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Quarteto Fantástico
Quarteto Fantástico
O Quarteto Fantástico nunca deu sorte nos cinemas. Teve a versão trash de 1994, que é melhor deixar quieta por lá, mas a sua segunda tentativa dirigida por Tim Story, também não foi feliz, sofrendo com a comparação com a animação Os Incríveis da Pixar. Quinze anos depois, Josh Trank tenta dar outro tom à obra, mas apesar de um início promissor, ele derrapa em sua busca por equilíbrio narrativo.
A história, como a maioria das pessoas já deve saber, gira em torno do cientista Reed Richards que aqui desenvolve uma máquina de teletransporte capaz de acessar uma outra dimensão e, com isso, ele e seus companheiros de pesquisa sofrem um acidente que causa uma mutação genética, dando-lhes super poderes e muitos problemas. Mas, o roteiro desenvolvido por Simon Kinberg, Jeremy Slater e Josh Trank não segue exatamente o caminho óbvio, tentando construir uma jornada inicial de preparação do herói que acaba não funcionando tão bem em cena, principalmente por causa da sua economia narrativa.
A transformação dos super-heróis não é o foco, e não precisava ser, é verdade. Os personagens da Marvel sempre foram valorizados por seus dramas humanos, muito mais que pelos super poderes. É isso que torna um Homem-Aranha tão especial, ele ser o Peter Parker. Ou o Tony Stark que traz características muito mais interessantes que ser apenas o Homem de Ferro. O filme, então, busca se dedicar a essas pessoas. Primeiro na infância, depois na adolescência, quando conseguem emplacar o sonhado projeto.
Estas passagens de tempo, no entanto, já são um problema. São duas durante o filme, a primeira que passa da infância para a adolescência é mais suave, ainda que pudesse ser melhor trabalhada, já a segunda é extremamente problemática. A sensação que dá é que os roteiristas pensaram "caramba, já estamos com mais de uma hora de filme. Então, dá uma elipse e diz que passou um ano". O drama que eles vinham construindo é repentinamente resumido para que possamos passar à ação. Essa quebra compromete o filme inteiro, principalmente em sua parte final com um desfecho apressado e quase sem sentido.
Não que os personagens deixem de ser trabalhados, a exceção de Ben Grimm que se tornará O Coisa, as bases de compreensão e envolvimento estão lá. Uns mais que outros, é verdade. O protagonista Reed Richards, o Sr. Fantástico, é dissecado em seu sonho infantil de fazer a diferença, no bullying sofrido principalmente por um professor maniqueísta extremamente raso ou na capacidade de raciocínio e perseverança. Já o Johnny Storm, futuro Tocha Humana, é estereotipado, o playboy rebelde com problemas com o pai, que diz que ele é inteligente, mas sua função ali no projeto não fica exatamente clara. Da mesma forma que sabemos que Sue Storm, a Mulher Invisível, é boa em identificar padrões e fabrica os uniformes de proteção, mas pouco é mostrado de sua personalidade, além de gostar de música.
De qualquer maneira, o jovem elenco consegue dar conta do recado e criar empatia com o público. Nos importamos com eles, sentimos os seus sonhos desde o início. Compreendemos o desejo de ser reconhecidos quando quase perdem o projeto. E, principalmente, sentimos a dor e peso das consequências do acidente que nos parecem extremamente realistas devido ao tom que o filme imprime em sua primeira parte. Não é simplesmente uma aquisição mágica. Há ali um problema crônico, sério, extremamente dramático. Estamos lidando com pessoas e não com super-heróis.
E é exatamente nessa passagem do mundo real para o fantástico que o filme se perde. O ritmo que vinha sendo imprimido era de um filme de ficção científica, com pitadas de drama humano. Tudo era muito crível e trazia potencial. Mas, há uma quebra visível que tem a ver com a segunda passagem de tempo já citada. Não acompanhamos a progressão dessa passagem e tudo soa extremamente estranho, porque o tom se torna outro e o gênero vira aventura com elementos mágicos.
Pior do que isso, a curva dramática gera um tobogã estranho, pois acompanhávamos um grupo de pessoas que queriam realizar um sonho e depois de um acidente precisam reencontrar uma forma de viver enquanto esperam por uma cura. De repente, eles precisam salvar o mundo em uma sub-trama apressada que vai do nada ao lugar nenhum em frações de segundos, sem tempo para ser trabalhada. Nem o vilão Victor Von Doom, nem o seu plano, muito menos a reação do Quarteto. Vemos, então, uma luta genérica sem grandes emoções.
O Quarteto Fantástico se torna, então, um filme que poderia ter sido. Ainda que tenham bons efeitos especiais, bons atores e um bom começo, se perde por não definir o seu caminho de maneira corajosa. Sem virar um filme de introdução e criação de heróis, nem um filme de super-heróis. Quem sabe na próxima.
