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O Auto da Compadecida
O Auto da Compadecida
A morte de Ariano Suassuna me incentivou a prestar aqui uma homenagem com um dos maiores acertos que já vi da Rede Globo de Televisão. É raro uma minissérie ser compactada e dar um bom filme, mas O Auto da Compadecida é harmônico e traz o clima da história com um cuidado impressionante.
A peça do escritor paraibano é um retrato do povo nordestino. Com sua sagacidade, Suassuna faz uma crítica à hipocrisia, defende o cangaço e lida com a fé de uma maneira divertida e irônica. O cinema brasileiro já tinha lhe prestado uma homenagem digna com Os Trapalhões no Auto da Compadecida, mas aqui, a obra ganhou seu caráter definitivo.
A história do esperto João Grilo e seu fiel escudeiro Chicó, que, em pleno sertão nordestino, vivem de pequenos golpes, principalmente com o padeiro e sua esposa. Entram na trama, ícones da igreja como padre, bispo e sacristão, a figura do coronel e o cangaceiro que invade a pequena cidade e dá o salto para o terceiro ato, quando um julgamento de todos os personagens será iniciado, tendo Jesus como juiz, o diabo como acusação e Nossa Senhora como advogada de defesa.
Na peça, Suassuna usa a figura do palhaço como apresentador, pontuando a cada ato o destino dos personagens e conversando com o público. Na versão de Guel Arraes, esse recurso foi suprimido, o que é justificado pela adaptação. Na versão dos Trapalhões, ele funciona pela própria proposta do grupo, mas na linguagem deste filme acabaria sendo um elemento estranho.
A construção da hipocrisia da nossa sociedade desmascarada em pequenos acertos como o enterro do cachorro, vão sendo desnudadas no julgamento de uma maneira muito especial. É interessante a postura acusadora do diabo contrastando com a forma de criar eufemismo da Virgem Maria. E o esperto João Grilo está sempre buscando uma forma de se dar melhor que todos, mesmo quando está vendo sua alma em jogo. Mas, é sempre passível de uma nova chance.
A produção contou com um elenco de destaque a começar pelo próprio João Grilo que na interpretação de Matheus Nachtergaele ganhou uma vida ainda mais fascinante. O Chicó de Selton Mello também marcou seu espaço. Assim como o casal Diogo Vilela e Denise Fraga, oscilando harmonicamente entre drama e comédia. O padre interpretado por Rogério Cardoso, o Bispo Lima Duarte, o Jesus Maurício Gonçalves e a Nossa Senhora Fernanda Montenegro também merecem destaque, assim como Luís Melo como o diabo. Destaco ainda, além da interpretação, a maquiagem de Marco Nanini como o cangaceiro Severino, sua primeira aparição fingindo mendigo está irreconhecível.
Ainda que feito a princípio para a televisão, O Auto da Compadecida possui um ritmo próprio, que vem da peça e funciona perfeitamente no cinema. É ágil e envolvente. É divertido e crítico. É o sertão e seus problemas. Mas, é também o Brasil. Em um resumo perfeito do que era a obra de Suassuna. Ao ler a peça, vê-la sendo encenada ou vendo o filme, é possível perceber que a essência não se perde. Pelo contrário, ganha ainda mais vida com as possibilidades fílmicas.
O terceiro ato, onde ocorre o julgamento, sempre foi a minha parte preferida. Na versão dos Trapalhões, ficou um pouco caricata, até pelos recursos da época. Aqui, Guel Arraes conseguiu equilibrar a fantasia com as possibilidades de efeitos e realidade, nos dando tensão, medo e emoções diversas a cada ponto debatido. O único senão seria o efeito do rosto de Luís Melo tornando-se a besta em alguns momentos.
De qualquer maneira, o filme acaba sendo uma homenagem à obra original e também uma construção própria bem feita e envolvente. Daqueles que temos orgulho de figurar na filmografia de nosso país. Qualidade, apelo popular e algo a mais que discute nossa própria cultura e nosso povo.
O Auto da Compadecida (O Auto da Compadecida, 2000 / Brasil)
Direção: Guel Arraes
Roteiro: Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão
Com: Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Rogério Cardoso, Denise Fraga, Diogo Vilela, Luís Melo, Lima Duarte, Fernanda Montenegro, Marco Nanini.
