Acusados
Divulgando seu novo filme, Jogo do Dinheiro, no Festival de Cannes, Jodie Foster falou sobre o excesso de estupros em filmes. “É ridículo. Isso acontece em todo filme que você vê. As motivações das personagens femininas, no final das contas, sempre são estupro", afirmou a atriz e diretora. Em tempos em que se discute a cultura do estupro é mesmo algo a se pensar. Mas, filmes como Acusados acabam sendo também uma forma de denúncia e reflexão.
Na obra, a própria Jodie Foster é Sarah Tobias, uma mulher que sofre um estupro coletivo em um bar. Por ser uma mulher de vida desregrada, que bebe, fuma, usa drogas e roupas provocantes, o escritório de advocacia que a representa teme a ida ao tribunal, preferindo fazer um acordo com os agressores, o que desagrada Sarah. Após refletir sobre o caso, a promotora Kathryn Murphy percebe que cometeu um erro e vai tentar uma nova forma de obter justiça para sua cliente.
O fato de Sarah ser uma mulher mal vista pela sociedade torna o filme e a discussão ainda mais importante. Não é porque ela pode se insinuar e até mesmo querer sexo com mais de um homem que ela mereça ser violentada. A maneira como o filme discute isso é extremamente delicada desde o primeiro momento, com ela correndo pela rua ou quando vai fazer o exame de corpo de delito.
A figura da promotora Kathryn Murphy também é extremamente importante, única advogada mulher do escritório, ela parece incrédula e até mesmo contra a jovem. Mas, aos poucos, vai percebendo a gravidade da situação e a tentativa de culpar a vítima pelo ponto de vista masculino. Quando um homem em específico provoca Sarah, ela finalmente percebe do que se trata tudo aquilo.
O roteiro é bem executado, nos dando as informações aos poucos. A cena do crime, por exemplo, só vem na parte final, em um momento-chave, que vai reconstruindo em nossa frente o que imaginamos até então. Não há meias palavras, mas sim, a constatação de um crime, independente do que ela possa ter feito antes disso.
Jodie Foster está muito bem em cena, não por acaso este papel lhe rendeu um Oscar. Ela consegue passar a mulher sedutora, rebelde ou mesmo a menina indefesa, tudo ao mesmo tempo. Sua postura feliz apesar de tudo diante da vida é comovente, como quando ela vai ao escritório ao lado da amiga Sally. Da mesma forma que demonstra todo o sofrimento pelo trauma em momentos como quando fala com a mãe pelo telefone, ou no depoimento.
Há um tom direto na obra, realista, sem muitas nuanças e isso acaba criando um impacto maior diante do tema. Ainda mais por ser baseado em uma história real.
Acusados (The Accused, 1988 / EUA)
Direção: Jonathan Kaplan
Roteiro: Tom Topor
Com: Kelly McGillis, Jodie Foster, Bernie Coulson
Duração: 111 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Acusados
2016-06-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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