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Meu Anjo


Marlène e uma mulher desajustada. Movida a festas e bebidas, nem um casamento parece colocá-la no eixo, o que acaba reverberando na criação de sua filha, ou melhor, no abandono dessa.

Tal qual Projeto Flórida, Meu Anjo é um filme sobre como uma criança pode sobreviver em um lugar inóspito para ela. Aqui a realidade parece ainda mais cruel diante da impossibilidade da mãe de perceber a maneira como a criança vai sendo prejudicada entre festas, cenas de sexo e bebidas disponíveis.

Elli, ao contrário da garotinha do filme estadunidense, não tem amigos para ampará-la, pelo contrário, sofre bullying diário na escola e até mesmo abuso de um coleguinha que acha que ela já “deitou” com homens. Sua noção de realidade é deturpada pelos ambientes em que vive e pela total falta de sensibilidade de sua mãe diante disso, sendo capaz de levá-la para uma boate ou deixá-la sozinha por um bom tempo.

A diretora e roteirista Vanessa Filho trabalha esses pequenos absurdos de maneira contundente, ainda que não se veja aqui grandes inovações. A cena inicial da mãe chegando bêbada e deitando na cama da filha perguntando se ela a ama, já é um bom indício disso. Mas, fugindo do melodrama, ela acaba não construindo tão bem as emoções, deixando apenas um efeito de estranhamento em cenas como a música que Marlène canta para o noivo no casamento, já demonstrando que algo não vai bem.

Quando Marlène não volta de uma festa e deixa sua filha sozinha em casa, o filme vai intensificando esse estranhamento e incômodo diante da situação absurda, como ver uma garotinha colocando uísque nos bonecos para dormir com o cheiro da bebida, que lembra a mãe. Ou mesmo começar a beber para dormir. Ou ainda começar a não ir para a escola ou ser agredida na rua, sem que nenhum adulto perceba o que está acontecendo.

Ainda que Marion Cotillard seja a grande estrela da obra e consiga entregar uma atuação convincente, seja na loucura ou na dor, quem acaba brilhando mesmo é a pequena Ayline Aksoy-Etaix que defende sua personagem com uma maturidade impressionante. Sua dor e desespero salta na tela, mas por algum motivo não consegue nos atingir de uma forma mais profunda. Talvez pelas escolhas racionais da direção, talvez por situações tão absurdas que nos tirem da narrativa e nos façam raciocinar sobre incongruências e verossimilhanças.

De qualquer maneira, Meu Anjo é um filme bem construído dentro de sua proposta e que nos atinge em algum nível, ainda que não busque como principal efeito a emoção.


Meu Anjo (Gueule d'ange, 2018 / França)
Direção: Vanessa Filho
Roteiro: Vanessa Filho
Com: Marion Cotillard, Ayline Aksoy-Etaix, Alban Lenoir
Duração: 108 min.

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