
A trama, narrada pelo velho Dimitrius nos apresenta a lendária ilha de Sbórnia, que em um tempo distante era ligada ao continente por um caminho estreito e separado por um imenso muro. Quando uma partida de Machadobol derruba por acidente o muro reconectando a população local ao continente, acontecimentos diversos acabam por provocar sua separação definitiva.

A ironia da história está nos pequenos paralelos que podemos construir com as criações da ilha. Só o fato de ser uma ilha isolada, fechada em seus próprios costumes que começa a ser invadida pelas novidades capitalistas, já traz algumas referências. A diferença é que Sbórnia talvez seja o único governo anarquista de que se tem notícias na história.

Mas, o grande jogo envolvido aí, é exatamente essa crítica a tudo e a todos. Aos anarquistas, que tem a estátua do seu herói em um vidro coberto por moscas. Ao consumismo, com o sucesso desenfreado da Bizuwin e suas campanhas de marketing com personagens infantis. Da sociedade em geral, com o empresário e sua mulher arranjando o casamento da filha Cocliquot com o velho milionário.

A animação é ainda mais rica por toda a construção sonora. Os personagens principais são dublados pelos próprios Nico Nicolaiewsky e Hique Gomez. O empresário tem a voz de André Abujamra, que assina a trilha sonora do filme. Sua terrível esposa Alba é Arlete Salles. E a jovem Cocliquot é Fernanda Takai que também tem música na trilha.
O traço é bem feito e a construção de detalhes é muito boa. Vide uma cena logo no início que faz um paralelo entre o violento jogo de Machadobol com duas crianças jogando gude próximo à muralha.
Até que a Sbórnia nos separe é daquelas ricas obras que nos mostram que animação é mais do que um filme para crianças. Tem uma certa ingenuidade na construção de situações, falas e atitudes dos personagens e é compreensível para um público mais jovem, mas ganha muito mais com uma compreensão macro de tudo que aquilo representa.
Até que a Sbórnia nos separe (2014, Brasil)
Direção: Otto Guerra, Ennio Torresan Jr.
Roteiro: Otto Guerra, Ennio Torresan Jr., Tomás Creus, Rodrigo John
Duração: 90 min.