A Lista de Schindler
08 de maio de 1945 é considerado o Dia da Vitória, foi nesse dia em que o exército alemão se rendeu na Segunda Guerra Mundial. Aproveito a data histórica para lembrar um filme que há muito queria falar por aqui: A Lista de Schindler.
Baseado no livro de Thomas Keneally, que narrou a história real de Oskar Schindler, esse filme de Steven Spielberg é uma verdadeira pérola que finalmente lhe rendeu um Oscar. Filmado em preto e branco, a trama narra a trajetória desse homem que, com a desculpa de criar uma fábrica para ganhar dinheiro, acabou salvando mais de mil judeus do holocausto. É emocionante acompanhar as artimanhas dele e seu contador Itzhak Stern, vivido por Ben Kingsley, para subornar e enganar os alemães em um jogo de estratégia muito bem realizado.
Claro que, como um homem inteligente e astuto, Schindler teve uma trajetória construída aos poucos. Ele queria se dar bem? Provavelmente. Seu começo é de um estrategista esperto, que com um presente ali e uma participação aqui, vai ganhando status no partido nazista. Depois, ele procura os judeus, que estão proibidos de manter comércios, e faz uma proposta indecorosa, mas que ao mesmo tempo é a única solução para aquele povo. Dar dinheiro para que Schindler monte sua fábrica, recebendo panelas em troca.
É interessante como Steven Spielberg vai nos mostrando a situação dos judeus se complicando aos poucos. Primeiro, eles não podiam ter comércio e tinham que andar com a faixa de estrela no braço, depois, foram perdendo suas casas, até que tiveram que se mudar para guetos murados e, por fim, os campos de concentração. Ver aquelas pessoas sem compreender o que está acontecendo com suas vidas, a esperança ainda de pequenas privações e o desespero a cada morte ou piora de suas condições de prisioneiros é tocante. E Spielberg sabe como ninguém como construir o melodrama que nos envolve e emociona.
Assim como o paralelo entre Oskar Schindler, interpretado com delicadeza por Liam Neeson, e Amon Goeth, interpretado por Ralph Fiennes com resquícios de crueldade. Os dois personagens são o extremo daquela situação, o humano e o desumano, o que se importa e o que não liga a mínima. O que salva e o que mata. Diversos momentos são construídos com montagens paralelas como os dois fazendo a barba, ou dançando com mulheres. E é interessante como, de certa forma, Schindler acaba domando Amon, manipulando-o sobre o que é o verdadeiro poder.
Mas, o que emocionou mesmo o mundo nesse filme foi a forma delicada e, ao mesmo tempo, crua de mostrar a realidade dos judeus durante a Segunda Guerra. Desde pequenos gestos como o operário maneta que agradece a Schindler para depois ser executado, há planos de revelações cruéis como as malas dos prisioneiros que vão para os campos sendo desfeitas e separadas por bens de valores. E isso sendo feito por próprios judeus. É um dos momentos simbólicos fortes do filme.
Diversos outros são tensos e sofridos, como a destruição do gueto ou as mulheres que vão por engano para Auschwitz. Mas, outro detalhe simbólico impresso por Spielberg foi que ficou mais famoso e comentado por todos. A garotinha de vestido vermelho. Claro, em um filme preto e branco, aquele elemento colorido, e ainda por cima, vermelho, só poderia trazer algo. É o elo emocional diante de milhares de judeus executados. É para nos marcar, nos fazer reconhecer e compreender o reconhecimento do personagem quando o vê na pilha dos mortos. Não foi a única criança a morrer, vide outra cena onde um caminhão de crianças é retirado do gueto, mas foi um marco para nos emocionar ainda mais.
A Lista de Schindler é daqueles filmes feitos para que não esqueçamos um dos maiores crimes da humanidade. Mas também para que saibamos que, diante do caos, teve um homem que fez a diferença para muitos, ainda que chorasse no final achando que poderia ter feito mais. Claro que essa cena pode ter sido o golpe de misericórdia de Steven Spielberg e que nunca tenha acontecido, mas não deixa de conseguir nos levar às lágrimas e pensar sobre o que realmente importa nessa vida.
