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Os Incompreendidos
Os Incompreendidos
Graças ao Festival Varilux, pudemos conferir no cinema o marco do movimento Nouvelle Vague em versão restaurada. Bem melhor que as antigas VHS com problemas na imagem. Os Incompreendidos é o primeiro filme do diretor François Truffaut, primeiro também com o personagem Antoine Doinel, que ele usaria em outros quatro filmes. Uma espécie de alter ego seu e também uma certa metáfora do momento em que o cinema vivia.
Antoine Doinel é um garoto aparentemente comum, com problemas em casa e no colégio. Sua mãe parece não ligar para ele, sempre sendo uma impaciência grande, seu pai adotivo busca maior compreensão, mas alguns acontecimentos o fazem desistir do menino. Já no colégio, o professor de francês parece implicar com ele. Primeiro com um castigo ao flagrar com uma foto de mulher (que já tinha passado pela mão de quase toda a sala), depois por acusar de plágio de Balzac. Ambas, acusações injustas, que ajudam nas complicações em casa e na decisão de ir para as ruas.
O final dos anos 50 é uma fase de transição de gerações e movimentos culturais. E a história de Antoine não deixa de metaforizar isso ao mostrá-lo enfrentando o regime vigente, o autoritarismo implacável e o comportamento hipócrita, como de sua mãe que tem um caso, mas se faz de vítima em casa. A forma como o garoto é tratado, o desprezo dos pais, a incompreensão do professor, o próprio jogo de empurra dos colegas, nos dão a dimensão de algo mais que uma simples história.
Ao mesmo tempo, é uma espécie de autobiografia do seu diretor que passou por muitas dessas coisas em sua infância. Não por acaso, ele continuou com o personagem em sua filmografia. E não por acaso também, ele considerava este seu melhor filme. Ali está o retrato maior de seu personagem, da dificuldade, das escolhas, da alma refletida no zoom final.
O que mais impressiona em Os Incompreendidos é esta alma em busca do seu lugar no mundo que Antoine representa. Flertando com os realistas, movimento que os nouvelle vaguistas tanto admiravam, Truffaut nos faz acompanhar esse garoto de uma maneira intensa. Observando sua rotina e caminhando junto com ele diante de cada novo obstáculo, rejeição ou desafio. Tanto que temos momentos singelos como quando ele se diverte em um brinquedo giratório, em êxtase com a possibilidade de desafiar a gravidade. E também momentos tensos, como a cena em que ouve os pais brigando.
É belo também testemunhar uma amizade tão intensa como a que o protagonista tem com René. Seu cúmplice e apoio em cada passo, seja no colégio ou na rua. Escondido em uma gráfica ou em um quarto dos fundos. A alegria de Antoine ao ver o amigo em um dia de visita, por exemplo, é emocionante. Assim como cada gesto de René para ajudá-lo, ainda que tenha sido ele quem o levou a cometer os atos ilícitos, desde faltar aula até o roubo da máquina de escrever.
Marco de uma geração, de um movimento, de um diretor que buscou acima de tudo fazer e viver para o cinema. Os Incompreendidos é daqueles filmes que ficam em nossa vida. E agora, ainda mais belo, com suas imagens e sons restaurados e digno de conquistar novas plateias.
Os Incompreendidos (Les quatre cents coups, 1959 / França)
Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut e Marcel Moussy
Com: Jean-Pierre Léaud, Albert Rémy, Claire Maurier
Duração: 99 min.
Antoine Doinel é um garoto aparentemente comum, com problemas em casa e no colégio. Sua mãe parece não ligar para ele, sempre sendo uma impaciência grande, seu pai adotivo busca maior compreensão, mas alguns acontecimentos o fazem desistir do menino. Já no colégio, o professor de francês parece implicar com ele. Primeiro com um castigo ao flagrar com uma foto de mulher (que já tinha passado pela mão de quase toda a sala), depois por acusar de plágio de Balzac. Ambas, acusações injustas, que ajudam nas complicações em casa e na decisão de ir para as ruas.
O final dos anos 50 é uma fase de transição de gerações e movimentos culturais. E a história de Antoine não deixa de metaforizar isso ao mostrá-lo enfrentando o regime vigente, o autoritarismo implacável e o comportamento hipócrita, como de sua mãe que tem um caso, mas se faz de vítima em casa. A forma como o garoto é tratado, o desprezo dos pais, a incompreensão do professor, o próprio jogo de empurra dos colegas, nos dão a dimensão de algo mais que uma simples história.
Ao mesmo tempo, é uma espécie de autobiografia do seu diretor que passou por muitas dessas coisas em sua infância. Não por acaso, ele continuou com o personagem em sua filmografia. E não por acaso também, ele considerava este seu melhor filme. Ali está o retrato maior de seu personagem, da dificuldade, das escolhas, da alma refletida no zoom final.
O que mais impressiona em Os Incompreendidos é esta alma em busca do seu lugar no mundo que Antoine representa. Flertando com os realistas, movimento que os nouvelle vaguistas tanto admiravam, Truffaut nos faz acompanhar esse garoto de uma maneira intensa. Observando sua rotina e caminhando junto com ele diante de cada novo obstáculo, rejeição ou desafio. Tanto que temos momentos singelos como quando ele se diverte em um brinquedo giratório, em êxtase com a possibilidade de desafiar a gravidade. E também momentos tensos, como a cena em que ouve os pais brigando.
É belo também testemunhar uma amizade tão intensa como a que o protagonista tem com René. Seu cúmplice e apoio em cada passo, seja no colégio ou na rua. Escondido em uma gráfica ou em um quarto dos fundos. A alegria de Antoine ao ver o amigo em um dia de visita, por exemplo, é emocionante. Assim como cada gesto de René para ajudá-lo, ainda que tenha sido ele quem o levou a cometer os atos ilícitos, desde faltar aula até o roubo da máquina de escrever.
Marco de uma geração, de um movimento, de um diretor que buscou acima de tudo fazer e viver para o cinema. Os Incompreendidos é daqueles filmes que ficam em nossa vida. E agora, ainda mais belo, com suas imagens e sons restaurados e digno de conquistar novas plateias.
Os Incompreendidos (Les quatre cents coups, 1959 / França)
Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut e Marcel Moussy
Com: Jean-Pierre Léaud, Albert Rémy, Claire Maurier
Duração: 99 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Incompreendidos
2014-04-15T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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