
É um road movie, mas ao mesmo tempo não é. É um retrato de uma família desfeita, mas que traduz um pouco do sentimento norte-americano da época. Travis Henderson é errante em meio ao deserto e precisa se readaptar, reconquistar seu filho e reencontrar a mãe dele. Mas, ao mesmo tempo, ele não precisa ou mesmo quer de fato tudo isso. Talvez vagar no deserto, sem rumo, sem passado, seja sua verdadeira vontade. Ou ainda, quem sabe, retornar a Paris, pequeno vilarejo no meio do Texas, onde acredita ter sido concebido.

Mas Trevis deixou um filho. Um garoto esperto que agora tem sete anos. E apesar de adaptado aos pais adotivos, que são na verdade seus tios, há indícios que a ausência dos progenitores incomoda. Apesar de desconfiado e até mesmo arredio à primeira vista, Hunter quer se aproximar de seu pai. E também quer encontrar sua mãe.


Muito dessa emoção também está transmitida através das escolhas da fotografia. Os contrastes do deserto do Texas e das cidades de Los Angeles e Houston. As cores saturadas. O vermelho presente no casal de protagonista que depois muda para preto. As sombras projetadas. As escolhas dos planos que nos revelam olhares. Tudo ali nos traz sensações. Assim como a trilha sonora, com acordes melancólicos e tristeza que paira no ar. Isso sem falar no elenco que também acrescenta muito à trama.
"Paris, Texas" é daqueles filmes que retratam uma geração, revelam uma época e um país a partir de um olhar estrangeiro, mas que traz muitas referências e até mesmo admiração. Travis é uma espécie de cowboy, um solitário, um andarilho, mas que não tem mais uma batalha com índios nem bandidos a vencer. Sua batalha é interna e é familiar. E, talvez por isso, seja tão universal ainda hoje, mais de trinta anos depois de sua primeira exibição.
Paris, Texas (1984, Reino Unido / Alemanha Ocidental / França)
Direção: Wim Wenders
Roteiro: Sam Shepard
Com: Harry Dean Stanton, Nastassja Kinski, Dean Stockwell
Duração: 147 min.