Corações de Ferro
Filmes de guerra normalmente seguem um padrão. Mostram os horrores da batalha, mas glorificam seus soldados, sua bravura e sua coragem. Corações de Ferro não é diferente, ainda que tenha suas particularidades. A maior delas, mostrar batalhas após o dia D, em abril de 1945, dentro da própria Alemanha.
Brad Pitt interpreta o sargento Don 'Wardaddy' Collier, um homem rígido, mas humano, que comanda um pelotão de cinco homens pela Alemanha, caçando nazistas que ainda não se renderam. Seu exemplo e sua raiva dos inimigos mantém sua tropa unida diante de situações limite. Mas, vai criar um choque especial com o novato Norman, vivido por Logan Lerman que não consegue entender o sentido daquilo.
A estrutura básica do sargento linha-dura com o novato pacifista não é novidade, mas aqui o tratamento de choque segue um caminho um pouco diferente e não chega a ser o problema principal. A questão ali é a sobrevivência e Norman vai ter que aprender da pior maneira que, na guerra, ou você mata ou você é morto. Tendo essa frase literalmente dita no filme.
O horror da guerra é exposto de maneira realista, com pedaços de corpos espalhados, até um pedaço de rosto dentro de um tanque. Baldes de sangue sendo retirados, além de tiros, bombas e batalhas. Mas, é interessante como este horror é também teorizado, inclusive nos mostrando contrastes.
Quando Norman entra no pelotão, um dos soldados diz que ele vai conhecer o que um ser humano é capaz de fazer com outro. Para logo depois, todo o grupo estar exigindo que o novato atire pelas costas em um soldado alemão que está rendido, de joelhos. É como se glorificasse e condenasse ao mesmo tempo as atitudes de todos.
Há na obra raros momentos de leveza, como a cena do piano, ou algumas brincadeiras nos percursos percorridos. Mas, no geral, a realidade da guerra não nos parece bonita, ainda que a trilha sonora eleve o status quo da cena acrescentando um ar glorificador para aqueles bravos guerreiros que não desistem de limpar a humanidade dos nazistas. Ao mesmo tempo, nos mostra também o ponto de vista do inimigo, ainda que sem personificar nenhum deles, reforçando que há seres humanos ali também.
A fotografia também é trabalhada em contrastes, desde planos gloriosos abertos, mostrando a dimensão da batalha, até planos detalhes que humanizam cada um dos que estão ali. Todos os cinco personagens são bem delineados, ainda que com alguns estereótipos: o novato e o sargento, já comentados. O religioso, o rebelde, o mexicano boa praça. Todos com nuanças capazes de nos surpreender.
Os atores ajudam nessa composição, com destaque para Logan Lerman como Norman e Shia LaBeouf como o religioso Boyd 'Bíblia' Swan que arrancam belos momentos de emoção. Brad Pitt não está ruim como o sargento Don, mas não é uma de suas melhores performances. Há verdade em algumas cenas chaves, mas, no geral, ele parece estar atuando no "piloto automático".
No final das contas, Corações de Ferro é um bom filme de guerra. Nada de novo, mas com uma história que nos envolve em bons momentos de emoção e reflexão.
Corações de Ferro (Fury, 2014 / EUA)
Direção: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Com: Brad Pitt, Shia LaBeouf, Logan Lerman
Duração: 134 min.
Brad Pitt interpreta o sargento Don 'Wardaddy' Collier, um homem rígido, mas humano, que comanda um pelotão de cinco homens pela Alemanha, caçando nazistas que ainda não se renderam. Seu exemplo e sua raiva dos inimigos mantém sua tropa unida diante de situações limite. Mas, vai criar um choque especial com o novato Norman, vivido por Logan Lerman que não consegue entender o sentido daquilo.
A estrutura básica do sargento linha-dura com o novato pacifista não é novidade, mas aqui o tratamento de choque segue um caminho um pouco diferente e não chega a ser o problema principal. A questão ali é a sobrevivência e Norman vai ter que aprender da pior maneira que, na guerra, ou você mata ou você é morto. Tendo essa frase literalmente dita no filme.
O horror da guerra é exposto de maneira realista, com pedaços de corpos espalhados, até um pedaço de rosto dentro de um tanque. Baldes de sangue sendo retirados, além de tiros, bombas e batalhas. Mas, é interessante como este horror é também teorizado, inclusive nos mostrando contrastes.
Quando Norman entra no pelotão, um dos soldados diz que ele vai conhecer o que um ser humano é capaz de fazer com outro. Para logo depois, todo o grupo estar exigindo que o novato atire pelas costas em um soldado alemão que está rendido, de joelhos. É como se glorificasse e condenasse ao mesmo tempo as atitudes de todos.
Há na obra raros momentos de leveza, como a cena do piano, ou algumas brincadeiras nos percursos percorridos. Mas, no geral, a realidade da guerra não nos parece bonita, ainda que a trilha sonora eleve o status quo da cena acrescentando um ar glorificador para aqueles bravos guerreiros que não desistem de limpar a humanidade dos nazistas. Ao mesmo tempo, nos mostra também o ponto de vista do inimigo, ainda que sem personificar nenhum deles, reforçando que há seres humanos ali também.
A fotografia também é trabalhada em contrastes, desde planos gloriosos abertos, mostrando a dimensão da batalha, até planos detalhes que humanizam cada um dos que estão ali. Todos os cinco personagens são bem delineados, ainda que com alguns estereótipos: o novato e o sargento, já comentados. O religioso, o rebelde, o mexicano boa praça. Todos com nuanças capazes de nos surpreender.
Os atores ajudam nessa composição, com destaque para Logan Lerman como Norman e Shia LaBeouf como o religioso Boyd 'Bíblia' Swan que arrancam belos momentos de emoção. Brad Pitt não está ruim como o sargento Don, mas não é uma de suas melhores performances. Há verdade em algumas cenas chaves, mas, no geral, ele parece estar atuando no "piloto automático".
No final das contas, Corações de Ferro é um bom filme de guerra. Nada de novo, mas com uma história que nos envolve em bons momentos de emoção e reflexão.
Corações de Ferro (Fury, 2014 / EUA)
Direção: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Com: Brad Pitt, Shia LaBeouf, Logan Lerman
Duração: 134 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Corações de Ferro
2015-02-04T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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