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O Poderoso Chefão
O Poderoso Chefão
Nos primeiros segundos de O Poderoso Chefão já dá para entender o porquê dele ser um dos filmes mais cultuados de todos os tempos. Tudo é construído para nos impactar e criar vínculo com aquele mundo, aquele personagem, aquela história. Revê-lo é sempre uma aula de cinema.
Com a tela ainda preta ouvimos a famosa frase: "Eu acredito na América". O fade in nos mostra o personagem visivelmente emocionado em seu discurso sobre a triste sina da filha, em close. A câmera vai se afastando aos poucos e depois de muito tempo vemos apenas a mão e depois a silhueta de Don Corleone. Seu nome é citado pelo personagem antes dele enfim aparecer em nossa tela, também em close, com a câmera se afastando aos poucos para nos mostrar o cenário.
Nos pequenos detalhes somos apresentados àquele mundo e, principalmente, àquele personagem. Com ar sereno, um gato no colo e uma voz sussurrante, o chefe da família Corleone demonstra o seu poder, mas também os seus valores. O zelo pela família, o valor dado à amizade, a necessidade de ser reverenciado, o "título" de padrinho. E a frase que fecha a cena e parte para a festa: "Não somos assassinos".
Não, os Corleone não podem ser definidos apenas como assassinos. Assim como O Poderoso Chefão não é apenas um filme de gangster. É diminuir e simplificar algo tão complexo como essa saga familiar. Na verdade, a saga de um homem que tem que abrir mão de seus sonhos e seus valores em nome da família.
Michael Corleone era o filho querido, o protegido, aquele que estava destinado a outro futuro. Mas, o destino parecia ter outros planos traçados. Ver Michael na festa do casamento de sua irmã tão jovem e inocente ainda, chega a ser irônico. "Essa é a minha família, não sou eu", ele diz à namorada Kay. E Michael não era, mas a cena no hospital muda sua sina e suas convicções, no momento em que ele vê que precisa agir para proteger seu pai. O resto, a maioria já sabe.
Fascina no roteiro de O Poderoso Chefão o cuidado com a trajetória e o fechamento de ciclos. A cena em que Don Corleone cobra o primeiro favor do filme é sensacional. De uma força emocional impressionante. Da mesma forma que a cena final traz uma cadência única que fecha esse primeiro ciclo de Michael de maneira impactante.
E não apenas de roteiro se faz a beleza de O Poderoso Chefão. Todos os quesitos fílmicos são cuidadosamente construídos para nos dar o melhor daquela história. O elenco é excepcional. Não apenas por Marlon Brando e Al Pacino que dão show em cada gesto. Mas todos os demais, a expressão de Diane Keaton na cena final já vale sua participação no filme. James Caan como Sonny e Robert Duvall como Tom também tem ótimos momentos. Daria para citar nome a nome, elogiando atuações.
A direção também é cuidadosa, dando ritmo às cenas e escolhendo com cuidado cada momento. A cena inicial já citada, assim como a final já valem como elogio, mas temos outros momentos marcantes como a cabeça do cavalo na cama, que vai sendo descoberto aos poucos em um suspense crescente até o impacto do terror. Ou a própria cena do hospital, com a tensão da chegada do estranho, a cena na porta e o embate com a polícia. Mesmo a cena do atentado a Don Corleone em uma feira caindo no meio das barracas de frutas.
A fotografia acompanha a direção e temos alguns detalhes muito bons, como o cenário da morte de um traidor em um descampado que tem a Estátua da Liberdade ao fundo. Ou o jogo cênico da reunião familiar que revela o verdadeiro mandante de um assassinato impactante. A direção de arte cuidadosa também nos dá até pistas de humor de personagens. E a montagem também tem seus destaques, o principal na sequência do batizado. E, claro, não posso deixar de citar a trilha sonora, marcante e eternizada em nossa memória dando a força e a importância daquela história.
Um jogo de poder que começa com a negação de um convite a entrar no narcotráfico, é apenas o pano de fundo para nos apresentar e envolver com personagens únicos, com construções cuidadosas e valores bem definidos. Uma família que vai além da simples constituição social. É um pacto sagrado que os prende e os faz caminhar na mesma direção.
O Poderoso Chefão é um marco no cinema. Simples assim. Nem precisa dizer que está entre meus favoritos de todos os tempos.
