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Elle - filme

Baseado no romance “Oh”, de Philippe Djian, Elle é um estudo de personagem. Michèle Leblanc é uma personagem extremamente complexa. Uma sociopata que, apesar de não se apegar a ninguém e lidar de maneira fria com suas emoções, possui atitudes controversas. Ela é capaz de impulsos, como ciúmes do ex-marido, desejo pelo vizinho, afeto pela amiga e sócia, desprezo pelo amante e preocupação pelo filho. Ou seja, há emoções nela, ainda que desde pequena tenha aprendido a se blindar delas.

A primeira cena do filme nos mostra Michèle sendo estuprada e esse acontecimento, de certa maneira, irá conduzir a trama. Ao contrário da maioria das mulheres, a empresária não se coloca no lugar de vítima dessa situação. O que não significa que ela seja indiferente a ela. Pelo contrário, toma providências de proteção e começa a investigar o possível agressor. Por outro lado, ela parece lidar de uma maneira muito prática e distante com o ato, como quando conta ao ex-marido e a um casal de amigos sobre o acontecimento.

Elle - filmeMichèle é essa mistura controversa de frieza e emoção à flor da pele. Tendo no passado uma história mal explicada e assustadora envolvendo seu pai, ela não parece saber lidar muito bem com relacionamentos. Trata sua mãe com desprezo, seu filho com desgosto, seus amantes como objetos temporários. E mesmo sua sócia e amiga não é poupada de suas atitudes egoístas. Dona de uma empresa de jogos de videogame, ela lida com os funcionários de maneira dura também e impõe sua vontade mesmo não sendo programadora ou designer.

Paul Verhoeven, em seu primeiro filme francês, conduz a trama com leveza. Há um cuidado ao expor uma personagem tão diferente de maneira verdadeira, mas sem julgamentos. Somos cúmplices de Michèle, seja quando ela estaciona de maneira absurda ou quando sozinha é atormentada pela lembrança do estupro. As imagens são bem construídas, passando sentimento e significado como quando ela toma um banho na banheira logo após o estupro e na espuma surge uma mancha vermelha em formato de triângulo lembrando a vagina. Michèle simplesmente desfaz a mancha reforçando sua recusa em se colocar como vítima.

Elle - filmeIsabelle Huppert tem grande responsabilidade nessa construção também, claro. A atriz consegue dar a Michèle esse tom neutro de uma mulher que parece não ter sentimentos, mas ao mesmo tempo sente à sua maneira. Uma construção que vem do trauma do passado e que ela confessa de uma maneira quase solta na noite de Natal ao seu vizinho. Aparentemente ela não nasceu assim, mas aprendeu a se proteger após ser julgada e condenada de certa maneira com seu pai.

Uma mulher forte cercada de homens frágeis. Seu filho e a relação conturbada com a esposa. Seu ex-marido, seu amante e seu vizinho de alguma maneira dependentes e com problemas psicológicos. Seus funcionários entre ódio e admiração. E, claro, seu pai, que parece uma sombra onipresente em sua vida. Isso acaba criando desconforto e polêmicas que o filme vem levantando desde sua estreia na competitiva do Festival de Cannes desse ano.

Elle, que significa ela, em francês, é isso, um filme sobre Michèle, essa mulher cheia de nuanças que é acompanhada de maneira instigante pela câmera de um diretor que sempre buscou seu próprio estilo, mesmo em meio à indústria de Hollywood e que sempre valorizou mulheres fortes. Mesmo em filmes de ação, onde seriam simples coadjuvantes como O Vingador do Futuro, por exemplo. Um filme, acima de tudo, bem feito e que merece atenção.


Elle (Elle, 2016 / França)
Direção: Paul Verhoeven
Roteiro: David Birke,
Com: Isabelle Huppert, Laurent Lafitte, Anne Consigny
Duração: 130 min.

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