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Divaldo, o Mensageiro da Paz
Divaldo, o Mensageiro da Paz
Desde o relativo sucesso de Bezerra de Menezes, diversos filmes espíritas começaram a ser produzidos no Brasil. A grande maioria, porém, acabou pecando pelo excesso doutrinário em detrimento da linguagem cinematográfica. Felizmente, Divaldo, o Mensageiro da Paz foge desse perfil, ainda que não se furte em falar dos ensinamentos cristãos pregados pela doutrina.
O diretor e roteirista Clóvis Mello foi feliz ao concentrar a narrativa nos quarenta primeiros anos de vida do protagonista. Assim, não temos uma construção de louvor ao maior médium do país, mas uma trama sobre um jovem e os desafios do amadurecimento, aprendendo a lidar com sua mediunidade e compreendendo sobre os mistérios da vida.
O que chama a atenção na obra é a maneira como a explicação sobre a doutrina espírita é passada de maneira orgânica dentro da dramaturgia. Há cenas didáticas, mas que possuem um bom ritmo, imprimindo o efeito esperado. Por vezes a emoção de uma cena de desobsessão, desmistificando o “exorcismo” padrão, outras vezes com humor, como na cena da repartição pública. Ou ainda de suspense, como uma impactante cena no elevador Lacerda.
Independente de crenças ou religião, há uma mensagem de amor e valorização da vida que não se torna piegas, é passada com verdade e traz emoção genuína para tela, assim como momentos de humor. Divaldo é apresentado em tela como um homem com uma missão, mas não há endeusamento deste, pelo contrário, demonstra-se bem que, mesmo após aprendizados e trabalhos humanitários, há ali um ser em aprendizado. E Bruno Garcia, que o interpreta na fase madura, consegue passar bem isso.
Mérito também do ator Ghilherme Lobo que já tinha demonstrado capacidade dramática no singelo Hoje eu quero voltar sozinho. O jovem consegue construir bem um personagem de época, mas que também dialoga com os jovens de hoje, com dilemas e vontade de experimentar a vida. Há verdade em tela e a dobradinha com Regiane Alves, que encarna a mentora Joanna de Ângelis funciona bem, principalmente ao não colocar o espírito como salvador do pupilo. Marcos Veras também se destaca como o obsessor, assim como Laira Garin como a mãe de Divaldo.
A reconstituição de época também chama a atenção. Ainda que, em sua maioria, as cenas sejam internas, as poucas externas nos passam a sensação de Feira de Santana e Salvador antigas. E a direção de arte das locações também é bem cuidada, inclusive nas reconstituições das reuniões mediúnicas. A fotografia também ajuda na construção do clima, em especial dessas cenas, sendo delicada, nem exagerar nos efeitos. Os espíritos desencarnados aparecem de maneira muito próxima aos encarnados, nem espetacularização da situação.
Há dignidade na obra, acima de tudo. É honesta em sua proposta, faz uma homenagem à vida de um homem que construiu um legado espetacular, mas sem desrespeitar a própria doutrina que ele prega, onde mesmo os seres especiais, são seres em evolução. Em tempos difíceis, é importante trazer também mensagem de amor e esperança para tela de cinema.
Divaldo, o Mensageiro da Paz (Divaldo, 2019 / Brasil)
Direção: Clóvis Mello
Roteiro: Clóvis Mello
Com: Ghilherme Lobo, Regiane Alves, Bruno Garcia, Marcos Veras, Laira Garin, Caco Monteiro
Duração: 119 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Divaldo, o Mensageiro da Paz
2019-09-09T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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