Quarteto Fantástico (Fantastic Four, 2015 / EUA)
Direção: Josh Trank
Roteiro: Simon Kinberg, Jeremy Slater, Josh Trank
Com: Miles Teller, Kate Mara, Michael B. Jordan, Jamie Bell, Toby Kebbell, Reg E. Cathey
Duração: 100 min.
A história, como a maioria das pessoas já deve saber, gira em torno do cientista Reed Richards que aqui desenvolve uma máquina de teletransporte capaz de acessar uma outra dimensão e, com isso, ele e seus companheiros de pesquisa sofrem um acidente que causa uma mutação genética, dando-lhes super poderes e muitos problemas. Mas, o roteiro desenvolvido por Simon Kinberg, Jeremy Slater e Josh Trank não segue exatamente o caminho óbvio, tentando construir uma jornada inicial de preparação do herói que acaba não funcionando tão bem em cena, principalmente por causa da sua economia narrativa.
A transformação dos super-heróis não é o foco, e não precisava ser, é verdade. Os personagens da Marvel sempre foram valorizados por seus dramas humanos, muito mais que pelos super poderes. É isso que torna um Homem-Aranha tão especial, ele ser o Peter Parker. Ou o Tony Stark que traz características muito mais interessantes que ser apenas o Homem de Ferro. O filme, então, busca se dedicar a essas pessoas. Primeiro na infância, depois na adolescência, quando conseguem emplacar o sonhado projeto.
Estas passagens de tempo, no entanto, já são um problema. São duas durante o filme, a primeira que passa da infância para a adolescência é mais suave, ainda que pudesse ser melhor trabalhada, já a segunda é extremamente problemática. A sensação que dá é que os roteiristas pensaram "caramba, já estamos com mais de uma hora de filme. Então, dá uma elipse e diz que passou um ano". O drama que eles vinham construindo é repentinamente resumido para que possamos passar à ação. Essa quebra compromete o filme inteiro, principalmente em sua parte final com um desfecho apressado e quase sem sentido.
Não que os personagens deixem de ser trabalhados, a exceção de Ben Grimm que se tornará O Coisa, as bases de compreensão e envolvimento estão lá. Uns mais que outros, é verdade. O protagonista Reed Richards, o Sr. Fantástico, é dissecado em seu sonho infantil de fazer a diferença, no bullying sofrido principalmente por um professor maniqueísta extremamente raso ou na capacidade de raciocínio e perseverança. Já o Johnny Storm, futuro Tocha Humana, é estereotipado, o playboy rebelde com problemas com o pai, que diz que ele é inteligente, mas sua função ali no projeto não fica exatamente clara. Da mesma forma que sabemos que Sue Storm, a Mulher Invisível, é boa em identificar padrões e fabrica os uniformes de proteção, mas pouco é mostrado de sua personalidade, além de gostar de música.
De qualquer maneira, o jovem elenco consegue dar conta do recado e criar empatia com o público. Nos importamos com eles, sentimos os seus sonhos desde o início. Compreendemos o desejo de ser reconhecidos quando quase perdem o projeto. E, principalmente, sentimos a dor e peso das consequências do acidente que nos parecem extremamente realistas devido ao tom que o filme imprime em sua primeira parte. Não é simplesmente uma aquisição mágica. Há ali um problema crônico, sério, extremamente dramático. Estamos lidando com pessoas e não com super-heróis.
E é exatamente nessa passagem do mundo real para o fantástico que o filme se perde. O ritmo que vinha sendo imprimido era de um filme de ficção científica, com pitadas de drama humano. Tudo era muito crível e trazia potencial. Mas, há uma quebra visível que tem a ver com a segunda passagem de tempo já citada. Não acompanhamos a progressão dessa passagem e tudo soa extremamente estranho, porque o tom se torna outro e o gênero vira aventura com elementos mágicos.
Pior do que isso, a curva dramática gera um tobogã estranho, pois acompanhávamos um grupo de pessoas que queriam realizar um sonho e depois de um acidente precisam reencontrar uma forma de viver enquanto esperam por uma cura. De repente, eles precisam salvar o mundo em uma sub-trama apressada que vai do nada ao lugar nenhum em frações de segundos, sem tempo para ser trabalhada. Nem o vilão Victor Von Doom, nem o seu plano, muito menos a reação do Quarteto. Vemos, então, uma luta genérica sem grandes emoções.
O Quarteto Fantástico se torna, então, um filme que poderia ter sido. Ainda que tenham bons efeitos especiais, bons atores e um bom começo, se perde por não definir o seu caminho de maneira corajosa. Sem virar um filme de introdução e criação de heróis, nem um filme de super-heróis. Quem sabe na próxima.
Quarteto Fantástico (Fantastic Four, 2015 / EUA)
Direção: Josh Trank
Roteiro: Simon Kinberg, Jeremy Slater, Josh Trank
Com: Miles Teller, Kate Mara, Michael B. Jordan, Jamie Bell, Toby Kebbell, Reg E. Cathey
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Quarteto Fantástico
2015-08-05T08:30:00-03:00
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