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Filho de Paulo Morelli, Pedro Morelli faz seu primeiro voo solo e não decepciona. Zoom não chega a ser a vanguarda que promete a seleção do Festival de Toronto de que ele fez parte, mas traz experimentos interessantes, com críticas ainda tímidas, mas com uma dinâmica envolvente que torna um filme divertido.
São três histórias e três linguagens. Emma, vivida por Alison Pill trabalha em uma fábrica de mulheres infláveis, sonha em ter seios grandes e nas horas vagas desenha uma HQ. Michelle é modelo, mas quer mesmo ser escritora. Já Edward é um famoso diretor de filmes de ação que quer provar que pode ser um cineasta autoral de filmes de arte que tenha algo mais a dizer.
A vida deles está mais ligada do que imaginam e é interessante como o roteiro vai desenrolando esse fio condutor de maneira sutil. A estrutura se torna cíclica, ainda que cada um tenha a sua curva dramática independente. O enredo trata de questões parecidas nas três histórias que está sempre no embate do superficial versus a alma humana. Quem são essas pessoas na aparência e o que querem de fato. Como são levadas pelas circunstâncias da vida, muitas vezes caindo em erros.
Pena que o roteiro não aprofunde isso. Fica tudo ali apenas latente, na superfície também. A questão da mulher na sociedade, o machismo e outros pequenos detalhes passam quase despercebidos. Mas não deixa de construir uma divertida sátira à própria discussão, principalmente na parte final, quando o roteiro do filme de Edward começa a ser discutido ou os seios de Emma se tornam um problema.
A mistura de animação e live action não é novidade, mas o fato de termos uma metalinguagem constante na obra traz algumas situações interessantes, como a animação do rascunho dos desenhos que aos poucos vai ganhando forma. Por vezes, acompanhamos apenas os traços sem colorido. É como se Edward e seu mundo fossem surgindo ali em nossa frente.
A própria situação da metalinguagem ou imersão de história dentro de outra história também já foi bastante explorada. Mas, Zoom traz alguns elementos a mais que tornam instigantes os enlaces e até mesmo a resolução daquilo. Como um grande exercício de aproximar mesmo a lente de aumento sobre determinada realidade em um "zoom in". Para depois dar um "zoom out", se afastando para compreender o todo.
O elenco misto com atores de países diversos consegue algum equilíbrio, ainda que não traga grandes destaques. Mariana Ximenes traz uma artificialidade inclusive na fala no início, mas que pode ser proposital diante da trajetória da personagem. O núcleo de Gael Garcia Bernal tem uma participação atípica, já que são animados em rotoscopia, ou seja, o desenho é feito em cima de uma imagem real.
No final, Zoom é um filme divertido, com potencial para mais, mas que consegue um bom resultado, ainda mais para um diretor estreante em um projeto tão ousado. Torço para que o caminho de Pedro Morelli nos surpreenda cada vez mais. O cinema, não apenas o nacional, está precisando de novos ares há muito tempo.
Zoom (Zoom, 2015 / Brasil / Canadá)
Direção: Pedro Morelli
Roteiro: Matt Hansen
Com: Gael García Bernal, Alison Pill, Mariana Ximenes, Jason Priestley, Claudia Ohana, Tyler Labine, Don McKellar
Duração: 96 min.
São três histórias e três linguagens. Emma, vivida por Alison Pill trabalha em uma fábrica de mulheres infláveis, sonha em ter seios grandes e nas horas vagas desenha uma HQ. Michelle é modelo, mas quer mesmo ser escritora. Já Edward é um famoso diretor de filmes de ação que quer provar que pode ser um cineasta autoral de filmes de arte que tenha algo mais a dizer.
A vida deles está mais ligada do que imaginam e é interessante como o roteiro vai desenrolando esse fio condutor de maneira sutil. A estrutura se torna cíclica, ainda que cada um tenha a sua curva dramática independente. O enredo trata de questões parecidas nas três histórias que está sempre no embate do superficial versus a alma humana. Quem são essas pessoas na aparência e o que querem de fato. Como são levadas pelas circunstâncias da vida, muitas vezes caindo em erros.
Pena que o roteiro não aprofunde isso. Fica tudo ali apenas latente, na superfície também. A questão da mulher na sociedade, o machismo e outros pequenos detalhes passam quase despercebidos. Mas não deixa de construir uma divertida sátira à própria discussão, principalmente na parte final, quando o roteiro do filme de Edward começa a ser discutido ou os seios de Emma se tornam um problema.
A mistura de animação e live action não é novidade, mas o fato de termos uma metalinguagem constante na obra traz algumas situações interessantes, como a animação do rascunho dos desenhos que aos poucos vai ganhando forma. Por vezes, acompanhamos apenas os traços sem colorido. É como se Edward e seu mundo fossem surgindo ali em nossa frente.
A própria situação da metalinguagem ou imersão de história dentro de outra história também já foi bastante explorada. Mas, Zoom traz alguns elementos a mais que tornam instigantes os enlaces e até mesmo a resolução daquilo. Como um grande exercício de aproximar mesmo a lente de aumento sobre determinada realidade em um "zoom in". Para depois dar um "zoom out", se afastando para compreender o todo.
O elenco misto com atores de países diversos consegue algum equilíbrio, ainda que não traga grandes destaques. Mariana Ximenes traz uma artificialidade inclusive na fala no início, mas que pode ser proposital diante da trajetória da personagem. O núcleo de Gael Garcia Bernal tem uma participação atípica, já que são animados em rotoscopia, ou seja, o desenho é feito em cima de uma imagem real.
No final, Zoom é um filme divertido, com potencial para mais, mas que consegue um bom resultado, ainda mais para um diretor estreante em um projeto tão ousado. Torço para que o caminho de Pedro Morelli nos surpreenda cada vez mais. O cinema, não apenas o nacional, está precisando de novos ares há muito tempo.
Zoom (Zoom, 2015 / Brasil / Canadá)
Direção: Pedro Morelli
Roteiro: Matt Hansen
Com: Gael García Bernal, Alison Pill, Mariana Ximenes, Jason Priestley, Claudia Ohana, Tyler Labine, Don McKellar
Duração: 96 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
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2016-03-31T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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