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Thainá Duarte
Mundo Cão
Mundo Cão
Olho por olho, dente por dente. Essa lei salomônica nunca foi a solução ideal para nenhum embate. A figura do vingador, da justiça pelas próprias mãos, na reparação do erro com outro erro, sempre nos fez caminhar em círculos. O novo filme de Marcos Jorge acaba trazendo esse tema em voga em uma trama inusitada que gera bons momentos e outros nem tanto.
Diretor de um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos (Estômago), Marcos Jorge retorna ao universo da periferia para tratar não apenas de vingança, mas de ódio e não aceitação de acontecimentos em suas vidas. Os dois personagens principais são assim. Pessoas com sangue quente que quando descobrem o desvio do destino, decidem revidar, por não achar justo o que aconteceu.
É nessa construção que o personagem de Lázaro Ramos parte para um plano de vingança contra Santana, personagem de Babu Santana. Chefe de um bando de bandidos do jogo de caça níquel, Nenê tem uma paixão, os seus cães. Verdadeiras feras treinadas para assustar os inimigos. Mas, um dos seus rottweilers foge e acaba sacrificado pelos funcionários da prefeitura após o prazo de três dias sem nenhum dono para reclamá-lo. Ele então, resolve sequestrar João, o filho de Santana para se vingar. E, nessa atitude começa o ciclo, com consequências para ambos os lados.
Ainda que o miolo da trama se perca um pouco perdendo o fôlego, há qualidades ali. A apresentação dos personagens, o ritmo da introdução do conflito e a resolução são instigantes, envolventes e até mesmo surpreendentes. Perde um pouco o sentido, o desenvolvimento. As peripécias são frágeis, os próprios personagens ficam perdidos sem saber como agir quando a cabeça esfria e com isso, a situação perde impacto e se torna quase absurda.
Há também alguns elementos forçados. Um detalhe que é escondido e traz algum jogo após a revelação é interessante, ainda que não necessário. Mas, uma certa virada na trama apesar da imagem impactante e até mesmo dos efeitos especiais convincentes, são tão sem sentido que nos fazem pensar ser apenas um recurso forçado pelos roteiristas para a trama continuar tendo fôlego.
Ainda assim, o elenco segura o texto. Todos estão muito bem, desde o pequeno Vini Carvalho e da jovem Thainá Duarte, passando por Adriana Esteves e Milhem Cortaz. Mas, os nomes do filme são mesmo Lázaro Ramos e Babu Santana. À vontade em cena, tornam o embate dos personagens ainda mais intenso e envolvente. Somos capazes de nos ligar a ambos, ao mesmo tempo que não torcemos exatamente por nenhum dos dois.
Mundo Cão nos traz questões sobre os maus tratos de animais, o sacrifício que já foi proibido por lei, o crime organizado, a relação familiar e até religiosa. Os temas poderiam ser melhor trabalhados e aprofundados, porém, traz bons momentos que nos mantem interessados no desenrolar, mesmo com as incongruências.
Um filme, no mínimo, curioso, até por manter Marcos Jorge em um caminho paralelo no cinema nacional. Ainda que sofra da pressão e da sina de não conseguir superar o seu filme de estreia.
Mundo Cão (Mundo Cão, 2016 / Brasil)
Direção: Marcos Jorge
Roteiro: Marcos Jorge, Lusa Silvestre
Com: Lázaro Ramos, Babu Santana, Adriana Esteves, Milhem Cortaz, Thainá Duarte
Duração: 90 min.
Diretor de um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos (Estômago), Marcos Jorge retorna ao universo da periferia para tratar não apenas de vingança, mas de ódio e não aceitação de acontecimentos em suas vidas. Os dois personagens principais são assim. Pessoas com sangue quente que quando descobrem o desvio do destino, decidem revidar, por não achar justo o que aconteceu.
É nessa construção que o personagem de Lázaro Ramos parte para um plano de vingança contra Santana, personagem de Babu Santana. Chefe de um bando de bandidos do jogo de caça níquel, Nenê tem uma paixão, os seus cães. Verdadeiras feras treinadas para assustar os inimigos. Mas, um dos seus rottweilers foge e acaba sacrificado pelos funcionários da prefeitura após o prazo de três dias sem nenhum dono para reclamá-lo. Ele então, resolve sequestrar João, o filho de Santana para se vingar. E, nessa atitude começa o ciclo, com consequências para ambos os lados.
Ainda que o miolo da trama se perca um pouco perdendo o fôlego, há qualidades ali. A apresentação dos personagens, o ritmo da introdução do conflito e a resolução são instigantes, envolventes e até mesmo surpreendentes. Perde um pouco o sentido, o desenvolvimento. As peripécias são frágeis, os próprios personagens ficam perdidos sem saber como agir quando a cabeça esfria e com isso, a situação perde impacto e se torna quase absurda.
Há também alguns elementos forçados. Um detalhe que é escondido e traz algum jogo após a revelação é interessante, ainda que não necessário. Mas, uma certa virada na trama apesar da imagem impactante e até mesmo dos efeitos especiais convincentes, são tão sem sentido que nos fazem pensar ser apenas um recurso forçado pelos roteiristas para a trama continuar tendo fôlego.
Ainda assim, o elenco segura o texto. Todos estão muito bem, desde o pequeno Vini Carvalho e da jovem Thainá Duarte, passando por Adriana Esteves e Milhem Cortaz. Mas, os nomes do filme são mesmo Lázaro Ramos e Babu Santana. À vontade em cena, tornam o embate dos personagens ainda mais intenso e envolvente. Somos capazes de nos ligar a ambos, ao mesmo tempo que não torcemos exatamente por nenhum dos dois.
Mundo Cão nos traz questões sobre os maus tratos de animais, o sacrifício que já foi proibido por lei, o crime organizado, a relação familiar e até religiosa. Os temas poderiam ser melhor trabalhados e aprofundados, porém, traz bons momentos que nos mantem interessados no desenrolar, mesmo com as incongruências.
Um filme, no mínimo, curioso, até por manter Marcos Jorge em um caminho paralelo no cinema nacional. Ainda que sofra da pressão e da sina de não conseguir superar o seu filme de estreia.
Mundo Cão (Mundo Cão, 2016 / Brasil)
Direção: Marcos Jorge
Roteiro: Marcos Jorge, Lusa Silvestre
Com: Lázaro Ramos, Babu Santana, Adriana Esteves, Milhem Cortaz, Thainá Duarte
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Mundo Cão
2016-03-29T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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