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Ensina-me a Viver

 Ensina-me a ViverEu que tanto reclamo dos títulos nacionais dos filmes, tenho que começar falando que gosto muito deste. O filme de Hal Ashby é sobre Harold e Maude, é verdade, mas Ensina-me a Viver tem uma tradução profunda e poética do que vemos em tela. E nessa época pré-natalina, resolvi resgatar sua mensagem.

A trama gira em torno do garoto Harold. Um jovem depressivo, que vive pregando peças em sua mãe, fingindo suicídios. Fora isso, seu único passatempo é frequentar velórios. E é em um deles que conhece uma senhora bastante atípica. Maude vive sob suas próprias regras e emana uma energia que conquista o garoto aos poucos. Ou seja, ela o ensina não apenas a viver, como a gostar e ver sentido na vida.

 Ensina-me a ViverQuando foi lançado, o filme não chamou a atenção do público e foi bastante criticado pela imprensa especializada. Mas, o filme teve uma segunda chance, foi redescoberto, tanto que o texto foi para a Broadway, teve outras versões e ainda hoje é uma peça encenada pelo mundo, inclusive no Brasil que teve uma versão recente com Glória Menezes.

Uma das coisas que chama a atenção no filme é a forma como Hal Ashby brinca com a montagem da trama. Quando, por exemplo, a mãe de Harold diz que ele precisa se casar, a próxima cena começa com um plano detalhe de um altar de uma igreja. Só depois revela que é mais um velório onde o garoto está. Porém, quando a gente pensa que era apenas uma brincadeira irônica, vem um plus. É neste velório que Maude conversa com Harold pela primeira vez.

 Ensina-me a ViverA cena inicial também é muito bem cuidada. O garoto se prepara para um suicídio, sobe em uma cadeira, coloca uma corda no pescoço e se joga. Quando a mãe entra e não dá atenção àquilo, falando com ele como se ele estivesse deitado vendo televisão, muitas coisas são passadas. Ali, naquela única cena, ficamos conhecendo Harold, seu humor, seu hábito e o motivo de tudo aquilo: sua mãe.

A cena em que ela preenche a lista do programa matrimonial por ele é outra extremamente simbólica. Ela começa preenchendo como se fosse ele e vai gradualmente substituindo por ela. No final, já nem percebe ele ali na sala, nem diz mais "você gosta disso, né, Harold?". Ela simplesmente assume o lugar do entrevistado.

 Ensina-me a ViverCom essas duas cenas e mais a cena em que Harold conta para Maude da primeira vez em que "morreu", nem precisa das sessões de psicanálise do garoto para entendê-lo profundamente. Sua essência, seu drama, suas necessidades. Não por acaso, ele se envolve e se apaixona por uma mulher que tem idade para ser sua avó. Mas, não é por causa do complexo de Édipo como supõe o psicanalista. Mas, porque ela foi a única pessoa que realmente o enxergou e lhe mostrou outro lado.

E não deixa de ser irônico quando ele percebe um pequeno detalhe no braço dela, que pode explicar muito dos seus comportamentos diante da vida. Maude deixa de ser um mistério, uma senhora maluquinha, para se tornar um ser humano extremamente belo.

Ensina-me a Viver não se tornou um clássico por acaso. Ele chuta as convenções, os preconceitos e nos apresenta uma história honesta sobre o encontro de almas. Um filme que inspira a sermos melhores e apreciarmos as boas coisas que passam por nós. Quem sabe até, procurar tocar um instrumento para nos dar ritmo à vida.


Ensina-me a Viver (Harold and Maude, 1971 / EUA)
Direção: Hal Ashby
Roteiro: Colin Higgins
Com: Ruth Gordon, Bud Cort, Vivian Pickles
Duração: 91 min.

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