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Valentina Herszage
Mate-me, Por Favor
Mate-me, Por Favor
Mate-me, por favor é daqueles filmes que parece não se encaixar em nenhum gênero. Tem um pouco de tudo. Um filme adolescente com jovens descobrindo a vida durante o ensino médio, um thriller policial com direito a serial killer, ou não. Uma atmosfera meio surreal, com muitas imagens oníricas e sem uma lógica aparente, onde o nonsense parece prevalecer. Acima de tudo, Mate-me, por favor é um filme sobre a violência urbana e o que ela pode fazer conosco.
Na Barra da Tijuca, quatro amigas estão impressionadas com a quantidade de mulheres que tem aparecido mortas em um matagal perto da escola onde estudam. Elas vão lá para, de certa forma, flertar com o perigo. Contam pesadelos sendo estupradas, tentam se aproximar da energia das mulheres mortas, contam lendas urbanas como a loira do banheiro. Lembram casos assustadores como o assassinato da atriz Daniela Perez.
Tudo parecia uma diversão macabra até que elas encontram uma mulher morta. E aos poucos, essa violência que parecia de filme policial, vai se tornando mais próxima, real e elas vão se modificando. Elas vão se afastando umas das outras, vão processando tudo aquilo com mais dificuldade, vão se tornando mais agressivas, arredias, lunáticas até. Sim, a violência nos transforma, nos afasta um dos outros, se torna banal e vamos nos acostumando a viver com medo.
E a válvula de escape de muitas pessoas, que é a fé, acaba sendo também ridicularizada no filme de Anita Rocha da Silveira. A sinistra seita que tem como ponto alto o hit "Vem Jesus", com uma pastora vestida de rosa parecendo uma paquita nos faz questionar o sentido da vida e da morte a partir de um Deus. No que discordo da postura apresentada no filme, mas não deixa de ser interessante.
A protagonista Bia, vivida pela jovem atriz Valentina Herszage, é talvez aquela que é mais afetada pelos acontecimentos. E é interessante como um tema tão pesado acaba sendo tratado com o tom de confissões de adolescentes. Temos todos os plots tradicionais de um filme de high school. A menina mais cobiçada, a gordinha que se acha feia e rejeitada, a disputa de um garoto, os dilemas adolescentes.
Ainda que não aprofunde o tema e muitas vezes pareça que está lidando com tudo de maneira quase irresponsável, o filme acaba nos impactando de uma maneira curiosa. A escolha por mesclar as mortes e a temática do estupro com essa rotina ajuda nessa sensação de banalização da violência, que acaba tornando tudo ainda mais macabro e próximo de nós. É como se a autora dissesse que isso virou rotina. A questão do serial killer, se é que é um único assassino, já que o filme não se importa em aprofundar isso, acaba sendo o pano de fundo para a transformação dessas meninas. E isso nos instiga.
Mate-me, por favor tem esse apelo no título que nos faz pensar. Pensar na trajetória de Bia, de suas amigas, da maneira como vamos nos acostumando a ver e ouvir falar de crimes bárbaros, em como vamos nos acostumado a essa rotina quase inevitável e como vamos nos perguntando, afinal, qual o sentido de tudo isso. Apesar de em tom de chacota, talvez seja a pastora rosa que esteja certa mesmo, só Jesus na causa para nos fazer continuar.
Mate-me, por favor (Mate-me, por favor, 2016 / Brasil)
Direção: Anita Rocha da Silveira
Roteiro: Anita Rocha da Silveira
Com: Valentina Herszage, Dora Freind, Mari Oliveira, Bernardo Marinho, Julia Roliz
Duração: 101 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Mate-me, Por Favor
2016-09-25T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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