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Há um preconceito em relação ao cinema nacional e ao período da pornochanchada, mas o gênero tipicamente brasileiro não é apenas pornografia como muitos pensam. Na verdade, nem pode ser caracterizado como filme pornô já que não tinha sexo explícito. A ideia das obras tinha um tom mais de malícia e erotização, aliadas a um texto irônico. Claro, a mulher era o alvo principal, porém, os filmes acabavam trazendo nas entrelinhas algo mais político do que parecia à primeira vista.
É com isso que Fernanda Pessoa constrói o seu documentário "Histórias que o nosso cinema (não) contava". Utilizando de uma técnica parecida com a de Eryk Rocha em Cinema Novo, a diretora nos traz recortes de diversos filmes da época para contar a sua história. A diferença para o filme do filho de Glauber é que aqui não existem depoimentos com os realizadores, nem mesmo da época. São os filmes, e apenas eles que falam conosco.
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Porém, principalmente, o filme de Fernanda Pessoa fala sobre a situação da mulher. De alvo de piadas e erotização fácil a protagonista do cenário político. Não por acaso é um filme de uma diretora. Através das imagens de mulheres sensuais em simulações de sexo ou simplesmente nuas, a obra vai discutindo o papel da mulher na sociedade. A questão da sua objetificação e seu posterior empoderamento com a emancipação feminina.
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Trazer a Pornochanchada para o foco é também uma forma de trazer a nossa história cinematográfica ao foco. Principalmente por ser este um gênero brasileiro. Vindo da junção do termo pornô com outro gênero genuinamente local, as Chanchadas. E é interessante que mesmo com essa apimentação temática com o excesso de erotismo, a pornochanchada acabe revelando um lado também ingênuo já vistos nas Chanchadas da Atlântida. Uma linguagem essencialmente popular e próxima da cultura brasileira.
História que o nosso cinema (não) contava nos mostra exatamente isso. O quanto os nossos filmes contam da nossa própria história, do nosso povo, de nosso hábitos. Tudo está ali, tematizado de alguma maneira. E a forma como Fernanda Pessoa traz à luz isso é admirável. Um filme que nos faz pensar em diversos aspectos.
Histórias que o nosso cinema (não) contava (2017 / Brasil)
Direção: Fernanda Pessoa
Roteiro: Fernanda Pessoa
Duração: 80 min.