Náufrago
Robert Zemeckis marcou época com sua trilogia De Volta Para O Futuro. Além de "clássicos" da Sessão da Tarde como Tudo Por Um Esmeralda e A Morte lhe Cai Bem. Mas, ainda que o meu preferido do diretor seja Contato, foi com Tom Hanks que ele alcançou um status maior na carreira, ao apresentar ao mundo Forrest Gump, o Contador de Histórias. Seis ano depois, eles tentaram repetir a parceria em Náufrago, mas apesar de um filme bem feito, acaba sendo cansativo.
A trama gira em torno de Chuck Noland, um funcionário exemplar da empresa FedEx, obcecado pelo tempo e pelo cumprimento de prazos. Logo no início do filme, vemos um discurso dele para os novos funcionários russos, falando sobre isso. Porém, Chuck acaba se envolvendo em um acidente de avião próximo ao natal e vai parar em uma ilha deserta onde tem que aprender a sobreviver sozinho.
O filme é construído de uma maneira extremamente realista, nos envolvendo em cada detalhe e nos deixando curiosos. Porém, a longa duração, são mais de duas horas, e o detalhismo dos momentos na ilha acabam o tornando cansativo. Não que o filme se torne ruim. Pelo contrário, é muito bem feito, mas não nos dá vontade de rever na íntegra por exemplo. Boa parte da projeção é demonstrando as dificuldade de Chuck na ilha, desde coisas simples como abrir um coco, quanto tentar produzir fogo com dois pedaços de madeira.
Chama a atenção a interpretação de Tom Hanks que segura, praticamente sozinho, toda a projeção. Atuar nas condições em que ele atuou, sozinho boa parte do tempo, não é mesmo fácil. E o ator consegue nos manter atentos, passando todo o drama do seu personagem e sua luta por sobrevivência. Mais do que isso, sua luta para não enlouquecer. É nesse ponto que entra o segundo personagem fundamental do filme, que precisa também de um trabalho maior de Tom Hanks, a bola de vôlei Wilson.
É sabido que o homem não pode viver só. Está na Bíblia e em todos os livros de psicologia. Viver por quatro anos em uma ilha deserta sozinho enlouqueceria qualquer um. A forma com ele encontra para sua mente sobreviver é criar o companheiro. A bola Wilson se torna uma espécie de "sexta-feira", o índio companheiro de Robinson Crusoé. E é impressionante como acabamos construindo também o elo com ele, como um personagem mesmo. Nos importando com o seu "destino". A interpretação de Tom Hanks quando se irrita com algo que Wilson "diz" e o joga de um penhasco para depois correr desesperado pelo mar procurando o amigo, é incrível.
E a marca Wilson acaba se tornando a mais lembrada no filme, ainda que a FedEx seja o mote principal do roteiro. Chuck Noland já era um funcionário exemplar e a forma como ele reluta em abrir as caixas de encomendas na ilha, guardando-as na esperança de ser resgatado e entregá-las, é tocante. Assim como ao abrir e deixar apenas uma fechada, ele consegue um objetivo de vida. Que é outra necessidade do ser humano para não enlouquecer nem se entregar à depressão. Precisamos ter objetivos e acreditar que nossa vida vale a pena. Sem isso, fica difícil acordar todos os dias. De qualquer maneira, são dois ótimos exemplos de inserção de marca que funciona em conjunto com a narrativa. Não incomoda o espectador e não parece gratuita. Até porque a necessidade delas surgiu primeiro do roteiro e não de uma negociação comercial.
De qualquer maneira, Náufrago é um filme que marcou a carreira de Robert Zemeckis, que partiu para animações depois dele, só retornando ao live action recentemente em O Voo. Assim como marcou Tom Hanks, que não ganhou seu terceiro Oscar pelo papel, mas foi indicado e ganhou outros prêmios como o Globo de Ouro. Um filme que envelheceu, no entanto, e é mais lembrado como case de publicidade do que como cinema. Ainda que continue sendo um filme muito bem executado.
