![Filme Ladrões de Cinema Filme Ladrões de Cinema](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyQWJpN9WRvwq9mgbPTVWFDA6kOfh-_Bp48QfZLg5LYOu9IvbfOuuyk8zPUWwPuLyT28a4bUEZLqo4eVNfFRpwOLyJQtDxK-DWbtyP8yyDqeIEr6VUlCkWfYYC-jEwfoRJJiA_hZe9P9k/s200/ladroes-de-cinema-filme-02.jpg)
Carnaval do Rio de Janeiro, uma equipe norte-americana vem ao país para filmar os índios durante a festa. Índios alegóricos, é claro, para gringo ver, talvez. O fato é que um grupo do morro de Pavãozinho rouba o equipamento de filmagem da equipe e resolve fazer um filme. Após muita discussão sobre o tema, escolhem a história de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes e vão pesquisar com os antigos sambistas para conhecer melhor a história.
História com letra maiúscula que aprendemos nos livros escolares, ou não, parece não ser o interesse de Fernando Coni Campos, o Champs, aqui. Ele mesmo dizia que quem se preocupava com fatos era o historiador, o poeta se preocupava com o mito. Então, não chega a ser uma surpresa que o tema escolhido para representar o morro e a história brasileira tenha sido o mito de Tiradentes. Homem do povo que morreu pela liberdade, sem renegar os seus ideais. Enquanto que seus companheiros de movimento, todos ricos, acabaram apenas exilados.
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Estávamos no final do governo de Geisel, começava-se a vislumbrar um acordo de reabertura e anistia, mas a liberdade ainda era um sonho distante. O momento simbólico é interessante, mais ainda ao pensarmos na simbologia com a produção cinematográfica. Afinal, eles roubaram um equipamento norte-americano. Com um detalhe, sem filme, quem cede o filme para a produção é um francês que vive ali perto. Ou seja, nosso cinema é roubado dos norte-americanos e emprestado do francês. Ou de maneira mais poética, a estrutura é norte-americana, mas a alma é francesa.
Há muito do neo-realismo italiano também aqui, é claro. A começar pelo título "Ladrões de Cinema" que ecoa o clássico "Ladrões de Bicicleta". Há ainda a câmera na mão, e apesar de um elenco principal estelar, há muito da própria favela do Pavãozinho no filme. A pobreza, o realismo, o povo em tela está bem representado, mesmo quando encenam as situações do século XVIII.
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E o mais impressionante é que até hoje, o cenário continua esse. Seja para os roteiristas, ou para os produtores que continua dependendo de investimentos de fora e não conseguem implantar uma indústria. Não por acaso o final irônico que Champs nos reserva, seja pela forma como acontece o desenrolar das revelações ou pela resolução final.
É uma pena que nunca tenham feito um DVD dessa obra. Ladrões de Cinema é daqueles filmes que ficam no limbo da história. Extremamente simbólico, merecia ser visto e discutido por mais brasileiros. Fico feliz de ter tido a oportunidade de falar sobre ele no Curta-Circuito de 2015.
Ladrões de Cinema (Ladrões de Cinema, 1977 / Brasil)
Direção: Fernando Coni Campos
Roteiro: Fernando Coni Campos
Com: Lutéro Luiz, Grande Otelo, Milton Gonçalves, Antonio Pitanga, Tamara Taxman, Ana Maria Nascimento e Silva, Roberto Ananias, Rodolfo Arena, Jean-Claude Bernardet, Ruth de Souza, Léa Garcia, Wilson Grey, Luiza Barreto Leite
Duração: 128 min.