A Lista de Schindler (Schindler's List, 1993 / EUA)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Steven Zaillian
Com: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes
Duração: 195 min.
Baseado no livro de Thomas Keneally, que narrou a história real de Oskar Schindler, esse filme de Steven Spielberg é uma verdadeira pérola que finalmente lhe rendeu um Oscar. Filmado em preto e branco, a trama narra a trajetória desse homem que, com a desculpa de criar uma fábrica para ganhar dinheiro, acabou salvando mais de mil judeus do holocausto. É emocionante acompanhar as artimanhas dele e seu contador Itzhak Stern, vivido por Ben Kingsley, para subornar e enganar os alemães em um jogo de estratégia muito bem realizado.
Claro que, como um homem inteligente e astuto, Schindler teve uma trajetória construída aos poucos. Ele queria se dar bem? Provavelmente. Seu começo é de um estrategista esperto, que com um presente ali e uma participação aqui, vai ganhando status no partido nazista. Depois, ele procura os judeus, que estão proibidos de manter comércios, e faz uma proposta indecorosa, mas que ao mesmo tempo é a única solução para aquele povo. Dar dinheiro para que Schindler monte sua fábrica, recebendo panelas em troca.
É interessante como Steven Spielberg vai nos mostrando a situação dos judeus se complicando aos poucos. Primeiro, eles não podiam ter comércio e tinham que andar com a faixa de estrela no braço, depois, foram perdendo suas casas, até que tiveram que se mudar para guetos murados e, por fim, os campos de concentração. Ver aquelas pessoas sem compreender o que está acontecendo com suas vidas, a esperança ainda de pequenas privações e o desespero a cada morte ou piora de suas condições de prisioneiros é tocante. E Spielberg sabe como ninguém como construir o melodrama que nos envolve e emociona.
Assim como o paralelo entre Oskar Schindler, interpretado com delicadeza por Liam Neeson, e Amon Goeth, interpretado por Ralph Fiennes com resquícios de crueldade. Os dois personagens são o extremo daquela situação, o humano e o desumano, o que se importa e o que não liga a mínima. O que salva e o que mata. Diversos momentos são construídos com montagens paralelas como os dois fazendo a barba, ou dançando com mulheres. E é interessante como, de certa forma, Schindler acaba domando Amon, manipulando-o sobre o que é o verdadeiro poder.
Mas, o que emocionou mesmo o mundo nesse filme foi a forma delicada e, ao mesmo tempo, crua de mostrar a realidade dos judeus durante a Segunda Guerra. Desde pequenos gestos como o operário maneta que agradece a Schindler para depois ser executado, há planos de revelações cruéis como as malas dos prisioneiros que vão para os campos sendo desfeitas e separadas por bens de valores. E isso sendo feito por próprios judeus. É um dos momentos simbólicos fortes do filme.
Diversos outros são tensos e sofridos, como a destruição do gueto ou as mulheres que vão por engano para Auschwitz. Mas, outro detalhe simbólico impresso por Spielberg foi que ficou mais famoso e comentado por todos. A garotinha de vestido vermelho. Claro, em um filme preto e branco, aquele elemento colorido, e ainda por cima, vermelho, só poderia trazer algo. É o elo emocional diante de milhares de judeus executados. É para nos marcar, nos fazer reconhecer e compreender o reconhecimento do personagem quando o vê na pilha dos mortos. Não foi a única criança a morrer, vide outra cena onde um caminhão de crianças é retirado do gueto, mas foi um marco para nos emocionar ainda mais.
A Lista de Schindler é daqueles filmes feitos para que não esqueçamos um dos maiores crimes da humanidade. Mas também para que saibamos que, diante do caos, teve um homem que fez a diferença para muitos, ainda que chorasse no final achando que poderia ter feito mais. Claro que essa cena pode ter sido o golpe de misericórdia de Steven Spielberg e que nunca tenha acontecido, mas não deixa de conseguir nos levar às lágrimas e pensar sobre o que realmente importa nessa vida.
A Lista de Schindler (Schindler's List, 1993 / EUA)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Steven Zaillian
Com: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes
Duração: 195 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Lista de Schindler
2013-05-08T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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