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O Clã
O Clã
Diretor de filmes de sucesso como Abutres e Elefante Branco, Pablo Trapero dirige o candidato a uma vaga de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar pela Argentina. Um filme intenso baseado em uma história real.
Após a ditadura militar, alguns integrantes das forças armadas resolveram começar uma espécie de negócio. Sequestro de pessoas ricas no país. O pior é que além do resgate, as vítimas acabavam sendo descartadas como queima de arquivo. E entre os mais famosos estão os Puccio, uma família aparentemente comum, tendo inclusive um dos filhos como um bem sucedido esportista.
Pablo Trapero poderia escolher diversos caminhos para contar essa história, o viés histórico e político talvez fosse o mais óbvio, porém, o diretor prefere trazer essa história real para o lado pessoal, para a intimidade da família, e mais precisamente para a tensão criada entre pai e filho. Alex e Arquímedes se amam e se odeiam com tamanha intensidade que nos conduzem em igual tensão por toda a trama.
Alex tem sonhos, tem o talento no rúgbi, tem uma namorada que ama, tem um futuro promissor. Mas, tem também um pai que o chantageia e o oferece o caminho mais fácil. E ele não nega, por mais que se incomode, que por vezes condene, ele também facilmente aceita não apenas ajudar nos "serviços" como agradece com um sorriso o dinheiro que vem disso. Condenar o velho mafioso é fácil, mas e a responsabilidade daqueles cúmplices passivos, como fica?
Com um roteiro não-linear que vai reconstruindo momentos históricos ao mesmo tempo em que nos dá o final e o início daquela família, o filme não nos surpreende pela descoberta dos crimes, afinal a existência do filme já indica que aquilo aconteceu. Mas, o como isso acontece, e principalmente, os acontecimentos na prisão não deixam de ser impactantes, com destaque para impressionante cena final de Alex e as revelações durante os créditos.
O fato de já sabermos do final, no entanto, tira um pouco do suspense e nos dá momentos de terror e tensão pela naturalidade como tudo aquilo é conduzido pela família. Como cortar um frango com arroz para o refém, ou apresentar a próxima vítima como um "amigo de toda a vida".
É curioso também a forma como Alex está sempre envolvido e à parte ao mesmo tempo. Sempre no momento-chave de escrever a carta, o rapaz é mostrado em uma montagem paralela fazendo outra coisa. Marcando de maneira clara que ele não está completamente envolvido, nem mesmo emocionalmente, continuando a sua vida independente do que acontece no sótão de sua casa.
Ainda que tenha momentos confusos e pudesse desenvolver um pouco melhor as motivações das personagens, O Clã é um filme intenso e bem realizado que nos deixa com o impacto das revelações finais nos fazendo pensar não apenas naquela família, mas na humanidade e no que somos capazes por dinheiro.
O Clã (El Clan, 2015 / Argentina)
Direção: Pablo Trapero
Roteiro: Julian Loyola, Esteban Student, Pablo Trapero
Com: Antonia Bengoechea, Gastón Cocchiarale, Guillermo Francella
Duração: 110 min.
Após a ditadura militar, alguns integrantes das forças armadas resolveram começar uma espécie de negócio. Sequestro de pessoas ricas no país. O pior é que além do resgate, as vítimas acabavam sendo descartadas como queima de arquivo. E entre os mais famosos estão os Puccio, uma família aparentemente comum, tendo inclusive um dos filhos como um bem sucedido esportista.
Pablo Trapero poderia escolher diversos caminhos para contar essa história, o viés histórico e político talvez fosse o mais óbvio, porém, o diretor prefere trazer essa história real para o lado pessoal, para a intimidade da família, e mais precisamente para a tensão criada entre pai e filho. Alex e Arquímedes se amam e se odeiam com tamanha intensidade que nos conduzem em igual tensão por toda a trama.
Alex tem sonhos, tem o talento no rúgbi, tem uma namorada que ama, tem um futuro promissor. Mas, tem também um pai que o chantageia e o oferece o caminho mais fácil. E ele não nega, por mais que se incomode, que por vezes condene, ele também facilmente aceita não apenas ajudar nos "serviços" como agradece com um sorriso o dinheiro que vem disso. Condenar o velho mafioso é fácil, mas e a responsabilidade daqueles cúmplices passivos, como fica?
Com um roteiro não-linear que vai reconstruindo momentos históricos ao mesmo tempo em que nos dá o final e o início daquela família, o filme não nos surpreende pela descoberta dos crimes, afinal a existência do filme já indica que aquilo aconteceu. Mas, o como isso acontece, e principalmente, os acontecimentos na prisão não deixam de ser impactantes, com destaque para impressionante cena final de Alex e as revelações durante os créditos.
O fato de já sabermos do final, no entanto, tira um pouco do suspense e nos dá momentos de terror e tensão pela naturalidade como tudo aquilo é conduzido pela família. Como cortar um frango com arroz para o refém, ou apresentar a próxima vítima como um "amigo de toda a vida".
É curioso também a forma como Alex está sempre envolvido e à parte ao mesmo tempo. Sempre no momento-chave de escrever a carta, o rapaz é mostrado em uma montagem paralela fazendo outra coisa. Marcando de maneira clara que ele não está completamente envolvido, nem mesmo emocionalmente, continuando a sua vida independente do que acontece no sótão de sua casa.
Ainda que tenha momentos confusos e pudesse desenvolver um pouco melhor as motivações das personagens, O Clã é um filme intenso e bem realizado que nos deixa com o impacto das revelações finais nos fazendo pensar não apenas naquela família, mas na humanidade e no que somos capazes por dinheiro.
O Clã (El Clan, 2015 / Argentina)
Direção: Pablo Trapero
Roteiro: Julian Loyola, Esteban Student, Pablo Trapero
Com: Antonia Bengoechea, Gastón Cocchiarale, Guillermo Francella
Duração: 110 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Clã
2015-12-11T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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