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Maria Madalena
Maria Madalena
Filmes bíblicos sempre trazem dois vieses, o cinematográfico e o doutrinário. Maria Madalena traz mais um, a polêmica. Não algo tão acintoso quando A Última Tentação de Cristo, por exemplo, principalmente pelo fato que a própria Igreja Católica já aceitou Maria Madalena como uma apóstola. Mas não deixa de repensar duas personagens controversas, ela e Judas Iscariotes. E só por isso, já traz bons momentos.
A narrativa é lenta, é verdade, mas a obra assim o pede. O filme respeita o tempo de suas personagens e constrói momentos de contemplação, como as reflexões de Jesus e Maria Madalena. A ideia é apresentar essa mulher especial que não aceitava o seu próprio destino enquanto mulher naquela época que só tinha como caminho casar e ter filhos.
Rooney Mara busca encarnar essa mulher, principalmente na primeira parte, demonstrando sua força e importância dentro da família, sua angústia por não querer aquele destino, sua busca por Deus, em uma época em que as mulheres não poderiam orar no templo sozinhas, ainda mais à noite. Porém, quando Jesus surge em sua vida, parece que Maria Madalena vive em eterno estado de graça, maravilhada com Sua Presença, só voltando a ser forte e decidida de novo, após sua morte, quando enfrenta o apóstolo Pedro. É uma interpretação, é verdade, mas soa estranho em alguns momentos.
Já Joaquin Phoenix constrói esse Jesus mais humano, capaz de se assustar com seu próprio milagre e ficar perturbado em alguns momentos. Um homem capaz de compreender sua missão, aceitá-la, mas ao mesmo tempo não se deixar deslumbrar por sua condição. A própria dinâmica com que prega e conduz seus apóstolos nos dá um Jesus muito mais próximo, sem aquela aura distante muitas vezes vista.
Mas, talvez, seja em Judas que o filme acabe inovando mais. O apóstolo já foi relativizado em outras obras, como Jesus Cristo, SuperStar. Mas aqui, Tahar Rahim, nos traz quase um menino deslumbrado com o mestre. Sua fé é capaz de comover e é ele o primeiro a aceitar Maria Madalena no grupo, construindo uma empatia com a plateia. A dinâmica entre ele, Pedro e Maria Madalena é crível e nos faz compreender melhor todos os lados da história.
Porque o roteiro de Helen Edmundson e Philippa Goslett trabalha muito nos hiatos do próprio texto bíblico. Traz possibilidades que não estão exatamente nas escrituras, mas que são possíveis diante das situações e da época. Há um viés feminista em sua estrutura, até porque o próprio Jesus sempre pregou essa igualdade e amor ao próximo. Já é consenso o fato de que mulheres o seguiam e que também eram suas apóstolas.
Ainda que a direção de Garth Davis não nos traga grandes momentos, nem mesmo nas cenas mais fortes, como a ressurreição de Lázaro ou a crucificação, Maria Madalena é um filme que instiga. Há força em suas palavras, em sua condução e nas atuações que nos envolve e fazem do filme mais do que uma simples pregação ou tentativa de subverter a Bíblia conhecida.
Maria Madalena (Mary Magdalene, 2018 / EUA)
Direção: Garth Davis
Roteiro: Helen Edmundson, Philippa Goslett
Com: Rooney Mara, Joaquin Phoenix, Chiwetel Ejiofor, Tahar Rahim
Duração: 120 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Maria Madalena
2018-03-26T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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