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Lea Seydoux
Salim Kechiouche
Azul é a Cor Mais Quente
Azul é a Cor Mais Quente
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes deste ano, Azul é a Cor Mais Quente gerou muitas polêmicas por onde passou. Cenas tórridas entre duas mulheres, com riqueza de detalhes nas cenas, era o incômodo alegado pelas plateias. Mas, é bom deixar claro que o filme não é apenas isso. Apesar de também não ser a obra-prima que alguns alegam.
O filme é baseado na HQ de Julie Maroh que leva o mesmo nome do título em português. Ao contrário do título original do filme que se chama A Vida de Adele. Ambos, neste caso, resolvem bem a trama. De fato, acompanhamos a vida de Adele por toda a projeção, nunca desgrudamos dela, não há cena sem a sua presença. E o azul é a cor do cabelo de Emma que chama a atenção de Adele, assim como é a cor predominante na direção de arte do filme. E por ser uma cor fria, chamá-la de a mais quente não deixa de ser uma antífrase interessante.
Emma chama a atenção de Adele, quando ela ainda nem sabe o que se passa com ela, nem o porquê daquilo. Talvez por ser exótico, a atraia. Não a deixe parar de pensar naquilo. A faça ter fantasias eróticas e até mesmo pensar que pode ser homossexual. Porque esta é uma questão incompleta no filme. A sexualidade de Adele é algo sem rótulos, à primeira vista, mas ao mesmo tempo, repleta de preconceitos.
Ela começa o filme sendo paquerada por um garoto da turma, nitidamente não sente prazer com ele, apenas se deixa levar. Depois que vê Emma na rua, é assediada por uma colega e parece gostar. Poderíamos dizer que seja homossexual ou esteja muito curiosa com esse mundo. Porém, depois, seu desejo parece não ser por mulheres, e sim por Emma. Tanto que posteriormente, é com homens que volta a se relacionar.
E no momento em que Adele não é uma menina se descobrindo homossexual, mas uma garota que se apaixona por outra, incomoda que o perfil construído para Emma seja tão masculinizado. Assim como a da primeira namorada da moça, que é ainda mais masculina. Como se ser homossexual as tornasse desleixadas com a aparência, menos femininas. Parece um preconceito tão grande quanto a "amiga" de Adele dizer que ela não dorme mais na casa dela, nem toca nela, na ridícula discussão na porta do colégio.
Ainda assim, Abdellatif Kechiche é hábil na construção de sua obra. Há detalhes interessantes como o azul predominante já citado. Até a amiga de Adele que a beija na escada tem unhas azuis, por exemplo. Da mesma forma que a própria Adele começa a usar bastante a cor. Ela está também nos cenários, nos detalhes das portas, no tom da luz em momentos chaves. Um jogo de símbolos imagéticos muito melhor do que a explicitação do tema, quando ele monta a primeira cena de sexo das duas com uma parada gay.
É interessante também como ele constrói o mundo de Adele, seus pais, suas crenças, o foco em arrumar um trabalho, enquanto Emma é uma artista sempre buscando ampliar seus horizontes. Os dois jantares em família são bastante reveladores nesse quesito. Seja Adele jantando na casa da família de Emma. Ou Emma na casa da família de Adele. O foco das conversas é sempre a visita e suas escolhas profissionais, demonstrando bem o contraste de pensamentos dos dois núcleos.
De qualquer maneira, Azul é a Cor Mais Quente não é um filme sobre homossexualidade. É uma história de uma paixão intensa, quase uma obsessão, que nos envolve e cria empatia, mesmo com todas as reveses. O problema maior fica por conta da duração. Não que seja cansativo, curiosamente acaba sendo fluído, porém, há uma sensação de excesso, de ir além do que precisava, de uma tentativa de esticar o momento. Não era preciso três horas para contar esta história.
Um filme belo, bem cuidado, com boas atuações, mas que traz os seus excessos e até mesmo um preconceito velado.
