
Os
irmãos Coen tem mesmo um jeito particular de escrever seus roteiros. O universo sempre flerta com algo do
surrealismo e com uma
crítica ácida à sociedade. O problema é que eles se acostumaram a escrever para eles mesmo, e ver um texto assinado por outro diretor pode tornar as coisas não tão geniais. De qualquer maneira,
Um Golpe Perfeito, é daqueles
filmes que começa bem e vai perdendo o ritmo, e isso não é só problema na direção, mas no próprio texto que não se sustenta e também no elenco, principalmente
Colin Firth, que não parece à vontade no papel.
Colin Firth é um grande ator, já se deu bem em
drama e em
comédia, mas algo na construção do Harry Deane não funciona. Não conseguimos simpatizar com o personagem, nem torcer por ele em seu
golpe. Um homem atrapalhado, que quer "se dar bem", diante de seu chefe, o excêntrico Lionel Shahbandar, vivido por
Alan Rickman também no piloto automático. Talvez com algum eco de referência em Miranda Priestly (O Diabo Veste Prada), mas nada que chame muito a atenção. A personagem estereotipada de
Cameron Diaz até funciona, talvez dando um pouco de
graça ao trio. Mas, único personagem que realmente chama a atenção é o Major, vivido pelo ator
Tom Courtenay, pena que suas participações sejam tão pontuais. É ele o falsário que irá reproduzir um quadro de
Monet para ser vendido como original a Lionel Shahbandar.
O
filme, como disse, começa bem. Temos uma apresentação eficiente com uma abertura que lembra as
comédias dos anos 60. Aliás, é bom ressaltar que Gambit é um remake de um
filme dos anos 60, que aqui no Brasil ganhou o título de
Como Possuir Lissu. A trama, no entanto, tem modificações significativas já que lá não era uma obra de arte, mas uma mulher o objeto do
golpe. A apresentação do plano também é bastante eficiente, ágil e divertida. Com uma trilha marcada, também ao estilo dos
filmes da década citada, com um clima de sofisticação e ironia ao mesmo tempo. O problema é que, à medida que a trama se desenrola, a criatividade parece que vai perdendo fôlego e somos obrigados a ver uma sucessão de situações pastelão com o ator errado.

É repetitivo, por exemplo, ver
Colin Firth levar socos por aí, principalmente do seu vizinho. Assim como cansa sua jornada na sacada do hotel, quartos e armários de paletó e cueca. Sua questão financeira também gera
piadas forçadas como a conta no hotel. Se ela foi trocada de quarto, não fez
check out? Mas, não são apenas as situações que envolvem o personagem que se tornam tolas e cansativas, vide o grupo de japoneses sem noção que querem fazer
Alan Rickman de idiota. Ou mesmo toda a situação do
golpe, nisso inclui-se o outro especialista em artes, vivido por
Stanley Tucci.

Na verdade, falta alma a
Um Golpe Perfeito. A alma das boas
comédias que sabem utilizar as situações e deslocá-las do senso de
ridículo, tornando tudo risível. Fala o ritmo das piadas bem contadas que nos envolvem e surpreendem. Falta a inteligência de dizer a coisa certa no momento certo. Ainda que algumas tentativas sejam feitas, a exemplo de quando o recepcionista entra no quarto da senhora e
Colin Firth está sentado lendo jornal. Uma das cenas mais divertidas do
filme, até pelo senso de humor do que o recepcionista faz e ainda sai dizendo "essas camareiras parece que bebem". Esse tipo de ironia que os
irmãos Coen sempre souberam ter e que fica faltando na trama. As observações perspicazes em momentos oportunos.
Acaba sendo um
filme frágil, onde é possível algumas
risadas, mas onde prevalece o vazio. Uma pena que a reunião de tantos talentos tenha resultado em algo
medíocre e esquecível.
Um Golpe Perfeito (Gambit, 2012 / EUA)
Direção: Michael Hoffman
Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen
Com: Colin Firth, Cameron Diaz, Stanley Tucci, Alan Rickman, Tom Courtenay
Duração: 89 min