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Aleksey Serebryakov
Andrey Zvyagintsev
cinema asiático
critica
drama
Elena Lyadova
oscar 2015
Roman Madyanov
Leviatã
Leviatã
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Leviatã é um recorte realista de um mundo particular, mas que encontra eco em muitas culturas.
A trama se passa em uma península do Mar de Barents, no Ártico, onde o prefeito local é uma espécie de coronel da nossa história recente, mandando em tudo e em todos, criando suas próprias leis. Por causa disso, Nikolay está ameaçado de perder sua casa, recebendo apenas uma indenização simbólica. Mas, um amigo, advogado em Moscou, chega ao local para ajudá-lo.
Vários aspectos chamam a atenção na obra de Andrey Zvyagintsev, a começar pelo nome, Leviatã, que carrega com ele diversos significados que podem ser aplicados metaforicamente na luta de Nikolay contra o prefeito local. Monstro mitológico citado na Bíblia, mais precisamente no Livro de Jó, é também associado a seres do purgatório e ainda ao monstro do lago Ness, que até hoje ninguém comprovou ser verdadeiro. Mas, pensando em metáforas temos ainda a teoria de Thomas Hobbes sobre o Governo central e autoritário que ele chamou de Leviatã e em sua teoria resolveria os problemas das guerras.
É como se o Leviatã estivesse lá, soberano, e o homem que ousasse enfrentá-lo sofreria as consequências. E Nikolay sofre diversas em um jogo complexo e injusto que vai sendo traçado por diversos setores, não apenas o prefeito. É interessante perceber ao final, que todos acabam sendo peças nesse enorme tabuleiro, Lilya, Dmitriy, Roma, o casal de vizinhos. Cada um tem o seu papel, por vontade própria ou induzido, que leva ao mesmo destino.
Acompanhamos o drama de Nikolay, torcemos pela estratégia de Dmitriy, tentamos compreender Lilya, sentimos raiva do prefeito e nos solidarizamos com o jovem Roma, filho de Nikolay. Mas, no fundo, estamos apenas sendo testemunhas de mais uma luta de Davi contra Golias onde não acreditamos em soluções mágicas, nos trazendo uma certa melancolia durante toda a projeção.
E essa melancolia é reforçada pela fotografia, sempre bastante opaca, com barcos em deterioração, pelo clima frio e triste do inverno. E também pelos enquadramentos, sempre com profundidade de campo baixa quando foca nos personagens, destacando-os do cenário e nos dando a sensação ainda maior de solidão. Assim como os planos abertos nos mostram sempre a comparação do homem diminuído naquele cenário inóspito.
A direção também é bem precisa, construindo o ritmo da rotina, sem alongar em demasia os planos. Não temos a sensação de tempo arrastado ou inércia, eles estão sempre em ação, não esperam o destino parados. Pelo contrário, há até uma sensação de pressa em terminar, vide a fala da juíza nos dois julgamentos mostrados, em um texto sem pausa, onde perde o fôlego por diversas vezes e a câmera vai acompanhando a angústia, aproximando o enquadramento a cada instante.
E, no final de tudo, o roteiro ainda é hábil em nos passar as pistas para juntarmos alguns detalhes que pareciam ter ficado em aberto. Sem ser muito explícito, mas também sem deixar margem para muitas interpretações. Sabemos o que aconteceu e aquilo nos impacta em diversos aspectos. Por tudo isso, Leviatã é um filme intenso e angustiante, além de extremamente bem feito.
Leviatã (Leviafan, 2014 / Rússia)
Direção: Andrey Zvyagintsev
Roteiro: Oleg Negin, Andrey Zvyagintsev
Com: Aleksey Serebryakov, Elena Lyadova, Roman Madyanov
Duração: 140 min.
A trama se passa em uma península do Mar de Barents, no Ártico, onde o prefeito local é uma espécie de coronel da nossa história recente, mandando em tudo e em todos, criando suas próprias leis. Por causa disso, Nikolay está ameaçado de perder sua casa, recebendo apenas uma indenização simbólica. Mas, um amigo, advogado em Moscou, chega ao local para ajudá-lo.
Vários aspectos chamam a atenção na obra de Andrey Zvyagintsev, a começar pelo nome, Leviatã, que carrega com ele diversos significados que podem ser aplicados metaforicamente na luta de Nikolay contra o prefeito local. Monstro mitológico citado na Bíblia, mais precisamente no Livro de Jó, é também associado a seres do purgatório e ainda ao monstro do lago Ness, que até hoje ninguém comprovou ser verdadeiro. Mas, pensando em metáforas temos ainda a teoria de Thomas Hobbes sobre o Governo central e autoritário que ele chamou de Leviatã e em sua teoria resolveria os problemas das guerras.
É como se o Leviatã estivesse lá, soberano, e o homem que ousasse enfrentá-lo sofreria as consequências. E Nikolay sofre diversas em um jogo complexo e injusto que vai sendo traçado por diversos setores, não apenas o prefeito. É interessante perceber ao final, que todos acabam sendo peças nesse enorme tabuleiro, Lilya, Dmitriy, Roma, o casal de vizinhos. Cada um tem o seu papel, por vontade própria ou induzido, que leva ao mesmo destino.
Acompanhamos o drama de Nikolay, torcemos pela estratégia de Dmitriy, tentamos compreender Lilya, sentimos raiva do prefeito e nos solidarizamos com o jovem Roma, filho de Nikolay. Mas, no fundo, estamos apenas sendo testemunhas de mais uma luta de Davi contra Golias onde não acreditamos em soluções mágicas, nos trazendo uma certa melancolia durante toda a projeção.
E essa melancolia é reforçada pela fotografia, sempre bastante opaca, com barcos em deterioração, pelo clima frio e triste do inverno. E também pelos enquadramentos, sempre com profundidade de campo baixa quando foca nos personagens, destacando-os do cenário e nos dando a sensação ainda maior de solidão. Assim como os planos abertos nos mostram sempre a comparação do homem diminuído naquele cenário inóspito.
A direção também é bem precisa, construindo o ritmo da rotina, sem alongar em demasia os planos. Não temos a sensação de tempo arrastado ou inércia, eles estão sempre em ação, não esperam o destino parados. Pelo contrário, há até uma sensação de pressa em terminar, vide a fala da juíza nos dois julgamentos mostrados, em um texto sem pausa, onde perde o fôlego por diversas vezes e a câmera vai acompanhando a angústia, aproximando o enquadramento a cada instante.
E, no final de tudo, o roteiro ainda é hábil em nos passar as pistas para juntarmos alguns detalhes que pareciam ter ficado em aberto. Sem ser muito explícito, mas também sem deixar margem para muitas interpretações. Sabemos o que aconteceu e aquilo nos impacta em diversos aspectos. Por tudo isso, Leviatã é um filme intenso e angustiante, além de extremamente bem feito.
Leviatã (Leviafan, 2014 / Rússia)
Direção: Andrey Zvyagintsev
Roteiro: Oleg Negin, Andrey Zvyagintsev
Com: Aleksey Serebryakov, Elena Lyadova, Roman Madyanov
Duração: 140 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Leviatã
2015-02-03T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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