Azul é a Cor Mais Quente (La vie d'Adèle, 2013 / França, Bélgica e Espanha)
Direção: Abdellatif Kechiche
Roteiro: Abdellatif Kechiche e Ghalia Lacroix
Com: Léa Seydoux, Adèle Exarchopoulos, Salim Kechiouche
Duração: 179 min.
O filme é baseado na HQ de Julie Maroh que leva o mesmo nome do título em português. Ao contrário do título original do filme que se chama A Vida de Adele. Ambos, neste caso, resolvem bem a trama. De fato, acompanhamos a vida de Adele por toda a projeção, nunca desgrudamos dela, não há cena sem a sua presença. E o azul é a cor do cabelo de Emma que chama a atenção de Adele, assim como é a cor predominante na direção de arte do filme. E por ser uma cor fria, chamá-la de a mais quente não deixa de ser uma antífrase interessante.
Emma chama a atenção de Adele, quando ela ainda nem sabe o que se passa com ela, nem o porquê daquilo. Talvez por ser exótico, a atraia. Não a deixe parar de pensar naquilo. A faça ter fantasias eróticas e até mesmo pensar que pode ser homossexual. Porque esta é uma questão incompleta no filme. A sexualidade de Adele é algo sem rótulos, à primeira vista, mas ao mesmo tempo, repleta de preconceitos.
Ela começa o filme sendo paquerada por um garoto da turma, nitidamente não sente prazer com ele, apenas se deixa levar. Depois que vê Emma na rua, é assediada por uma colega e parece gostar. Poderíamos dizer que seja homossexual ou esteja muito curiosa com esse mundo. Porém, depois, seu desejo parece não ser por mulheres, e sim por Emma. Tanto que posteriormente, é com homens que volta a se relacionar.
E no momento em que Adele não é uma menina se descobrindo homossexual, mas uma garota que se apaixona por outra, incomoda que o perfil construído para Emma seja tão masculinizado. Assim como a da primeira namorada da moça, que é ainda mais masculina. Como se ser homossexual as tornasse desleixadas com a aparência, menos femininas. Parece um preconceito tão grande quanto a "amiga" de Adele dizer que ela não dorme mais na casa dela, nem toca nela, na ridícula discussão na porta do colégio.
Ainda assim, Abdellatif Kechiche é hábil na construção de sua obra. Há detalhes interessantes como o azul predominante já citado. Até a amiga de Adele que a beija na escada tem unhas azuis, por exemplo. Da mesma forma que a própria Adele começa a usar bastante a cor. Ela está também nos cenários, nos detalhes das portas, no tom da luz em momentos chaves. Um jogo de símbolos imagéticos muito melhor do que a explicitação do tema, quando ele monta a primeira cena de sexo das duas com uma parada gay.
É interessante também como ele constrói o mundo de Adele, seus pais, suas crenças, o foco em arrumar um trabalho, enquanto Emma é uma artista sempre buscando ampliar seus horizontes. Os dois jantares em família são bastante reveladores nesse quesito. Seja Adele jantando na casa da família de Emma. Ou Emma na casa da família de Adele. O foco das conversas é sempre a visita e suas escolhas profissionais, demonstrando bem o contraste de pensamentos dos dois núcleos.
De qualquer maneira, Azul é a Cor Mais Quente não é um filme sobre homossexualidade. É uma história de uma paixão intensa, quase uma obsessão, que nos envolve e cria empatia, mesmo com todas as reveses. O problema maior fica por conta da duração. Não que seja cansativo, curiosamente acaba sendo fluído, porém, há uma sensação de excesso, de ir além do que precisava, de uma tentativa de esticar o momento. Não era preciso três horas para contar esta história.
Um filme belo, bem cuidado, com boas atuações, mas que traz os seus excessos e até mesmo um preconceito velado.
Azul é a Cor Mais Quente (La vie d'Adèle, 2013 / França, Bélgica e Espanha)
Direção: Abdellatif Kechiche
Roteiro: Abdellatif Kechiche e Ghalia Lacroix
Com: Léa Seydoux, Adèle Exarchopoulos, Salim Kechiouche
Duração: 179 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Azul é a Cor Mais Quente
2013-12-16T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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