Duração: 104 min.
A peça do escritor paraibano é um retrato do povo nordestino. Com sua sagacidade, Suassuna faz uma crítica à hipocrisia, defende o cangaço e lida com a fé de uma maneira divertida e irônica. O cinema brasileiro já tinha lhe prestado uma homenagem digna com Os Trapalhões no Auto da Compadecida, mas aqui, a obra ganhou seu caráter definitivo.
A história do esperto João Grilo e seu fiel escudeiro Chicó, que, em pleno sertão nordestino, vivem de pequenos golpes, principalmente com o padeiro e sua esposa. Entram na trama, ícones da igreja como padre, bispo e sacristão, a figura do coronel e o cangaceiro que invade a pequena cidade e dá o salto para o terceiro ato, quando um julgamento de todos os personagens será iniciado, tendo Jesus como juiz, o diabo como acusação e Nossa Senhora como advogada de defesa.
Na peça, Suassuna usa a figura do palhaço como apresentador, pontuando a cada ato o destino dos personagens e conversando com o público. Na versão de Guel Arraes, esse recurso foi suprimido, o que é justificado pela adaptação. Na versão dos Trapalhões, ele funciona pela própria proposta do grupo, mas na linguagem deste filme acabaria sendo um elemento estranho.
A construção da hipocrisia da nossa sociedade desmascarada em pequenos acertos como o enterro do cachorro, vão sendo desnudadas no julgamento de uma maneira muito especial. É interessante a postura acusadora do diabo contrastando com a forma de criar eufemismo da Virgem Maria. E o esperto João Grilo está sempre buscando uma forma de se dar melhor que todos, mesmo quando está vendo sua alma em jogo. Mas, é sempre passível de uma nova chance.
A produção contou com um elenco de destaque a começar pelo próprio João Grilo que na interpretação de Matheus Nachtergaele ganhou uma vida ainda mais fascinante. O Chicó de Selton Mello também marcou seu espaço. Assim como o casal Diogo Vilela e Denise Fraga, oscilando harmonicamente entre drama e comédia. O padre interpretado por Rogério Cardoso, o Bispo Lima Duarte, o Jesus Maurício Gonçalves e a Nossa Senhora Fernanda Montenegro também merecem destaque, assim como Luís Melo como o diabo. Destaco ainda, além da interpretação, a maquiagem de Marco Nanini como o cangaceiro Severino, sua primeira aparição fingindo mendigo está irreconhecível.
Ainda que feito a princípio para a televisão, O Auto da Compadecida possui um ritmo próprio, que vem da peça e funciona perfeitamente no cinema. É ágil e envolvente. É divertido e crítico. É o sertão e seus problemas. Mas, é também o Brasil. Em um resumo perfeito do que era a obra de Suassuna. Ao ler a peça, vê-la sendo encenada ou vendo o filme, é possível perceber que a essência não se perde. Pelo contrário, ganha ainda mais vida com as possibilidades fílmicas.
O terceiro ato, onde ocorre o julgamento, sempre foi a minha parte preferida. Na versão dos Trapalhões, ficou um pouco caricata, até pelos recursos da época. Aqui, Guel Arraes conseguiu equilibrar a fantasia com as possibilidades de efeitos e realidade, nos dando tensão, medo e emoções diversas a cada ponto debatido. O único senão seria o efeito do rosto de Luís Melo tornando-se a besta em alguns momentos.
De qualquer maneira, o filme acaba sendo uma homenagem à obra original e também uma construção própria bem feita e envolvente. Daqueles que temos orgulho de figurar na filmografia de nosso país. Qualidade, apelo popular e algo a mais que discute nossa própria cultura e nosso povo.
O Auto da Compadecida (O Auto da Compadecida, 2000 / Brasil)
Direção: Guel Arraes
Roteiro: Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão
Com: Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Rogério Cardoso, Denise Fraga, Diogo Vilela, Luís Melo, Lima Duarte, Fernanda Montenegro, Marco Nanini.
Duração: 104 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Auto da Compadecida
2014-07-25T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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