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Chatô - O Rei do Brasil
Chatô - O Rei do Brasil
Foram vinte anos de espera e já era de se esperar um filme velho, mas Guilherme Fontes conseguiu construir uma sátira inteligente e bem humorada não exatamente sobre o personagem título, mas sobre a nossa própria história. E nisso, por que não, incluir sua própria experiência.
O filme é inspirado no livro homônimo de Fernando Morais, mas não pode ser considerado exatamente uma cinebiografia de Assis Chateaubriand. Realidade, história e delírio se misturam na mente da personagem que sofre uma trombose na cerimônia de coroação da rainha Elizabeth e, em coma no hospital, rememora sua vida enquanto um estranho julgamento acontece em um programa de auditório televisivo.
Chatô esteve na coroação da rainha da Inglaterra e as garrafas de Coca-Cola escondendo a urina por causa do seu problema de saúde estão no livro de Morais, mas o restante já começa a ser ficção. Essa talvez seja uma das questões mais perigosas do filme: não saber o que é biografia e o que é pura ficção. Isso acaba construindo uma visão deturpada de uma figura pública importante para a história da comunicação brasileira, que, afinal, tem seus inúmeros defeitos, mas também tem feitos que poderiam ser exaltados.
De qualquer maneira, a intenção de Guilherme Fontes não é fazer uma cinebiografia, mas partir de uma figura pública para criar ficção, tal qual Jô Soares já tinha feito em O Homem que Matou Getúlio, e tantos outros já fizeram no cinema, no teatro ou na literatura. Mais do que isso, ele se apropria de Chatô para construir uma sátira ao Brasil, não por acaso o julgamento do protagonista acontece em um programa de auditório e sua história se mescla à própria história do país com suas artimanhas e golpes políticos.
Getúlio diz a Chatô que eles são da mesma espécie de canalha e muito da estrutura do filme se baseia na disputa dos dois. De maneira irônica, Fontes coloca como pivô de tudo isso não o poder ou o dinheiro, mas uma mulher, Vivi, interpretada de maneira incrível por Andréa Beltrão. Só isso já demonstra críticas e alfinetadas do diretor ao sistema político e manipulação da imprensa de nosso país machista e autoritário, pouco se importando com as questões mais importantes e sérias para a população.
Ao colocar o centro do julgamento na tela da televisão em um show de horrores comandado por um animador que tem elementos de Chacrinha e Silvio Santos, temos o bolo da cereja. Mais do que isso, ao interpretar ele mesmo essa figura emblemática, Fontes de certa maneira, mesmo que inconscientemente, reencena o circo que se formou em torno da produção de Chatô, com todos os erros administrativos, e questões mal amparadas pelos editais. Não há culpados ou vítimas, apenas mais um capítulo esdrúxulo de nossa história.
Mas, ao escolher também esse formato onírico, Guilherme Fontes também consegue mascarar as possíveis falhas de um filme realizado em etapas tão dilatadas, vide o sotaque de Marco Ricca que some e reaparece, ao dar vida a uma personagem com intervalos de mais de dez anos entre as gravações. Mas, o roteiro e a montagem conseguem equilibrar tudo isso em um ritmo alucinante, com um tom ácido que nos envolve e nos conquista, fazendo sair da sala de projeção satisfeitos.
Vi alguns comparando a Cidadão Kane. A comparação é óbvia pela história dos protagonistas e porque ele busca do leito de morte compreender aquela figura e sua importância para a história da comunicação do país. Mas, óbvio também que a comparação acaba por aí, afinal, não há no filme Chatô inovações na linguagem cinematográfica, há apenas uma boa utilização dos recursos que tinha em mãos. Utilizados com inteligência, é verdade, mas que não revolucionam nossa história. Não nos deixemos levar pela empolgação.
O maior feito de Chatô é o filme existir e ser bom depois de tantas intempéries para ser realizado. É ver uma coerência interna que nos leva a uma viagem fílmica agradável e, por que não, surpreendente. Criatividade e um ótimo elenco, ainda que com sérios problemas administrativos. Um filme que já estreia entrando para a história.
Chatô - O Rei do Brasil (2015 / Brasil)
Direção: Guilherme Fontes
Roteiro: Guilherme Fontes, João Emanuel Carneiro
Com: Marco Ricca, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Letícia Sabatella, Eliane Giardini, Gabriel Braga Nunes, Zezé Polessa, Walmor Chagas, José Lewgoy, Marcos Oliveira
Duração: 102 min.
