando" e é preciso fugir para as montanhas.
Um dos pontos altos da animação é como tudo é construído de uma forma bem humorada e com um roteiro inteligente. Há poesia na busca de Guy pelo mundo do amanhã. Isso me lembrou o poema de Khalil Gibran (Vossos filhos não são vossos filhos) que em determinado momento afirma "Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho". Uma metáfora de que os filhos são o futuro e os pais o passado, que não deixa de ter verdade. Mas, que Os Croods vem mostrar que não precisa ser algo determinista. A paixão de Eep pode desestruturar todas as certezas familiares e ajudar todos a vencer obstáculos. Ajudar a crescer. Qualquer pessoa é capaz de nos ensinar algo novo, até porque o mundo está em constante transformação.
Então, mesmo entre piadas e gags forçadas com caçadas atrapalhadas e outras caricaturas, Os Croods é uma animação que traz mesmo reflexões, possibilidades, camadas. É sobre a roda da vida. E o fato de escolher a pré-história, o momento do desmembramento de Pangeia não deixa de ser simbólico. É a denotação máxima de modificação do nosso planeta. O mundo deles, literalmente, estava em profunda transformação e era preciso se adaptar aos novos tempos. E a maneira divertida como isso é construído não deixa de chamar a atenção.
Temos várias piadinhas visuais como Os Croods discutindo enquanto caminham e os bichos da floresta tentando fechar os ouvidos. Ou o bichinho de estimação de Guy, Braço, que tem um bordão engraçadinho para preparar a tensão de algum momento ou revelação. Isso sem falar da própria caracterização da família, todos bastante primitivos e instintivos, principalmente na hora de comer. Destaque para a bebezinha que parece um cachorrinho que é solto na hora de caçar.
Visualmente, a animação também se destaca, nos dando ótimos momentos como a primeira vez em que Eep vê o fogo, ou quando Guy lhes apresenta as estrelas. A própria abertura do filme é muito bem feita, começando com pinturas nas cavernas que viram pó e aparece a marca da Dreamworks seguida de uma animação em 2D resumindo a apresentação. Há um bom ritmo na trama e detalhes bem construídos de bichos exóticos e cenários interessantes. Uma construção rica e repleta de cores, que acabam sendo em excesso, é verdade, nos dando um mundo quase irreal, mas faz parte do processo de descoberta de algo estranho, novo e assustador.
Os Croods - Uma Aventura das Cavernas é isso. Uma eterna descoberta. Uma trama sobre relações familiares, mas também uma viagem filosófica sobre o que é ser livre e para que serve a vida. Afinal, não estamos aqui para nos esconder em cavernas (físicas ou psicológicas) e ver tudo apenas através das aparências.
Os Croods - Uma Aventura das Cavernas (The Croods, 2013 / EUA)
Direção: Kirk De Micco, Chris Sanders
Roteiro: Chris Sanders, Kirk De Micco
Duração: 98 min.