O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972 / EUA)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola
Com: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Diane Keaton, Richard S. Castellano, Al Lettieri, Richard Conte
Duração: 175 min.
Com a tela ainda preta ouvimos a famosa frase: "Eu acredito na América". O fade in nos mostra o personagem visivelmente emocionado em seu discurso sobre a triste sina da filha, em close. A câmera vai se afastando aos poucos e depois de muito tempo vemos apenas a mão e depois a silhueta de Don Corleone. Seu nome é citado pelo personagem antes dele enfim aparecer em nossa tela, também em close, com a câmera se afastando aos poucos para nos mostrar o cenário.
Nos pequenos detalhes somos apresentados àquele mundo e, principalmente, àquele personagem. Com ar sereno, um gato no colo e uma voz sussurrante, o chefe da família Corleone demonstra o seu poder, mas também os seus valores. O zelo pela família, o valor dado à amizade, a necessidade de ser reverenciado, o "título" de padrinho. E a frase que fecha a cena e parte para a festa: "Não somos assassinos".
Não, os Corleone não podem ser definidos apenas como assassinos. Assim como O Poderoso Chefão não é apenas um filme de gangster. É diminuir e simplificar algo tão complexo como essa saga familiar. Na verdade, a saga de um homem que tem que abrir mão de seus sonhos e seus valores em nome da família.
Michael Corleone era o filho querido, o protegido, aquele que estava destinado a outro futuro. Mas, o destino parecia ter outros planos traçados. Ver Michael na festa do casamento de sua irmã tão jovem e inocente ainda, chega a ser irônico. "Essa é a minha família, não sou eu", ele diz à namorada Kay. E Michael não era, mas a cena no hospital muda sua sina e suas convicções, no momento em que ele vê que precisa agir para proteger seu pai. O resto, a maioria já sabe.
Fascina no roteiro de O Poderoso Chefão o cuidado com a trajetória e o fechamento de ciclos. A cena em que Don Corleone cobra o primeiro favor do filme é sensacional. De uma força emocional impressionante. Da mesma forma que a cena final traz uma cadência única que fecha esse primeiro ciclo de Michael de maneira impactante.
E não apenas de roteiro se faz a beleza de O Poderoso Chefão. Todos os quesitos fílmicos são cuidadosamente construídos para nos dar o melhor daquela história. O elenco é excepcional. Não apenas por Marlon Brando e Al Pacino que dão show em cada gesto. Mas todos os demais, a expressão de Diane Keaton na cena final já vale sua participação no filme. James Caan como Sonny e Robert Duvall como Tom também tem ótimos momentos. Daria para citar nome a nome, elogiando atuações.
A direção também é cuidadosa, dando ritmo às cenas e escolhendo com cuidado cada momento. A cena inicial já citada, assim como a final já valem como elogio, mas temos outros momentos marcantes como a cabeça do cavalo na cama, que vai sendo descoberto aos poucos em um suspense crescente até o impacto do terror. Ou a própria cena do hospital, com a tensão da chegada do estranho, a cena na porta e o embate com a polícia. Mesmo a cena do atentado a Don Corleone em uma feira caindo no meio das barracas de frutas.
A fotografia acompanha a direção e temos alguns detalhes muito bons, como o cenário da morte de um traidor em um descampado que tem a Estátua da Liberdade ao fundo. Ou o jogo cênico da reunião familiar que revela o verdadeiro mandante de um assassinato impactante. A direção de arte cuidadosa também nos dá até pistas de humor de personagens. E a montagem também tem seus destaques, o principal na sequência do batizado. E, claro, não posso deixar de citar a trilha sonora, marcante e eternizada em nossa memória dando a força e a importância daquela história.
Um jogo de poder que começa com a negação de um convite a entrar no narcotráfico, é apenas o pano de fundo para nos apresentar e envolver com personagens únicos, com construções cuidadosas e valores bem definidos. Uma família que vai além da simples constituição social. É um pacto sagrado que os prende e os faz caminhar na mesma direção.
O Poderoso Chefão é um marco no cinema. Simples assim. Nem precisa dizer que está entre meus favoritos de todos os tempos.
O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972 / EUA)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola
Com: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Diane Keaton, Richard S. Castellano, Al Lettieri, Richard Conte
Duração: 175 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Poderoso Chefão
2014-07-27T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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