O filme é inspirado no livro homônimo de Fernando Morais, mas não pode ser considerado exatamente uma cinebiografia de Assis Chateaubriand. Realidade, história e delírio se misturam na mente da personagem que sofre uma trombose na cerimônia de coroação da rainha Elizabeth e, em coma no hospital, rememora sua vida enquanto um estranho julgamento acontece em um programa de auditório televisivo.
Chatô esteve na coroação da rainha da Inglaterra e as garrafas de Coca-Cola escondendo a urina por causa do seu problema de saúde estão no livro de Morais, mas o restante já começa a ser ficção. Essa talvez seja uma das questões mais perigosas do filme: não saber o que é biografia e o que é pura ficção. Isso acaba construindo uma visão deturpada de uma figura pública importante para a história da comunicação brasileira, que, afinal, tem seus inúmeros defeitos, mas também tem feitos que poderiam ser exaltados.
De qualquer maneira, a intenção de Guilherme Fontes não é fazer uma cinebiografia, mas partir de uma figura pública para criar ficção, tal qual Jô Soares já tinha feito em O Homem que Matou Getúlio, e tantos outros já fizeram no cinema, no teatro ou na literatura. Mais do que isso, ele se apropria de Chatô para construir uma sátira ao Brasil, não por acaso o julgamento do protagonista acontece em um programa de auditório e sua história se mescla à própria história do país com suas artimanhas e golpes políticos.
Getúlio diz a Chatô que eles são da mesma espécie de canalha e muito da estrutura do filme se baseia na disputa dos dois. De maneira irônica, Fontes coloca como pivô de tudo isso não o poder ou o dinheiro, mas uma mulher, Vivi, interpretada de maneira incrível por Andréa Beltrão. Só isso já demonstra críticas e alfinetadas do diretor ao sistema político e manipulação da imprensa de nosso país machista e autoritário, pouco se importando com as questões mais importantes e sérias para a população.
Ao colocar o centro do julgamento na tela da televisão em um show de horrores comandado por um animador que tem elementos de Chacrinha e Silvio Santos, temos o bolo da cereja. Mais do que isso, ao interpretar ele mesmo essa figura emblemática, Fontes de certa maneira, mesmo que inconscientemente, reencena o circo que se formou em torno da produção de Chatô, com todos os erros administrativos, e questões mal amparadas pelos editais. Não há culpados ou vítimas, apenas mais um capítulo esdrúxulo de nossa história.
Mas, ao escolher também esse formato onírico, Guilherme Fontes também consegue mascarar as possíveis falhas de um filme realizado em etapas tão dilatadas, vide o sotaque de Marco Ricca que some e reaparece, ao dar vida a uma personagem com intervalos de mais de dez anos entre as gravações. Mas, o roteiro e a montagem conseguem equilibrar tudo isso em um ritmo alucinante, com um tom ácido que nos envolve e nos conquista, fazendo sair da sala de projeção satisfeitos.
Vi alguns comparando a Cidadão Kane. A comparação é óbvia pela história dos protagonistas e porque ele busca do leito de morte compreender aquela figura e sua importância para a história da comunicação do país. Mas, óbvio também que a comparação acaba por aí, afinal, não há no filme Chatô inovações na linguagem cinematográfica, há apenas uma boa utilização dos recursos que tinha em mãos. Utilizados com inteligência, é verdade, mas que não revolucionam nossa história. Não nos deixemos levar pela empolgação.
O maior feito de Chatô é o filme existir e ser bom depois de tantas intempéries para ser realizado. É ver uma coerência interna que nos leva a uma viagem fílmica agradável e, por que não, surpreendente. Criatividade e um ótimo elenco, ainda que com sérios problemas administrativos. Um filme que já estreia entrando para a história.
Chatô - O Rei do Brasil (2015 / Brasil)
Direção: Guilherme Fontes
Roteiro: Guilherme Fontes, João Emanuel Carneiro
Com: Marco Ricca, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Letícia Sabatella, Eliane Giardini, Gabriel Braga Nunes, Zezé Polessa, Walmor Chagas, José Lewgoy, Marcos Oliveira
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Chatô - O Rei do Brasil
2015-12-09T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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