
Um jovem introvertido, com problemas na justiça e uma irmã que está se mudando para outro estado. A única coisa que sustenta Pedro é o seu inusitado trabalho: um site onde ele dança com o corpo coberto de tinta neon realizando desejos de voyeurs que pagam por esse serviço, coletivo ou privado.
Há uma beleza na dor e na maneira como os diretores filmam essa estranha personagem, sua rotina, seu ofício, seus medos. Mesmo na maneira didática como o passado é contado, aos poucos há poesia e doçura. A forma como compreendemos todos os detalhes vem a partir de uma cena emocionante construída por suposições de um observador.

A sensação que fica é que Pedro é colocado completamente só e dependente do trabalho no site para ampliar o drama, dando fôlego para que o conflito sustente um longa-metragem. Assim como algumas situações também soam forçadas, principalmente uma que acontece após um encontro em um bar. A divisão em três partes é outro recurso que parece imposto para ajudar a narrativa, já que não cria uma mudança de plot significativa.

As atuações também se destacam, em especial do jovem Shico Menegat que consegue construir toda a tristeza e incômodo do protagonista com a vida e com as pessoas. Ao mesmo tempo em que constrói sensualidade no estranhamento da situação em que se coloca diante da webcam. Mesmo sem dançar sensualmente como Bruno Fernandes, nem ter um corpo tão bem definido, torna-se crível sua atuação e o interesse do seu público.
Tinta Bruta é uma obra poética. Uma experiência estética sensível que nos envolve, ainda que com incongruências e estranhamentos. Não por acaso foi o vencedor do último Festival do Rio.
Tinta Bruta (Tinta Bruta, 2018 / Brasil)
Direção: Filipe Matzembacher e Marcio Reolon
Roteiro: Filipe Matzembacher e Marcio Reolon
Com: Shico Menegat, Bruno Fernandes, Guega Pacheco, Aurea Baptista, Sandra Dani
Duração: 118 min.