Tudo que Quero
Viver em um universo particular, não compreender as emoções, angustiar-se como a falta de lógica do mundo e ter uma rotina metódica nos mínimos detalhes para não ficar nervoso. Uma pessoa com autismo dificilmente se adapta completamente ao nosso mundo. Muitos filmes já abordaram personagens assim, mas “Tudo que quero” traz particularidades instigantes.
Baseado na peça de Michael Golamco, que também assina o roteiro, o filme narra a história de Wendy, uma garota autista que é uma trekkie (fã da série Star Trek). Quando os estúdios da Paramount lançam um concurso de roteiros para longas, ela aceita o desafio, empenhada em contar a história perfeita e entregá-la a tempo para a competição. Mas nem tudo será tão simples.
Há elementos que instigam nessa premissa e o roteiro consegue nos envolver. A protagonista é fácil de construir empatia por todas as dificuldades de vida e ainda tem um mascote fofinho que é o seu cão com o uniforme azul dos tripulantes da enterprise, que, pela cor, é da ala das ciências. Simpatizamos com a dupla e torcemos por eles, curiosos com o desfecho da aventura.
Durante parte da projeção, ouvimos alguns trechos do roteiro construído por Wendy não apenas em sua voz over, como com imagens de um deserto e e duas personagens com roupas de astronautas que na história contada seriam o capitão Kirk e Spock. A amizade dos dois e a perseverança da jornada emocionam, principalmente, ao percebermos que Wendy se identifica com o vulcano da série exatamente por ele também não compreender bem as emoções humanas.
A trama, porém, ao contrário da personagem do filme e do personagem da série de televisão, abusam da emoção, passando do limite e construindo um tom over de vitimização da sua protagonista que acaba incomodando mais do que emocionando o espectador. Afinal, tudo que pode dar errado acontece com Wendy em sua tentativa de chegar à Paramount, algumas situações chegam a beirar o absurdo, forçando problemas que poderiam ser resolvidos de outra maneira.
Ainda assim, a direção consegue bons momentos, como um contato feito por um policial, ou mesmo a interação entre Wendy e o seu cão durante a viagem, com planos divertidos e emocionantes ao mesmo tempo. Há criatividade, inclusive em pegar lendas urbanas para construir algumas soluções inesperadas.
Dakota Fanning consegue passar verdade com sua personagem autista e aficcionada por Star Trek, assim como Toni Collette está bem como Scottie, a responsável por cuidar do lar onde a moça vive. Alice Eve, no entanto, não consegue passar tão bem a emoção da irmã, há um certo estranhamento entre elas, mas falta uma certa sensibilidade da personagem, que parece estar no automático, mesmo nas cenas de maior emoção.
"Tudo que Quero" é uma jornada em busca de aceitação, mais do que vencer um concurso, Wendy quer se mostrar útil naquela sociedade e ter a possibilidade de contribuir para a vida da irmã, da sobrinha e da sua própria existência. Há beleza em sua composição, ainda que passe do ponto em muito momentos.
Tudo que Quero (Please Stand By, 2018 / EUA)
Direção: Ben Lewin
Roteiro: Michael Golamco
Com: Dakota Fanning, Toni Collette, Alice Eve
Duração: 93 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Tudo que Quero
2018-04-25T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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