Festa no Céu
Produzido por Guillermo del Toro com direção de Jorge R. Gutierrez, que também assina o roteiro com Douglas Langdale, Festa no Céu é daqueles filmes que demonstra como uma coisa simples, pode se tornar extremamente rica e complexa de acordo com o tratamento dado.
A trama do filme poderia ser resumida com três amigos de infância que, desde pequenos formam um triângulo amoroso, crescem entre a expectativa dos pais e a busca pelos próprios sonhos, enquanto nutrem o amor entre eles. Não há bem, nem mal. Tanto Manolo quanto Joaquin amam a bela Maria, mas também são amigos, só que seus caminhos vão conduzindo para um bom partido apoiado pelo pai da moça e um sonhador sem futuro.
Mas, este é apenas o ponto de partida de Festa no Céu que, na realidade é uma fábula sobrenatural onde duas criaturas que controlam o mundo dos mortos fazem uma aposta sobre o destino dos três jovens. A bela e justa La Muerte que controla o vale dos Eternizados, aposta em Manolo, enquanto que o sombrio Xibalba do Vale dos Esquecidos, coloca suas fichas em Joaquin. E como não se contenta em deixar o destino decidir, Xibalba vai usar de truques para ajudar seu pupilo, mas ele não contava com a coragem e determinação de Manolo.
Para deixar o roteiro ainda mais complexo e ao mesmo tempo palatável para as crianças, Jorge R. Gutierrez e Douglas Langdale ainda usa o artifício da história dentro da história. Somos apresentados a todo esse universo através de uma instrutora de um museu que resolve fazer um tour diferente com a última turma do dia, composta por alunos rebeldes vindo de castigos escolares. Esse recurso ajuda a construir a expectativa e funciona como ponto da plateia. Em determinado momento, por exemplo, uma das estudantes protesta: "Ela morreu? Isso é uma história para crianças!"
Este jogo de limites entre o mundo infantil e adulto é bem trabalhado pelo olhar desses pequenos, como também da própria construção das referências. A trilha sonora intradiegética, por exemplo, cantada por Manolo em momentos pontuais está repleta de referências da cultura pop, pena que a versão em português deixa isso se perder um pouco. Da mesma forma que a crítica à tourada, um dos símbolos do México, traz à tona toda a discussão atual sobre os direitos dos animais. Assim como todas as referências culturais mexicanas.
Porém, é um filme sobre escolhas da vida, sobre a capacidade de escrevermos nossa própria história e do embate de nossos sonhos com os desejos de nossos pais. Isso, qualquer pessoa, mesmo criança, pode compreender, pois faz parte de nossa referência de vida. Temos a família como nosso modelo e é sempre difícil romper uma tradição como Manolo fará ao se recusar a ser toureiro para viver de música.
Apoiando toda essa mitologia criada, temos uma direção de arte bem cuidada com um traço forte, que simula bonecos de madeira em uma animação em 3D que nos busca referências na animação em stop motion. Todo o cenário é extremamente rico, com muitas cores e detalhes de objetos de cena, nos dando a sensação de um mundo real, apesar de toda a estética fantástica.
O mundo dos mortos também é bastante criativo, desde o Homem de Cera, passando pela alegria e colorido do mundo dos Lembrados, para a ausência de cor e vida no mundo dos Esquecidos. É interessante que a direção de arte nos passe uma das ideias centrais da trama que é que não é ruim morrer, o ruim é ser esquecido por aqueles que amamos e ainda estão vivos. O próprio Xibalba não é um ser ruim, apenas não suporta todo o sofrimento daquele lugar.
Festa no Céu é uma animação rica e bem construída, que encanta pelos detalhes e pelas camadas de interpretação possíveis. Daquelas animações que empolgam tanto crianças quanto adultos.
Festa no Céu (The Book of Life, 2014 / EUA)
Direção: Jorge R. Gutierrez
Roteiro: Jorge R. Gutierrez e Douglas Langdale
Duração: 95 min.
