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Gustavo Patriota
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Fim de Festa
Fim de Festa
Quarta-feira de cinzas, um policial retorna do recesso de Carnaval antes do previsto por causa do assassinato de uma francesa durante as festas em Recife. Em casa, ele encontra seu filho, uma amiga de infância e um casal desconhecido ocupando o local, tendo que lidar com esse incômodo ao mesmo tempo em que feridas do passado são revividas.
Essa sinopse do segundo longa-metragem solo de Hilton Lacerda traz camadas sutis que vem desde o título da obra, Fim de Festa. Há algumas festas que são encerradas na trama, não apenas a óbvia do Carnaval. Algumas metafóricas que desenrolam outras discussões inclusive sociais e políticas. Choque de gerações, questões de gênero, relação entre patrão e empregada doméstica, feminismo, tudo cabe no caldeirão construído em cinco dias de investigação.
Há um retrato coerente do país atual, buscando dois pontos de vista em especial, o do policial Breno, vivido por Irandhir Santos, cansado, ambíguo devido a um atitude do passado com a ex-esposa, mas aparentemente justo e compreensivo. E o grupo de jovens encabeçado pelo filho também de nome Breno, mais interessados em curtir o momento, mas capazes de discussões sobre a função da empregada da família ou de um protesto na praia pelo direito do topless.
Ainda que em um tom menos lírico que Tatuagem, Hilton Lacerda conduz sua trama policial de maneira muito particular. Instiga o espectador a todo momento, fugindo das fórmulas, ainda que se utilize de estereótipos como o da mãe do marido da vítima e todo o discurso de classe média sobre as mazelas do país, só porque foi morar no exterior. As tramas paralelas vão se costurando de uma maneira muito própria, nos dando sempre a sensação de estarmos ali, participando de algo muito cotidiano.
Irandhir Santos traz para sua personagem uma riqueza de sensações que também ajuda na condução da trama. Breno parece cansado, irritado, reclama da presença dos amigos do filho, mas faz macarronada para todos. Parece se preocupar com a vítima, mas traz algo de obscuro em seu passado, envolvendo sua ex-esposa. Faz a linha policial bom, mas é capaz de se irritar e quase ameaçar a testemunha.
Os jovens Breno, Penha, Ângelo (Pluto) e Indira, vividos por Gustavo Patriota, Amanda Beça, Leandro Villa e Safira Moreira, também constroem um boa dinâmica, há química entre o grupo que torna crível a relação livre, ajudando a construir esse retrato geracional sem rótulos, tabus que, nem por isso, os torna superficiais.
Fim de Festa constrói um retrato de uma época, a partir de uma trama aparentemente simples. Há uma linha tênue que flerta com gêneros, mas o cinema de Hilton Lacerda recusa rótulos. Livre e envolvente, como o grupo que retrata.
Fim de Festa (Fim de Festa, 2020 / Brasil)
Direção: Hilton Lacerda
Roteiro: Hilton Lacerda
Com: Irandhir Santos, Gustavo Patriota, Amanda Beça, Leandro Villa, Safira Moreira, Hermila Guedes
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Fim de Festa
2020-03-22T19:39:00-03:00
Amanda Aouad
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