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Isbela Faria
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Do Sul ao Norte
Do Sul ao Norte
Da Bahia à Patagônia tem muito chão, ainda mais dentro de uma Kombi. Mas isso parece ser o menor dos desafios para músicos franceses e brasileiros que compõe o grupo Čao Laru. Do sul ao Norte narra essa jornada de dentro da aventura, já que a diretora Isbela Faria não apenas viajou junto como fez parte do grupo cantando e tocando nas apresentações. E isso traz pontos positivos e negativos para a obra.
O positivo parece óbvio, não temos o olhar "estrangeiro". Inserida no grupo, Faria capta em sua lente a essência daqueles momentos, "sem filtros". E através dela nos sentimos também ali, embarcando em cada nova cidade, contemplando cada nova conquista. Afinal, vida de artista independente não é fácil e viver apenas de música muito menos. Eles tem pouco, mas se divertem de maneira plena.
O negativo é que, por estar tão inserida no processo, sendo também roteirista e, principalmente, montadora da obra, a cineasta não consegue exercitar o desapego. Ainda que traga um ritmo ágil, com muitos planos curtos de momentos diversos, temos a sensação de repetição em muitos momentos. O desfecho parece também não ser preciso. Por mais que exista uma intenção cíclica na própria jornada, o pot-pourri de imagens final soa cansativo, quando a roda na estação já era um extra.
É compreensível em uma viagem tão longa que as imagens se acumulem na ilha de edição. A vontade de mostrar tudo, não desperdiçar momentos e inserir o espectador naquele clima construído em meses de convivência é grande. Por isso, um olhar de fora ajudaria na edição e montagem desse rico material para que uma linha narrativa mais concisa nos fosse apresentado.
Isso, no entanto, não invalida a experiência. Primeiro trabalho da jovem de apenas 25 anos, Isbela Faria já demonstra segurança na escolha dos planos e no como a sua câmera capta momentos únicos. Não temos um documentário tradicional e vemos o estilo de vida do grupo pulsar em tela não apenas falando ou mostrando sua música. A obra nos fala sobre um estilo, uma forma de encarar a vida e o que realmente importa nela.
O curioso é que, com isso, a música em muitos momentos acaba ficando em segundo plano. Vemos as conversas na Kombi, o discurso antes da apresentação, mas pouco das apresentações em si, principalmente as que acontecem em teatros. A escolha por mostrar o grupo tocando apenas na rua pode ser também uma forma da diretora conduzir o nosso olhar para esse estilo independente de vida, o que não chega a ser um problema. Mas fica a curiosidade em relação ao comportamento do mesmo em espaços mais "tradicionais".
Do Sul ao Norte é um convite à viagem. Vamos junto com o grupo Čao Laru e acabamos nos sentindo também parte dele. Essa construção de efeito sensorial de pertencimento acaba sendo mesmo o ponto alto da obra e, mesmo com alguns percalços, nos satisfaz.
Filme visto no XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Do Sul ao Norte (Do Sul ao Norte, 2017 / Brasil)
Direção: Isbela Faria
Duração: 62 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Do Sul ao Norte
2017-11-20T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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