
É sempre bom ver cineastas brasileiros arriscando outros filmes de gênero que não a comédia. E o suspense parece ser um caminho cada vez mais promissor, vide obras como Quando Eu Era Vivo, Para Minha Amada Morta ou O Lobo Atrás da Porta. O Caseiro é um thriller sobrenatural que instiga, principalmente pela atmosfera criada e a eterna dúvida do que está de fato acontecendo.

O filme já começa tenso com um garoto encontrando o seu caseiro enforcado na casa próxima à propriedade familiar. E esse clima de suspense é mantido por todo o filme. Méritos principalmente da boa mise-en-scène construída, das escolhas de direção e da fotografia lavada de Ulrich Burtin que nos dá sempre uma sensação de pouca luz ou visão nublada, mesmo quando vemos que há sol iluminando as personagens. A trilha sonora de Tomaz Vital também contribui para o clima, ainda que exagere em alguns momentos.

O clima de suspense e a tensão constante ainda conseguem conviver bem em uma atmosfera bem brasileira. Uma casa no campo com a casa do caseiro ao lado, as relações familiares com Nora, a irmã de Rubens, servindo a todos como uma governanta, a presença do padre como conselheiro local. Toda a configuração arcaica de nosso país que ainda ecoa principalmente no interior.
Além disso, a trama lida com símbolos universais de filme de terror. Alguns detalhes não dá para comentar sem evitar spoilers, mas há questões como assuntos não resolvidos e objetos que parecem possuir poderes sobrenaturais, isso sem falar no sal grosso. E, claro, a casa abandonada com clima de "casa de terror".
Entre erros e acertos, O Caseiro acaba tendo um saldo positivo e nos deixa animados para novas investidas no gênero no país. Assim como a promissora carreira de Julio Santi que, em seu segundo filme, se torna mais um cineasta a ser acompanhado, torcendo por sua evolução.
O Caseiro (O Caseiro, 2016 / Brasil)
Direção: Julio Santi
Roteiro: Julio Santi, Felipe Santi
Com: Bruno Garcia, Leopoldo Pacheco, Denise Weinberg, Fabio Takeo, Pedro Bosnich
Duração: 88 min.