
Você pode dizer que não gosta ou até não “conhece” o trabalho de Elton John, mas, com certeza, alguma música dele já fez parte da trilha sonora de sua vida. Autor de diversos sucessos do mundo pop, o cantor inglês, nascido Reginald Dwight, não teve muita dificuldade para fazer sucesso, mas sua vida pessoal teve altos e baixos.
A proposta de sua cinebiografia, dirigida por Dexter Fletcher, ainda que clichê, acaba sendo funcional. Ele parte de uma reunião dos alcóolicos anônimos e vai destrinchando as lembranças do artista, utilizando metáforas e uma espécie de exercício terapêutico de “constelação familiar”, tendo alguns momentos extremamente emocionantes como uma catarse específica na parte final.
Utiliza elementos óbvios como a vestimenta que vai sendo despida à medida que a personagem vai mergulhando em seu psicológico e construindo confrontações com seus diversos eus e papéis representados na vida, mas funciona, por passar uma honestidade em tela. E, principalmente, por construir um musical criativo e envolvente, não precisando exatamente de uma cronologia tão rígida. O maior mérito da obra é exatamente esse, elaborar um conflito para o arco da trama, mas ter consciência de que o mais importante ali é apresentar um belo espetáculo. A personagem pede isso, com ou sem máscaras. O que chama a atenção em Elton John é o seu talento. Fazer um musical com suas músicas acaba sendo o melhor caminho e os números artísticos são o ponto alto da projeção.
É curioso perceber que, nos acontecimentos antes da fama, os números são mais extravagantes, com um tom over. Como a cena inicial com pessoas cantando e dançando na rua, sempre com uma proposta de espetáculo ao estilo dos musicais clássicos. E sempre puxando a partir de algum acontecimento na narrativa. Após a fama, essa inserção acaba variando um pouco, em muitos momentos, construindo clipes que vão além do universo ficcional proposto, como se mergulhasse ainda mais no psicológico do artista. Um ponto alto é o clipe da música tema. Sua composição estética partindo da piscina e construindo um caminho com imagens oníricas até o espaço traduzem bem os sentimentos do artista e nos fazem embarcar no drama como se fosse nosso também. A escolha dos planos e experimentações estéticas ajudam na imersão.
Rocketman é uma obra que se propõe a homenagear um artista performático e dono de grandes sucessos do cenário pop musical. Nada melhor, então, do que fazer de sua cinebiografia um grandioso espetáculo sonoro e imagético.
Rocketman (Rocketman, 2019 / EUA)
Direção: Dexter Fletcher
Roteiro: Lee Hall
Com: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden
Duração: 121 min.