A trama do filme poderia ser resumida com três amigos de infância que, desde pequenos formam um triângulo amoroso, crescem entre a expectativa dos pais e a busca pelos próprios sonhos, enquanto nutrem o amor entre eles. Não há bem, nem mal. Tanto Manolo quanto Joaquin amam a bela Maria, mas também são amigos, só que seus caminhos vão conduzindo para um bom partido apoiado pelo pai da moça e um sonhador sem futuro.
Mas, este é apenas o ponto de partida de Festa no Céu que, na realidade é uma fábula sobrenatural onde duas criaturas que controlam o mundo dos mortos fazem uma aposta sobre o destino dos três jovens. A bela e justa La Muerte que controla o vale dos Eternizados, aposta em Manolo, enquanto que o sombrio Xibalba do Vale dos Esquecidos, coloca suas fichas em Joaquin. E como não se contenta em deixar o destino decidir, Xibalba vai usar de truques para ajudar seu pupilo, mas ele não contava com a coragem e determinação de Manolo.
Para deixar o roteiro ainda mais complexo e ao mesmo tempo palatável para as crianças, Jorge R. Gutierrez e Douglas Langdale ainda usa o artifício da história dentro da história. Somos apresentados a todo esse universo através de uma instrutora de um museu que resolve fazer um tour diferente com a última turma do dia, composta por alunos rebeldes vindo de castigos escolares. Esse recurso ajuda a construir a expectativa e funciona como ponto da plateia. Em determinado momento, por exemplo, uma das estudantes protesta: "Ela morreu? Isso é uma história para crianças!"
Este jogo de limites entre o mundo infantil e adulto é bem trabalhado pelo olhar desses pequenos, como também da própria construção das referências. A trilha sonora intradiegética, por exemplo, cantada por Manolo em momentos pontuais está repleta de referências da cultura pop, pena que a versão em português deixa isso se perder um pouco. Da mesma forma que a crítica à tourada, um dos símbolos do México, traz à tona toda a discussão atual sobre os direitos dos animais. Assim como todas as referências culturais mexicanas.
Porém, é um filme sobre escolhas da vida, sobre a capacidade de escrevermos nossa própria história e do embate de nossos sonhos com os desejos de nossos pais. Isso, qualquer pessoa, mesmo criança, pode compreender, pois faz parte de nossa referência de vida. Temos a família como nosso modelo e é sempre difícil romper uma tradição como Manolo fará ao se recusar a ser toureiro para viver de música.
Apoiando toda essa mitologia criada, temos uma direção de arte bem cuidada com um traço forte, que simula bonecos de madeira em uma animação em 3D que nos busca referências na animação em stop motion. Todo o cenário é extremamente rico, com muitas cores e detalhes de objetos de cena, nos dando a sensação de um mundo real, apesar de toda a estética fantástica.
O mundo dos mortos também é bastante criativo, desde o Homem de Cera, passando pela alegria e colorido do mundo dos Lembrados, para a ausência de cor e vida no mundo dos Esquecidos. É interessante que a direção de arte nos passe uma das ideias centrais da trama que é que não é ruim morrer, o ruim é ser esquecido por aqueles que amamos e ainda estão vivos. O próprio Xibalba não é um ser ruim, apenas não suporta todo o sofrimento daquele lugar.
Festa no Céu é uma animação rica e bem construída, que encanta pelos detalhes e pelas camadas de interpretação possíveis. Daquelas animações que empolgam tanto crianças quanto adultos.
Festa no Céu (The Book of Life, 2014 / EUA)
Direção: Jorge R. Gutierrez
Roteiro: Jorge R. Gutierrez e Douglas Langdale
Duração: 95 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Festa no Céu
2014-10-17T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|aventura|critica|Guillermo Del Toro|infantil|Jorge R. Gutierrez|romance|
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