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A História Sem Fim
A História Sem Fim
Filme de infância é sempre um perigo de se rever, ainda mais na tela grande. A decepção pode ser grande. Mas, foi com prazer que assisti mais uma vez A História Sem Fim, dessa vez no cinema.
O que encanta na história é exatamente a filosofia por trás da brincadeira. O jogo metalinguístico que nos faz acompanhar a história de Bastian, que, por sua vez, acompanha a aventura de Atreyu em prol da salvação de Fantasia em meio à ameaça do Nada. Ou seja, é um apelo para a continuação da capacidade de toda criança, ou melhor, ser humano de poder sonhar e fantasiar histórias. "Pessoas sem esperança são mais fáceis de controlar", explica o vilão G'mork.
A trama nos apresenta o garoto Bastian. Órfão de mãe e apaixonado por livros, não está bem em matemática na escola e anda meio aéreo. Além disso, três colegas o perseguem todos os dias no caminho do colégio. E é assim que ele vai parar em um biblioteca e tem acesso a um livro estranho, que o dono diz ser diferente de todos os outros. Bastian rouba "A História Sem Fim" e se tranca no sótão do colégio para ler, participando de uma aventura como nunca imaginaria.
Fantasia está sumindo, o Grande Nada está tomando todos os lugares, a jovem imperatriz está morrendo e só o jovem Atreyu pode salvar a todos. O problema é que ele não tem ideia de como fazer isso. Então, embarcará em uma aventura pelo mundo tentando encontrar as pistas naqueles que conhecem os mistérios locais. Os mais antigos. Desde uma tartaruga gigante, passando por um oráculo em forma de esfinge e o próprio vilão G'mork, um grande cão negro.
Toda a construção nada mais é do que uma alegoria da própria importância das histórias e da interação do público com elas. A mágica se faz quando nos importamos com os personagens, quando nos sentimos dentro daquela aventura, quando podemos viajar juntos para espaços inimagináveis. Ou melhor, quando podemos aguçar nossa imaginação para criar junto com os livros, onde palavras normalmente não dizem tudo.
No cinema, a cena já vem pronta, mas ainda assim cada um pode interagir e reagir de uma maneira e de acordo com suas próprias referências. É essa a graça de ouvir, ler e acompanhar narrativas. A cena em que Atreyu olha no espelho e vê Bastian carregam em si a simbologia máxima dessa mistura entre personagem e leitor. E através do vínculo, da empatia criada, é que tudo pode acontecer.
Ainda hoje tudo isso funciona de uma maneira impressionante. Já a técnica, a olhos atuais, pode causar estranhamentos. Década de 80, poucos recursos tecnológicos e mesmo assim fazer seres tão diversos, incluindo um dragão chinês com cara de cachorro voar, é impressionante. Mas, é mesmo uma técnica datada, onde é possível ver as marcações e falhas. Ainda mais na tela grande. As paisagens, mesmo mais estáticas, ainda assim, são de admirar.
A trilha sonora também traz ecos de sua época de maneira forte, com muitos teclados e uma atmosfera disco. Talvez seja o ponto mais destoante de se acompanhar hoje. Algo parecido com O Feitiço de Áquila, que trazia uma trilha que não parecia se encaixar com o que se via em tela, soando over.
De qualquer maneira, A História Sem Fim é daqueles filmes que marcam uma época e continuam fazendo sentido ainda hoje. Mesmo trinta anos depois, o livro ainda é uma forma espetacular de embarcar em viagens únicas. Na época, o bibliotecário estava preocupado com a concorrência dos fliperamas. Hoje, a concorrência é maior, mas ainda assim, muitos livros surgem a cada dia, nos formatos mais diversos. A Imperatriz menina deve continuar reinando, então, feliz em Fantasia.
A História Sem Fim (The Neverending Story, 1984 / Alemanha, Estados Unidos)
Direção: Wolfgang Petersen
Roteiro: Wolfgang Petersen, Herman Weigel
Com: Noah Hathaway, Barret Oliver, Tami Stronach
Duração: 102 min.
