Home
aventura
classicos
Geena Davis
grandes cenas
Harvey Keitel
Michael Madsen
Ridley Scott
Susan Sarandon
Grandes Cenas: Thelma & Louise (com spoilers)
Grandes Cenas: Thelma & Louise (com spoilers)
A mulher sempre foi vítima de machismo em nossa cultura. No cinema não é diferente. Há cada vez mais mulheres heroínas, é verdade, símbolos do empoderamento feminino e da virada de posicionamento dramático, onde a mulher era sempre a indefesa que necessita de um homem para protegê-la ou a perdida que merece apanhar e ser objeto. É possível perceber esses preconceitos mesmo em um filme que busca valorizar a mulher, como Thelma e Louise, obra de Ridley Scott, com roteiro de Callie Khouri.
Na trama, duas mulheres saem em um fim de semana para se divertir em uma casa na montanha. Porém, no caminho, se envolvem em uma confusão que acaba em assassinato. Um homem com o qual Thelma flertou em um bar, a leva para o estacionamento e tenta estuprá-la. Louise. para salvar a amiga. acaba atirando no agressor. As duas fogem durante toda a projeção. E ainda complicam sua situação quando o personagem de Brad Pitt rouba o dinheiro que as duas tinham conseguido para fugir para o México.
Nem todos os homens são agressores, é verdade. Temos Michael Madsen, que faz o namorado de Louise, que leva o dinheiro para elas. E tem o personagem do detetive, vivido por Harvey Keitel, que apesar de cumprir sua função de caça, é o que demonstra maior simpatia pela causa das duas. Tanto que na cena final, ele é a voz da razão em tudo aquilo.
Então, chegamos à cena final, que é objeto de análise nessa postagem. Após muitas estratégias de fuga e algumas complicações, Thelma e Louise correm pela estrada do Arizona e freiam exatamente na beira do Grand Canyon. As duas param para admirar a beleza do local. É um momento de lirismo, mesmo em plena fuga, elas conseguem ver a beleza que é a natureza e a vida.
Ridley Scott nos dá um plano em que vemos muito mais o céu e as nuvens que a própria depressão do vale para, só depois, encontrar as duas sentadas no carro. Vemo-las de fora, como observadores apenas, e o rosto de ambas está na sombra. Só quando o som do helicóptero começa a ser ouvido, um plano rápido do rosto de Louise já com o ponto de vista de dentro do carro é visto para depois abrir para uma cena onde mostra o carro de fundo com o helicóptero subindo pela fenda.
Ou seja, o diretor nos relembra com quem estamos e nos faz sentir o medo quebrando o lirismo anterior. Para logo depois nos dar um close do detetive e partir para um plano geral onde vemos a poeira que o helicóptero levanta encobrir o carro das duas. Elas tentam fugir, mas, do outro lado, veem diversos carros policiais cercando-as. A sensação é de não ter mesmo saída, tanto que, apesar de termos um close das duas já dentro do carro, não mais pelo vidro como anteriormente, todo o cenário atrás delas está com poeira, construindo uma espécie de desfocagem e destacando o isolamento das duas, ainda que não tenha uma profundidade de campo baixa na tela.
Corta para um plano geral onde vemos o carro das duas girando novamente na direção do Grand Canyon, em um gesto de desespero. Elas se viram contra o perigo iminente, ainda que o outro lado não lhes dê uma posição mais confortável. Vemos, então, planos detalhes das armas sendo preparadas. E um plano conjunto da quantidade de policiais mirando-as. Voltamos para o carro onde Thelma e Louise se assustam com a quantidade e Louise pergunta: "tudo isso para nós?"
Corta, então, para o detetive discutindo a mesma coisa com o chefe da operação. Afinal, são apenas duas garotas, no que o homem rebate que elas são armadas e perigosas. Aqui, temos a definição do filme. São suas mulheres que, apesar de uma ser casada e outra em um relacionamento estável, resolveram se divertir sozinhas. "Arrumaram" confusão e mataram um homem, continuando a ser um perigo para a sociedade por tudo que fizeram para fugir, inclusive explodindo um posto de gasolina. Para a visão deles, é mesmo algo assustador. Sem dúvidas, são foras-da-lei, o detetive concorda com isso, mas o fato de terem tantos homens ali apenas para prendê-las nos faz pensar, o que fariam com elas quando conseguissem? Thelma e Louise com certeza pensaram a mesma coisa, por isso, tomaram a decisão mais drástica.
Percebam que quando os dois policiais discutem e o segundo explica que aquilo tudo é necessário porque elas são perigosas e a câmera de Ridley Scott volta a se afastar delas. Vemo-las novamente pelo vidro do carro com os rostos na sombra. Vemo-las por trás e até pela mira de uma arma, mostrando suas cabeças como alvo. Mas, também não vemos os rostos de seus agressores, apenas mãos e armas em detalhe. Mesmo os policiais que falam no alto-falante para elas se entregarem estão de óculos escuros.
Voltamos para os dois discutindo o absurdo da situação e, na indignação do detetive, voltamos a nos aproximar das duas. Quando corta para o carro, estamos novamente dentro dele, vendo-as em close. E pela primeira vez, as duas estão enquadradas no mesmo plano, ainda que quando vemos o rosto de uma, vemos apenas partes da cabeça da outra, até então, era apenas cada uma em separado no plano. E Thelma faz a proposta de não se entregar: "vamos simplesmente continuar". Nessa decisão e cumplicidade do destino de ambas, até o sol tenta participar, ajudando a iluminar o rosto de Louise. As duas se abraçam e se beijam selando o pacto e aparecendo, de fato, juntas em um mesmo plano.
Vemos novamente o close do detetive tendo o chefe da operação logo atrás. E depois vemos o plano geral do carro ligando e indo na direção do Gran Canyon. O detetive percebe e vai correndo atrás, ainda vemos um policial com a arma em punho e depois a cena do detetive correndo com o braço pra cima. Quase não vemos o carro, apenas a poeira que ele deixa. Um novo plano agora com o carro de lado, ainda correndo e depois o detetive agora de frente correndo, tendo o cerco atrás dele já desfocado pela poeira, ou seja, ele está só nessa última tentativa de salvá-las.
Mas elas simplesmente continuam, dão as mãos, a câmera se aproxima fechando nas mãos entrelaçadas e depois mostra a foto que elas tiraram no início da jornada que voa para um lado, enquanto que o carro voa pelo despenhadeiro, com a música subindo em primeiro plano para aumentar a emoção. E o detalhe final. A imagem congela no ar. Não vemos o carro caindo. É como se as duas simplesmente continuassem em nossa imaginação, em nossa emoção, em nosso desejo. Por isso também, o detalhe da foto do início que voa para o lado da terra.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Thelma & Louise (com spoilers)
2016-05-30T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
aventura|classicos|Geena Davis|grandes cenas|Harvey Keitel|Michael Madsen|Ridley Scott|Susan Sarandon|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
Em cartaz nos cinemas com o filme Retrato de um Certo Oriente , Marcelo Gomes trouxe à abertura do 57º Festival do Cinema Brasileiro uma ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
Em um mundo repleto de franquias de ação altamente estilizadas, onde o termo "tipo John Wick" parece se aplicar a qualquer filme ...
-
O cinema sempre olhou para os locais periféricos e pessoas de classe menos favorecidas com um olhar paternalista. Não é incomum vermos na t...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
O filme Capote (2005), dirigido por Bennett Miller , é uma obra que vai além do simples retrato biográfico. Ele se aprofunda na complexidad...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...