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A Mão Invisível
A Mão Invisível
"Por trazer um tema tão relevante e em voga sobre questões trabalhistas e de classe com uma linguagem experimental que impacta e nos faz pensar, o júri elegeu A Mão Invisível como melhor filme da mostra competitiva internacional."* A justificativa do júri traduz o impacto que a obra de David Macián produz. E quanto mais se pensa nela, mais ela cresce em significado e reflexão.
A linguagem experimental, quase como um Dogville espanhol, nos traz a um galpão onde trabalhadores fazem o seu serviço diário. Um açougueiro, uma costureira, um mecânico, um pedreiro, uma atendente de telemarketing, um responsável pelo almoxarifado, um técnico em informática e uma montadora são assistidos por uma plateia nunca mostrada de fato, só quando rompe o limite estabelecido e "invade" o palco.
Do lado de fora do espetáculo, um garçom serve sanduíches e bebidas, enquanto uma faxineira tenta manter o local limpo, apesar do grande fluxo. Uma prostituta também surge de tempos em tempos em busca de clientes. E é nesses bastidores que vemos também os "funcionários" do palco discutirem suas funções e relação com a empresa, ampliando o experimento social.
Inspirado no livro homônimo de Isaac Rosa, o filme questiona as relações de trabalho e a própria necessidade ou função do mesmo. E a dinâmica construída do "experimento" vai tensionando classes de trabalhadores, raças e posições políticas de maneiras tão curiosas que a narrativa vai nos prendendo à tela e nos fazendo participar juntos.
Na verdade, ao não mostrar a plateia, Macián nos coloca no lugar dela, com a visão privilegiada dos planos detalhes que a verdadeira plateia não teria, ou mesmo do acesso aos bastidores, mas com a mesma capacidade de passividade ou interação diante dos fatos. No final das contas, essas discussões estão em nossas vidas, em nossas relações de trabalho, em nossos chefes ou empregados. No nosso medo de ser demitido ou na incapacidade de perceber que somos capazes de oprimir ou nos sentir melhor só por uma distribuição dentro da sociedade.
Assim, o açougueiro, dos personagens mais detestáveis, acha-se no direito de se sentir superior ao rapaz do almoxarifado que está ali para "servi-lo", tanto que, quando ele é "promovido" a pedreiro, causa revolta. Como se as pessoas fossem criadas apenas para uma função e a adaptação fosse algo inimaginável. O mesmo acontece quando a prostituta assume a função de faxineira. Ou quando a verdadeira tarefa de um dos funcionários é descoberta. Hipocrisia e cinismo parecem guiar muitas dessas relações.
Simulando uma linguagem de documentário, temos durante a projeção ainda as entrevistas de emprego de cada um deles. O maior trunfo desses momentos, além de conhecê-los melhor, é a ironia dramática de algumas respostas "padrão" em situações assim e a posterior reação de cada um deles durante o serviço. O roteiro é inteligente em nos guiar, por vezes dando informações antes do fato e em outros momentos revelando o depoimento apenas depois de algum ocorrido, gerando o efeito da ironia.
Como um grande experimento das relações humanas e como as relações de trabalho em um mundo capitalista se desenvolvem, o filme constrói suas metáforas e desnuda preconceitos. O jogo construído impressiona em seus diversos aspectos e camadas que suscita. Primeiro filme de David Macián, A Mão Invisível é daqueles filmes que merecem ser conhecidos.
Filme visto no XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema.
* Amanda Aouad foi júri da Competitiva Internacional do XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema, junto a Edson Bastos e Aícha Marques.
A Mão Invisível (La mano invisible, 2016 / Espanha)
Direção: David Macián
Roteiro: Daniel Cortázar, David Macián
Com: Anahí Beholi, Josean Bengoetxea, Eduardo Ferrés, Esther Ortega, Bruto Pomeroy, Daniel Pérez Prada, Marina Salas, Bárbara Santa-Cruz, José Luis Torrijo
Duração: 83 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Mão Invisível
2017-11-18T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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