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Igor Souza
Maria Carolina
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Diários de Classe
Diários de Classe
Uma mulher trans, uma empregada doméstica e uma presidiária. Três mulheres, três realidades que se aproximam pela dificuldade de inclusão na sociedade e busca da sala de aula como forma de melhorar de vida.
O documentário Diários de Classe mergulha nesses três universos para discutir a educação no país e a falta de oportunidade para pessoas de periferia, negras e de baixa renda. Discute a herança escravocrata nas relações dos trabalhos domésticos, a arbitrariedade da justiça e o preconceito com transsexuais, utilizando o micro para falar do macro de uma maneira franca e direta.
Utilizando a técnica do cinema direto da câmera invisível, acompanhamos a rotina principalmente na sala de aula, ainda que em alguns momentos a linguagem mude e a câmera acabe sendo citada ou participando de alguma ação mais diretamente. A maneira como os diretores intercalam as três tramas, fazendo-as dialogar, eleva a questão universal, inclusive com um momento explícito em um evento quando uma palestrante fala que a justiça é diferente para os três "p" (preto, pobre e periferia). Ao mesmo tempo, a obra consegue a sensibilidade de abordar o particular de uma maneira envolvente ao destrinchar suas personagens.
Vânia Lúcia, acusada de envolvimento com tráfico de drogas, conversa sobre o drama do seu filho desaparecido e da prisão que julga indevida. A cena em que ela discute com uma colega sobre a dificuldade de lutar por seus direitos já evoca diversas questões delicadas. A falta de uma defesa adequada a ponto dela buscar o código penal para tentar estudar é um exemplo. A colega ainda fala sobre um estagiário que seria o único contato que elas tiveram até o momento com a defensoria pública.
Maria José é uma empregada doméstica que luta pelos seus direitos de trabalhadora. Vinda de Cachoeira, passou por dificuldade e hoje se diz estabelecida, com uma filha pequena, que carrega para as aulas. É o ponto de equilíbrio do trio, a mais politizada e que procura seu espaço no mundo. A cena em que aconselha uma colega que faltou aula para cuidar dos filhos da patroa é o ponto alto da sua curva.
Já Tifany é, das três, a personagem mais fragilizada. Com imensa dificuldade ainda para aprender a ler, sofre com o preconceito e, apesar de viver em um abrigo, não parece ter encontrado seu lugar no mundo. A parede escrita reforça: "ela não é tímida, ela foi silenciada".
Necessário em sua reflexão, Diários de Classe é daqueles filmes que nos tira da zona de conforto. Grita a necessidade de atitude urgente e nos deixa com um nó na garganta em diversos momentos. Um trabalho que vem coroar o bom trabalho da dupla de diretores ligada à educação e questões sociais como o projeto Lanterninha.
Filme visto no XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Diários de Classe (Diários de Classe, 2017 / Brasil)
Direção: Maria Carolina e Igor Souza
Roteiro: Maria Carolina e Igor Souza
Duração: 76 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Diários de Classe
2017-11-14T13:30:00-03:00
Amanda Aouad
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