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Grandes Cenas: Crepúsculo dos Deuses
Grandes Cenas: Crepúsculo dos Deuses
Crepúsculo dos Deuses está na lista dos meus filmes preferidos. Billy Wilder conseguiu construir aqui um clássico inesquecível que nos prende desde o primeiro segundo, com aquela cena de um corpo boiando na piscina e o narrador em voz over anunciando se tratar dele próprio, o roteirista Joe Gillis, vivido por William Holden.
A cena que trago para análise hoje é o final do filme. Não precisa avisar que tem SPOILER aqui, né? O filme é incrível em todos os aspectos, no entanto, essa é uma das soluções mais geniais para uma história com final inevitavelmente trágico. Não deixa de ser uma reviravolta, e uma saída bastante plausível e satisfatória para dar a Norma Desmond um final digno diante de sua loucura e desespero.
Norma era a estrela do cinema mudo, que estava sofrendo em seu esquecimento. "Não fui eu quem diminuiu, foram os filmes que ficaram menores", rebatia ela. Em seu sonho de voltar às telas, ela prende o roteirista endividado, Joe Gillis em sua mansão, se apaixona por ele, sente-se traída e o mata na piscina. Seria presa, não resta dúvidas. Mas, seu fiel mordomo Max von Mayerling não vai deixar a musa sair de cena de forma tão deprimente.
Aí vem a tal grande sequência final, com Norma em seu delírio achando que está filmando a primeira tomada de Salomé, descendo as escadas para se apresentar ao público. É belo, forte e inesquecível.
Começa com ela sendo escoltada do quarto, ela está em primeiro plano com um olhar perdido, a câmera faz uma panorâmica e vemos a multidão de fotógrafos tentando uma declaração. Neste momento, Norma fica pequena, no meio da confusão, até que ouvimos a voz de Max mandando todos fazerem silêncio. A câmera mostra Max e um assistente de câmera posicionando a filmadora na direção de Norma.
A câmera volta a mostrar Norma, ainda no meio dos policiais e fotógrafos. Apesar do plano já estar sendo construído, ela ainda não está composta na cena, ainda é a mulher louca que será presa. Volta novamente para Max que pergunta: "Você está pronta, Norma?" Neste ponto, a câmera já não volta pegando-a de costas no meio dos policiais, mas mostra o ponto de vista de Max, em um quase contra-plongée, deixando Norma maior, ainda que os demais continuem ao seu redor, focados.
Ela quer saber o que é a cena. Max explica que é a escadaria do palácio. Norma se recompõe, entra no delírio da cena. Ela é a princesa Salomé, todos a esperam e a cena é apenas descer as escadas. Ao assumir essa postura, uma aura a domina. Ela fica maior que tudo aquilo. Todos, policiais, repórteres, empregados e curiosos param para vê-la descer.
Vários elementos ajudam na construção do impacto desta cena. Todos parados, quase estátuas, enquanto Norma desfila. A luz que cria uma sombra dura na parede, ampliando não apenas Norma, mas os próprios policiais, lembrando a nós, espectadores que a ameaça ainda é forte. E a música pomposa que lembra mesmo os tons da época retratada. E por fim, a narração de Joe Gillis reforçando que finalmente as câmeras se viraram para Norma Desmond.
Ao chegar ao final da escada, ela pára. Sorri, pede desculpas e fala da felicidade que é voltar aos estúdios. Ela está centralizada na tela, reparamos apenas nela e seu discurso. Até a nós ela se dirige, "as pessoas maravilhosas lá no escuro", olhando diretamente para a câmera, não a de Max, mas a do próprio filme. E é para esta câmera que ela irá se dirigir para o close final.
E é sensacional que o close vai sendo desfocado aos poucos. Ao mesmo tempo que Norma se aproxima de nós, ela vai sumindo, como uma imagem etérea que se desfaz no espaço e no tempo. Esses seres incríveis que já estiveram no topo do mundo e que caem no esquecimento de uma maneira tão cruel. O título em português do filme é bastante feliz ao explicitar este crepúsculo dos deuses. Ainda que Sunset Boulevard carregue o significado do que a rua representa para Hollywood, e seja, claro, o local onde Norma mantém sua mansão. De qualquer maneira, esta cena é a simbologia maior de tudo isso.
