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Paulo Nascimento
A Oeste do Fim do Mundo
A Oeste do Fim do Mundo
A Oeste do Fim do Mundo é um título poético, mas que traduz bem a trama e a sensação do novo filme de Paulo Nascimento. Sem muito estardalhaço ele nos mostra um retrato intenso da natureza humana, suas feridas e suas esperanças.
A Oeste do Fim do Mundo, mais precisamente em uma estrada entre a Argentina e o Chile, em um posto de gasolina com ares de abandonado vive Leon, vivido por César Troncoso. Um homem solitário, com um passado sofrido e alguns segredos, entre os quais um filho que lhe liga de tempos em tempos e ele não atende. Seu único amigo é o motoqueiro Silas, vivido por Nelson Diniz que chega com a mesma velocidade que vai, sem nunca criar vínculos. Até que a chegada de uma moça vai mudar suas rotinas.
Ana, a personagem de Fernanda Moro também tem seu passado de traumas. Isso a faz saltar do caminhão que lhe dava carona a Santiago e parar ali, sem pouso, sem soluções. A princípio ela pede para ficar uma noite, mas os dias vão passando, novas caronas não chegam e ela vai ficando. Sua relação com Leon não é fácil, mas ele parece ser o único homem que não a vê como objeto sexual e isso a atrai, a mantem segura.
O filme trata disso. De feridas abertas ou cicatrizadas que ainda doem e da forma como poucos conseguem lidar com isso. Leon faz bem a Ana, da mesma forma que Ana faz bem a Leon. Sem precisar necessariamente ser uma história de amor romântico ou outros clichês. São duas almas que se encontram e se reconhecem em seus problemas, buscando formas de sobreviver.
O cenário hostil, quase deserto ajuda nesse clima de dureza. A solidão que o espaço passa, as dificuldades, acabam sendo metáforas da própria situação dos personagens. Em algo, nos lembra a realidade do filme Badgad Café, também com uma forasteira que vem para bagunçar a rotina estabelecida, mas é uma construção de um microcosmo mais restrito e diferente em diversos pontos.
É interessante também a distância cultural construída pela língua de ambos. Ele falando espanhol, filho de uruguaio criado na Argentina. Ela falando português, brasileira vinda do país. Mas, ainda que em idiomas distintos, ambos parecem falar a mesma língua, ao contrário de Silas que transita entre o português e o espanhol sem de fato se comunicar com nenhum dos dois.
A obra tem seu espírito contemplativo, sem se tornar cansativa ou monótona por focar nos dramas psicológicos de seus personagens e, com isso, nos manter atentos, envolvidos. Mesmo as cenas de flashback que mostram o passado de Ana são harmônicas e ajudam no engajamento da trama.
A Oeste do Fim do Mundo é um filme bem feito, poético e diverso. Daquelas obras que o cinema brasileiro já demonstrou saber fazer, mas parecem escondidas em um circuito de pouca visibilidade. E o curioso é que este ainda tem um projeto de acessibilidade com sessões audiodescrição e legendas. Vamos torcer por mais obras assim.
A Oeste do Fim do Mundo (2014 / Brasil)
Direção: Paulo Nascimento
Roteiro: Paulo Nascimento
Com: César Troncoso, Fernanda Moro, Nélson Diniz
Duração: 102 min
A Oeste do Fim do Mundo, mais precisamente em uma estrada entre a Argentina e o Chile, em um posto de gasolina com ares de abandonado vive Leon, vivido por César Troncoso. Um homem solitário, com um passado sofrido e alguns segredos, entre os quais um filho que lhe liga de tempos em tempos e ele não atende. Seu único amigo é o motoqueiro Silas, vivido por Nelson Diniz que chega com a mesma velocidade que vai, sem nunca criar vínculos. Até que a chegada de uma moça vai mudar suas rotinas.
Ana, a personagem de Fernanda Moro também tem seu passado de traumas. Isso a faz saltar do caminhão que lhe dava carona a Santiago e parar ali, sem pouso, sem soluções. A princípio ela pede para ficar uma noite, mas os dias vão passando, novas caronas não chegam e ela vai ficando. Sua relação com Leon não é fácil, mas ele parece ser o único homem que não a vê como objeto sexual e isso a atrai, a mantem segura.
O filme trata disso. De feridas abertas ou cicatrizadas que ainda doem e da forma como poucos conseguem lidar com isso. Leon faz bem a Ana, da mesma forma que Ana faz bem a Leon. Sem precisar necessariamente ser uma história de amor romântico ou outros clichês. São duas almas que se encontram e se reconhecem em seus problemas, buscando formas de sobreviver.
O cenário hostil, quase deserto ajuda nesse clima de dureza. A solidão que o espaço passa, as dificuldades, acabam sendo metáforas da própria situação dos personagens. Em algo, nos lembra a realidade do filme Badgad Café, também com uma forasteira que vem para bagunçar a rotina estabelecida, mas é uma construção de um microcosmo mais restrito e diferente em diversos pontos.
É interessante também a distância cultural construída pela língua de ambos. Ele falando espanhol, filho de uruguaio criado na Argentina. Ela falando português, brasileira vinda do país. Mas, ainda que em idiomas distintos, ambos parecem falar a mesma língua, ao contrário de Silas que transita entre o português e o espanhol sem de fato se comunicar com nenhum dos dois.
A obra tem seu espírito contemplativo, sem se tornar cansativa ou monótona por focar nos dramas psicológicos de seus personagens e, com isso, nos manter atentos, envolvidos. Mesmo as cenas de flashback que mostram o passado de Ana são harmônicas e ajudam no engajamento da trama.
A Oeste do Fim do Mundo é um filme bem feito, poético e diverso. Daquelas obras que o cinema brasileiro já demonstrou saber fazer, mas parecem escondidas em um circuito de pouca visibilidade. E o curioso é que este ainda tem um projeto de acessibilidade com sessões audiodescrição e legendas. Vamos torcer por mais obras assim.
A Oeste do Fim do Mundo (2014 / Brasil)
Direção: Paulo Nascimento
Roteiro: Paulo Nascimento
Com: César Troncoso, Fernanda Moro, Nélson Diniz
Duração: 102 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Oeste do Fim do Mundo
2014-08-31T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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