Curta Circuito: Ladrões de Cinema
Criado em 2001 em Minas Gerais, o Curta Circuito começou como um espaço para valorização do curta-metragem. Um evento para apresentar à sociedade filmes que antes ela não tinha acesso, sempre acompanhado de uma discussão posterior a sessão, tal qual um cine-clube. Com o tempo, foi-se abrindo espaço para o média metragem e depois para o longa. Assim, o Curta Circuito ampliou sua própria essência e hoje está presente em sete cidades brasileiras: Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Belém, Fortaleza, Montes Claros e Araçuaí.
Em Salvador, o evento acontece de 27 a 30 de agosto, sempre na Sala Walter da Silveira. Nos dois primeiros dias, às 19h, e no fim de semana, às 17h. Na programação, Ladrões de Cinema, quatro curtas de Aloysio Raulino, Marcelo Zona Sul e Wilsinho Galiléia. Tive o prazer de ser convidada para falar na sessão de abertura sobre o filme de Fernando Coni Campos, o Champs.
Ladrões de Cinema é, talvez, uma das maiores metáforas do nosso cinema. Um grupo de moradores de uma favela que rouba um equipamento de cinema de americanos que estavam por aqui filmando índios no carnaval e resolve fazer um filme. Depois de muito discutir o tema, eles decidem contar a história de Tiradentes, mas sem recorrer a livros de história ou mesmo visões externas, mas buscando a inspiração ali mesmo, na visão do samba enredo da Império Serrano de 1969.
Só a sinopse já gera grandes discussões e a forma como Fernando Coni Campos filma tudo isso e o elenco que ele tem em mãos deixa tudo ainda mais rico. Não vou me ater muito aqui sobre o filme para guardar para a discussão e posteriormente escreverei mais sobre ele especificadamente.
Champs era um cineasta único. Apesar de contemporâneo, nunca foi ligado ao movimento do Cinema Novo, nem do Cinema Marginal. E também não era exatamente comercial. Era um diretor extremamente autoral e se definia como um poeta. Seus filmes possuíam muita simbologia e falavam sobre o imaginário brasileiro.
Em 2009, o cineasta Felipe Kowalczuk fez um documentário sobre o diretor para o projeto Doc TV. Champs e os ladrões de cinema mostra exatamente a busca de um jovem cineasta, o Felipe, por esse diretor que ele conheceu através de um livro e não sabia quase nada sobre sua carreira. A verdade de sua busca se torna a nossa, também querendo entender melhor esse artista tão peculiar.
E assim, o documentário, ainda que simples em sua estrutura, acaba sendo um retrato fidedigno de Champs, um diretor que ficou tão pouco conhecido pelo grande público, o que é uma pena. Seus filmes não foram lançados em DVD e as poucas cópias em película ainda precisam de restauração. Eventos como o Curta Circuito são ótimas oportunidades para disponibilizar essas raridades. E apesar de Ladrões de Cinema não ser apontado como seu principal filme, Viagem ao Fim do Mundo (1968) e O Mágico e o Delegado (1983) são mais badalados por exemplo, ele acaba sendo a melhor síntese do fazer cinematográfico brasileiro. E esses são alguns pontos que pretendo levantar lá na Walter da Silveira no dia 27.
E lembrando que o evento vai até o dia 30 de agosto, sempre com exibição de filmes e bate-papo após a sessão.
Confira tudo sobre o evento no site oficial:
www.curtacircuito.com.br
Em Salvador, o evento acontece de 27 a 30 de agosto, sempre na Sala Walter da Silveira. Nos dois primeiros dias, às 19h, e no fim de semana, às 17h. Na programação, Ladrões de Cinema, quatro curtas de Aloysio Raulino, Marcelo Zona Sul e Wilsinho Galiléia. Tive o prazer de ser convidada para falar na sessão de abertura sobre o filme de Fernando Coni Campos, o Champs.
Ladrões de Cinema é, talvez, uma das maiores metáforas do nosso cinema. Um grupo de moradores de uma favela que rouba um equipamento de cinema de americanos que estavam por aqui filmando índios no carnaval e resolve fazer um filme. Depois de muito discutir o tema, eles decidem contar a história de Tiradentes, mas sem recorrer a livros de história ou mesmo visões externas, mas buscando a inspiração ali mesmo, na visão do samba enredo da Império Serrano de 1969.
Só a sinopse já gera grandes discussões e a forma como Fernando Coni Campos filma tudo isso e o elenco que ele tem em mãos deixa tudo ainda mais rico. Não vou me ater muito aqui sobre o filme para guardar para a discussão e posteriormente escreverei mais sobre ele especificadamente.
Champs era um cineasta único. Apesar de contemporâneo, nunca foi ligado ao movimento do Cinema Novo, nem do Cinema Marginal. E também não era exatamente comercial. Era um diretor extremamente autoral e se definia como um poeta. Seus filmes possuíam muita simbologia e falavam sobre o imaginário brasileiro.
Em 2009, o cineasta Felipe Kowalczuk fez um documentário sobre o diretor para o projeto Doc TV. Champs e os ladrões de cinema mostra exatamente a busca de um jovem cineasta, o Felipe, por esse diretor que ele conheceu através de um livro e não sabia quase nada sobre sua carreira. A verdade de sua busca se torna a nossa, também querendo entender melhor esse artista tão peculiar.
E assim, o documentário, ainda que simples em sua estrutura, acaba sendo um retrato fidedigno de Champs, um diretor que ficou tão pouco conhecido pelo grande público, o que é uma pena. Seus filmes não foram lançados em DVD e as poucas cópias em película ainda precisam de restauração. Eventos como o Curta Circuito são ótimas oportunidades para disponibilizar essas raridades. E apesar de Ladrões de Cinema não ser apontado como seu principal filme, Viagem ao Fim do Mundo (1968) e O Mágico e o Delegado (1983) são mais badalados por exemplo, ele acaba sendo a melhor síntese do fazer cinematográfico brasileiro. E esses são alguns pontos que pretendo levantar lá na Walter da Silveira no dia 27.
E lembrando que o evento vai até o dia 30 de agosto, sempre com exibição de filmes e bate-papo após a sessão.
Confira tudo sobre o evento no site oficial:
www.curtacircuito.com.br
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Curta Circuito: Ladrões de Cinema
2015-08-25T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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