A cena que trago para análise hoje é o final do filme. Não precisa avisar que tem SPOILER aqui, né? O filme é incrível em todos os aspectos, no entanto, essa é uma das soluções mais geniais para uma história com final inevitavelmente trágico. Não deixa de ser uma reviravolta, e uma saída bastante plausível e satisfatória para dar a Norma Desmond um final digno diante de sua loucura e desespero.
Norma era a estrela do cinema mudo, que estava sofrendo em seu esquecimento. "Não fui eu quem diminuiu, foram os filmes que ficaram menores", rebatia ela. Em seu sonho de voltar às telas, ela prende o roteirista endividado, Joe Gillis em sua mansão, se apaixona por ele, sente-se traída e o mata na piscina. Seria presa, não resta dúvidas. Mas, seu fiel mordomo Max von Mayerling não vai deixar a musa sair de cena de forma tão deprimente.
Aí vem a tal grande sequência final, com Norma em seu delírio achando que está filmando a primeira tomada de Salomé, descendo as escadas para se apresentar ao público. É belo, forte e inesquecível.
Começa com ela sendo escoltada do quarto, ela está em primeiro plano com um olhar perdido, a câmera faz uma panorâmica e vemos a multidão de fotógrafos tentando uma declaração. Neste momento, Norma fica pequena, no meio da confusão, até que ouvimos a voz de Max mandando todos fazerem silêncio. A câmera mostra Max e um assistente de câmera posicionando a filmadora na direção de Norma.
A câmera volta a mostrar Norma, ainda no meio dos policiais e fotógrafos. Apesar do plano já estar sendo construído, ela ainda não está composta na cena, ainda é a mulher louca que será presa. Volta novamente para Max que pergunta: "Você está pronta, Norma?" Neste ponto, a câmera já não volta pegando-a de costas no meio dos policiais, mas mostra o ponto de vista de Max, em um quase contra-plongée, deixando Norma maior, ainda que os demais continuem ao seu redor, focados.
Ela quer saber o que é a cena. Max explica que é a escadaria do palácio. Norma se recompõe, entra no delírio da cena. Ela é a princesa Salomé, todos a esperam e a cena é apenas descer as escadas. Ao assumir essa postura, uma aura a domina. Ela fica maior que tudo aquilo. Todos, policiais, repórteres, empregados e curiosos param para vê-la descer.
Vários elementos ajudam na construção do impacto desta cena. Todos parados, quase estátuas, enquanto Norma desfila. A luz que cria uma sombra dura na parede, ampliando não apenas Norma, mas os próprios policiais, lembrando a nós, espectadores que a ameaça ainda é forte. E a música pomposa que lembra mesmo os tons da época retratada. E por fim, a narração de Joe Gillis reforçando que finalmente as câmeras se viraram para Norma Desmond.
Ao chegar ao final da escada, ela pára. Sorri, pede desculpas e fala da felicidade que é voltar aos estúdios. Ela está centralizada na tela, reparamos apenas nela e seu discurso. Até a nós ela se dirige, "as pessoas maravilhosas lá no escuro", olhando diretamente para a câmera, não a de Max, mas a do próprio filme. E é para esta câmera que ela irá se dirigir para o close final.
E é sensacional que o close vai sendo desfocado aos poucos. Ao mesmo tempo que Norma se aproxima de nós, ela vai sumindo, como uma imagem etérea que se desfaz no espaço e no tempo. Esses seres incríveis que já estiveram no topo do mundo e que caem no esquecimento de uma maneira tão cruel. O título em português do filme é bastante feliz ao explicitar este crepúsculo dos deuses. Ainda que Sunset Boulevard carregue o significado do que a rua representa para Hollywood, e seja, claro, o local onde Norma mantém sua mansão. De qualquer maneira, esta cena é a simbologia maior de tudo isso.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Crepúsculo dos Deuses
2013-12-05T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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