Primeiro filme stop motion longametragem feito no Brasil. Só por isso, Minhocas já deveria gerar curiosidade e ser prestigiado em seu esforço. Ainda mais por ser ampliação do universo do curta-metragem de mesmo nome feito em 2005 e que ganhou diversos prêmios por onde passou. Mesmo se não fosse por tudo isso, Paolo Conti e Arthur Nunes conseguem, de fato, apresentar um bom filme infantil.A trama gira em torno da minhoca Junior, um adolescente que sofre pelos mimos da mãe que sempre lhe dá tudo. Digo sofre porque isso o faz ser alvo de piadas na turma, ainda mais por ele ser um péssimo jogador de minhocobol. Sem nunca desistir e fã da minhoca de Mister Jumping, um astro do salto. Tentando imitar o ídolo, Júnior acaba sendo levado à superfície e terá que enfrentar um grande vilão que tenta se vingar de todas as minhocas do mundo.
A trama é infantil, é verdade, traz vários clichês e tem algumas soluções bobas. Mas, no geral, é um roteiro muito bem cuidado. Com personagens interessantes e algumas camadas dentro da trama que podem agradar inclusive aos adultos. Ao contrário de tramas tolas com diálogos pouco criativos como foi a animação Grilo Feliz, por exemplo.
O filme faz piadas sutis e algumas brincadeiras como quando aparece um pato de borracha e Junior grita: "Patolailama, você existe?" Ou quando ele está em um momento crítico e grita "eu preciso de uma luz", e os seres humanos do galpão apagam a luz para ir embora. São detalhes que demonstram um cuidado a mais com a história que estão contando e não apenas uma desculpa para um exercício de animação. E por falar em animação, o stop motion está muito bom para uma primeira tentativa. A direção de arte dos bonecos é muito bem feita, os cenários, os detalhes dos objetos. Tudo muito bem cuidado e detalhado. A animação em si, tem problemas, é como se a imagem flicasse naquele processo típico dos antigos stop motions, bem diferente do que vimos em Frankenweenie de Tim Burton, onde todos os movimentos pareciam mais fluídos.
O cuidado com história passa ainda pelas referências, como os zumbis, as mensagens subliminares, a luta das minorias, o bullying, os valores da amizade. Minhocas se utiliza de nossas referências de mundo e gêneros de filmes para brincar em seu próprio universo. A dublagem também tem seu charme, principalmente Daniel Boaventura que empresta sua voz ao vilão Big Wig e ao ídolo Mister Jumping. Ao mesmo tempo que pode parecer uma economia de dublador, podemos interpretar também como uma mensagem subliminar da essência dos dois personagens, da forma como se complementam e em que diferem. Outras vozes famosas aparecem na trama como Rita Lee, Anderson Silva e Duda Espinoza.
No final, Minhocas é uma surpresa mais do que agradável. Um filme divertido e envolvente, ainda que mantenha sua temática infantil. Não se deixem levar pelo preconceito por ser uma animação nacional. Mas, claro, também não espere a Pixar em seus melhores momentos.
Minhocas (Minhocas, 2013 / Brasil)
Direção: Paolo Conti, Arthur Nunes
Roteiro: Marcos Bernstein, Melanie Dimantas, Thomas LaPierre, Romeu di Sessa
Duração: 82 min
