Em 1990, a pequena cidade argentina Rio Tercero viveu um terror inimaginável. Um acidente na fábrica militar local desencadeou uma série de explosões de produtos armamentícios, transformando a paisagem em um cenário próximo a uma guerra, com desespero, mortes, feridos, muita fumaça, estilhaços e consequências a longo prazo.
Estilhaços
Em 1990, a pequena cidade argentina Rio Tercero viveu um terror inimaginável. Um acidente na fábrica militar local desencadeou uma série de explosões de produtos armamentícios, transformando a paisagem em um cenário próximo a uma guerra, com desespero, mortes, feridos, muita fumaça, estilhaços e consequências a longo prazo.
A diretora Natalia Garayalde era uma criança na época e acabou sendo uma testemunha ocular bastante peculiar. Seu pai acabara de adquirir uma câmera de vídeo. As novas gerações talvez não entendam o impacto disso, já que hoje qualquer celular capta imagens em movimentos com facilidade. E há um excesso de registro diários. Mas na década de 1990 isso não era comum. E muitas lembranças ficam apenas na memória, no máximo, em imagens estáticas em fotografias de papel.
Por isso, é importante o tempo que a diretora gasta apresentando esses registros lúdicos com experimentos de brincadeiras das crianças e gravações diversas do dia a dia familiar. Em determinado momento, no entanto, essas memórias dão lugar para as imagens desse sinistro evento. A família está tão próxima dos acontecimentos que chega a nos dar a sensação de estar assistindo um daqueles falsos documentários de terror nos quais a câmera é personagem.
São imagens impressionantes. Não apenas pelas explosões e pela documentação do cenário do acidente, mas também pelo registro do desespero da população. Em determinado momento, o pai de Garayalde dá carona a uma mulher com um filho no colo que chora desesperada achando que seu marido está morto. Há um valor histórico indescritível em tudo isso.
O problema é que a diretora acabou não aproveitando tão bem o material que tinha em mãos. Falta a Estilhaços um roteiro. Não por acaso não há roteiristas creditados. Por mais que seja um trabalho de pesquisa de imagens e montagem, era preciso planejar melhor o que fazer com elas. Dar um sentido a obra que não apenas esse olhar curioso para o passado.
Por mais instigante e envolvente que seja acompanhar esse estranho momento, a projeção cansa. Fica uma sensação de que não vamos muito além disso. Mesmo a denúncia sobre as consequências da exposição da população ao ocorrido caem no vazio.
De qualquer maneira, é um material que impressiona. Gera curiosidade para o fato e nos impacta com imagens tensas e emocionantes. É uma experiência válida, ainda que fique a sensação que de poderia ser muito mais que isso.
Filme Visto no 10º Olhar de Cinema de Curitiba.
Estilhaços (Argentina, 2021)
Direção: Natalia Garayalde
Duração: 70 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Estilhaços
2021-10-10T15:00:00-03:00
Amanda Aouad
cinema latino|critica|documentario|Festival|Natalia Garayalde|OlhardeCinema2021|
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