O que encanta na história é exatamente a filosofia por trás da brincadeira. O jogo metalinguístico que nos faz acompanhar a história de Bastian, que, por sua vez, acompanha a aventura de Atreyu em prol da salvação de Fantasia em meio à ameaça do Nada. Ou seja, é um apelo para a continuação da capacidade de toda criança, ou melhor, ser humano de poder sonhar e fantasiar histórias. "Pessoas sem esperança são mais fáceis de controlar", explica o vilão G'mork.
A trama nos apresenta o garoto Bastian. Órfão de mãe e apaixonado por livros, não está bem em matemática na escola e anda meio aéreo. Além disso, três colegas o perseguem todos os dias no caminho do colégio. E é assim que ele vai parar em um biblioteca e tem acesso a um livro estranho, que o dono diz ser diferente de todos os outros. Bastian rouba "A História Sem Fim" e se tranca no sótão do colégio para ler, participando de uma aventura como nunca imaginaria.
Fantasia está sumindo, o Grande Nada está tomando todos os lugares, a jovem imperatriz está morrendo e só o jovem Atreyu pode salvar a todos. O problema é que ele não tem ideia de como fazer isso. Então, embarcará em uma aventura pelo mundo tentando encontrar as pistas naqueles que conhecem os mistérios locais. Os mais antigos. Desde uma tartaruga gigante, passando por um oráculo em forma de esfinge e o próprio vilão G'mork, um grande cão negro.
Toda a construção nada mais é do que uma alegoria da própria importância das histórias e da interação do público com elas. A mágica se faz quando nos importamos com os personagens, quando nos sentimos dentro daquela aventura, quando podemos viajar juntos para espaços inimagináveis. Ou melhor, quando podemos aguçar nossa imaginação para criar junto com os livros, onde palavras normalmente não dizem tudo.
No cinema, a cena já vem pronta, mas ainda assim cada um pode interagir e reagir de uma maneira e de acordo com suas próprias referências. É essa a graça de ouvir, ler e acompanhar narrativas. A cena em que Atreyu olha no espelho e vê Bastian carregam em si a simbologia máxima dessa mistura entre personagem e leitor. E através do vínculo, da empatia criada, é que tudo pode acontecer.
Ainda hoje tudo isso funciona de uma maneira impressionante. Já a técnica, a olhos atuais, pode causar estranhamentos. Década de 80, poucos recursos tecnológicos e mesmo assim fazer seres tão diversos, incluindo um dragão chinês com cara de cachorro voar, é impressionante. Mas, é mesmo uma técnica datada, onde é possível ver as marcações e falhas. Ainda mais na tela grande. As paisagens, mesmo mais estáticas, ainda assim, são de admirar.
A trilha sonora também traz ecos de sua época de maneira forte, com muitos teclados e uma atmosfera disco. Talvez seja o ponto mais destoante de se acompanhar hoje. Algo parecido com O Feitiço de Áquila, que trazia uma trilha que não parecia se encaixar com o que se via em tela, soando over.
De qualquer maneira, A História Sem Fim é daqueles filmes que marcam uma época e continuam fazendo sentido ainda hoje. Mesmo trinta anos depois, o livro ainda é uma forma espetacular de embarcar em viagens únicas. Na época, o bibliotecário estava preocupado com a concorrência dos fliperamas. Hoje, a concorrência é maior, mas ainda assim, muitos livros surgem a cada dia, nos formatos mais diversos. A Imperatriz menina deve continuar reinando, então, feliz em Fantasia.
A História Sem Fim (The Neverending Story, 1984 / Alemanha, Estados Unidos)
Direção: Wolfgang Petersen
Roteiro: Wolfgang Petersen, Herman Weigel
Com: Noah Hathaway, Barret Oliver, Tami Stronach
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A História Sem Fim
2014-08-11T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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