Náufrago (Cast Away, 2000 / EUA)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: William Broyles Jr.
Com: Tom Hanks, Helen Hunt, Paul Sanchez
Duração: 143 min.
A trama gira em torno de Chuck Noland, um funcionário exemplar da empresa FedEx, obcecado pelo tempo e pelo cumprimento de prazos. Logo no início do filme, vemos um discurso dele para os novos funcionários russos, falando sobre isso. Porém, Chuck acaba se envolvendo em um acidente de avião próximo ao natal e vai parar em uma ilha deserta onde tem que aprender a sobreviver sozinho.
O filme é construído de uma maneira extremamente realista, nos envolvendo em cada detalhe e nos deixando curiosos. Porém, a longa duração, são mais de duas horas, e o detalhismo dos momentos na ilha acabam o tornando cansativo. Não que o filme se torne ruim. Pelo contrário, é muito bem feito, mas não nos dá vontade de rever na íntegra por exemplo. Boa parte da projeção é demonstrando as dificuldade de Chuck na ilha, desde coisas simples como abrir um coco, quanto tentar produzir fogo com dois pedaços de madeira.
Chama a atenção a interpretação de Tom Hanks que segura, praticamente sozinho, toda a projeção. Atuar nas condições em que ele atuou, sozinho boa parte do tempo, não é mesmo fácil. E o ator consegue nos manter atentos, passando todo o drama do seu personagem e sua luta por sobrevivência. Mais do que isso, sua luta para não enlouquecer. É nesse ponto que entra o segundo personagem fundamental do filme, que precisa também de um trabalho maior de Tom Hanks, a bola de vôlei Wilson.
É sabido que o homem não pode viver só. Está na Bíblia e em todos os livros de psicologia. Viver por quatro anos em uma ilha deserta sozinho enlouqueceria qualquer um. A forma com ele encontra para sua mente sobreviver é criar o companheiro. A bola Wilson se torna uma espécie de "sexta-feira", o índio companheiro de Robinson Crusoé. E é impressionante como acabamos construindo também o elo com ele, como um personagem mesmo. Nos importando com o seu "destino". A interpretação de Tom Hanks quando se irrita com algo que Wilson "diz" e o joga de um penhasco para depois correr desesperado pelo mar procurando o amigo, é incrível.
E a marca Wilson acaba se tornando a mais lembrada no filme, ainda que a FedEx seja o mote principal do roteiro. Chuck Noland já era um funcionário exemplar e a forma como ele reluta em abrir as caixas de encomendas na ilha, guardando-as na esperança de ser resgatado e entregá-las, é tocante. Assim como ao abrir e deixar apenas uma fechada, ele consegue um objetivo de vida. Que é outra necessidade do ser humano para não enlouquecer nem se entregar à depressão. Precisamos ter objetivos e acreditar que nossa vida vale a pena. Sem isso, fica difícil acordar todos os dias. De qualquer maneira, são dois ótimos exemplos de inserção de marca que funciona em conjunto com a narrativa. Não incomoda o espectador e não parece gratuita. Até porque a necessidade delas surgiu primeiro do roteiro e não de uma negociação comercial.
De qualquer maneira, Náufrago é um filme que marcou a carreira de Robert Zemeckis, que partiu para animações depois dele, só retornando ao live action recentemente em O Voo. Assim como marcou Tom Hanks, que não ganhou seu terceiro Oscar pelo papel, mas foi indicado e ganhou outros prêmios como o Globo de Ouro. Um filme que envelheceu, no entanto, e é mais lembrado como case de publicidade do que como cinema. Ainda que continue sendo um filme muito bem executado.
Náufrago (Cast Away, 2000 / EUA)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: William Broyles Jr.
Com: Tom Hanks, Helen Hunt, Paul Sanchez
Duração: 143 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Náufrago
2013-08-27T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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