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Zélia - Memórias de Amor
Zélia - Memórias de Amor
Uma contadora de histórias, assim se definia a escritora e fotógrafa Zélia Gattai. A diretora Carla Laudari foi bastante feliz ao deixar, então, que ela própria contasse a sua vida no documentário Zélia - Memórias de Amor.
Através do texto de Zélia e da voz de sua neta, Cecília Amado, vamos embarcando em suas memórias de vida. O fio condutor é o amor e relacionamento com Jorge Amado, mas através dele vamos desvendando um pouco mais dos pensamentos e posicionamentos dessa mulher nascida em uma família Anarquista, que viveu sua infância e adolescência em São Paulo, mas ao se juntar ao perseguido escritor comunista viveu muito tempo no exílio até chegar à Bahia, onde passaram o resto de suas vidas.
Companheira fiel do escritor de tantos sucessos, ajudante que datilografava seus originais, ela foi descobrindo aos poucos seu próprio talento. O da fotografia foi mais fácil, afinal, ela queria registrar seus momentos com o marido e com o novo mundo que descobria. O de escritora demorou um pouco mais, só lançando seu primeiro livro depois dos sessenta anos.
É curiosa a relação de Zélia com a mãe. Ao mesmo tempo em que repete por diversas vezes a frase de que a menina "nasceu com uma estrela", também traz em diversos momentos a sentença de que "ela não era preparada para ser mulher de Jorge Amado". Isso mostra um pouco da mentalidade machista da época, da posição da mulher em relação ao homem, mas também mostra a capacidade dessa mulher de encontrar seu lugar mesmo que nem mesmo sua mãe achasse que ela pudesse.
Tudo isso, no entanto, poderia ser lido em um livros de Zélia Gattai, por mais que exista ali um roteiro e um recorte visível e bem construído. O que chama a atenção de Zélia - Memórias de Amor vai além do texto e do que é dito. Está no trabalho de imagens e experimentações feitos por sua diretora que nos faz imergir naquele universo de amor.
Fotos viram cenários diversos, em porta-retratos ou em varais. Luzes simulam estrelas no quintal. Imagens são projetadas nas paredes da Casa do Rio Vermelho. Elementos do jardim ou mesmo cômodos do local, hoje um museu, povoam nosso imaginário que são preenchidos com a junção do que vemos e ouvimos, ressignificando-se.
Carla faz também as imagens conversarem, como os diversos momentos em que as expressões de Jorge nos fitam, como se simulassem momentos de escrita e pensamentos. Mas, talvez, a imagem mais emocionante esteja nas duas poltronas vazias em frente a um televisor antigo que transmitem imagens diversas daquele casal que, por tantos anos, dividiu aquele espaço entre sonhos e palavras.
Zélia - Memórias de Amor é um belo exemplar de documentário artístico que vai além do óbvio, ainda que se utilize de clichês românticos para construir sua narrativa. Nos envolve e emociona com suas camadas, nos convidando a embarcar juntos naquela história de amor. E o mais curioso é que, por mais que Jorge Amado esteja no centro de tudo aquilo, como a própria Zélia gostava de deixá-lo, percebemos nas entrelinhas que ela era muito mais que a esposa do escritor famoso.
Filme visto no XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Zélia - Memórias de Amor (Zélia - Memórias de Amor, 2017 / Brasil)
Direção: Carla Laudari
Roteiro: Carla Laudari
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Zélia - Memórias de Amor
2017-11-17T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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