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Cléo das 5 às 7
Cléo das 5 às 7
A angústia da espera. Ainda mais quando somos pessimistas e temos a certeza de aguardarmos uma má notícia e que talvez essas sejam nossas últimas horas de vida. É nesse sentimento de desalento que Agnés Varda mergulha nesse filme.
Cléo das 5 às 7 é exatamente isso. Acompanhamos Florence Victoire, uma cantora popular mais conhecida como Cleo (uma abreviatura de Cleópatra), enquanto aguarda o resultado de um exame que pode confirmar que ela esteja com câncer. Interpretada por Corinne Marchand, Cleo vai a uma cartomante, passeia por Paris, tenta trabalhar e conversar com amigos, mas sua mente não consegue deixar de pensar na morte iminente.
O curioso é que Cléo mergulha em um estado tal que passa a observar o mundo com outros olhos. Presta atenção nas pessoas que passam, deixando se levar pelos impulsos. E a câmera de Agnés Varda segue esse movimento. Vemos muitos planos onde a ação acontece por trás de elementos da cidade, seja muro, árvores, pontes, cercas, construindo camadas no campo de visão que ressignificam as conversas.
E não deixa de ser algo observável o olhar de uma cineasta mulher para esta narrativa. Cléo é uma mulher bonita, sensual, mas que não tem sua beleza colocada como objeto de desejo contínuo em tela. Há camadas em sua construção e há sempre um movimento que a enaltece enquanto ser humano com força, vontade e talento próprio. Mesmo algumas conversas do entorno trazem questões feministas como a conversa entre um casal que Cléo ouve em um café.
Ainda que com alguns truques para pequenos saltos no tempo, que trazem inclusive uma divisão temporal na tela, a montagem vai sendo construída para nos dar a sensação de acompanharmos exatamente o período de espera da protagonista. E assim, ações aparentemente banais, como comprar um chapéu novo, andar pelas ruas, ver um filme ou conversar no parque, ganham força e significados profundos.
É interessante que o medo da morte faz Cléo perder o medo das ruas, sair da bolha em que vivia em sua rotina de pop star. Ela passa a olhar a cidade com outros olhos, tal qual o filme mudo que assiste com uma amiga. Nele Godard e Anna Karina formam um casal tragicômico em que ele só vê o lado bom da vida após tirar seus óculos.
Cléo das 5 às 7 é um grande filme que só reforça o talento de Agnés Varda, uma cineasta tão importante para a Nouvelle Vague quanto seus colegas, mas que por algum motivo, ficou esquecida na história. Que bom que ainda estamos resgatando-a em vida.
Cléo das 5 às 7 (Cléo de 5 à 7, 1962 / França)
Direção: Agnès Varda
Roteiro: Agnès Varda
Com: Corinne Marchand, Antoine Bourseiller, Dominique Davray
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Cléo das 5 às 7
2018-03-30T11:37:00-03:00
Amanda Aouad
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