Uma declaração de amor à família e ao cinema, assim Spielberg define seu novo filme, Os Fabelmans. E de fato é isso. Mas é também um sensível melodrama que nos envolve do começo ao fim e uma aula de cinema tendo fôlego até para uma piadinha final com a correção do enquadramento na última cena.
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Os Fabelmans
Uma declaração de amor à família e ao cinema, assim Spielberg define seu novo filme, Os Fabelmans. E de fato é isso. Mas é também um sensível melodrama que nos envolve do começo ao fim e uma aula de cinema tendo fôlego até para uma piadinha final com a correção do enquadramento na última cena.
O cinema de Steven Spielberg sempre foi assim, popular e também extremamente técnico. Uma junção perfeita para agradar público e crítica especializada com inúmeros clássicos modernos. Quem nunca se encantou com ET? Ficou tenso com Tubarão? Se divertiu com Indiana Jones ou Parque dos Dinossauros? Se emocionou com A Lista de Schindler ? Isso pra citar alguns que já caíram no imaginário e história da sétima arte. Ver como essa paixão pelo cinema começou acaba sendo também um exercício de imaginação e reinvenção do próprio cinema.
Como não podia deixar de ser, as referências cinematográficas saltam aos olhos. A começar pelo encantamento da criança impressionada com a grande tela que tem um enquadramento muito parecido com Totó de Cinema Paradiso. Vários momentos nos remetem a cinebiografias autorais como A Era do Rádio ou Amarcord, mas também há uma originalidade e um frescor na construção daquela família e daquele jovem já talentoso que impressionava com tão poucos recursos.
O duelo com o pai que, com a mente prática, via naquilo apenas um hobby e a cumplicidade com a mãe, com alma de artista, constrói o equilíbrio perfeito para o drama familiar que acompanha a trajetória do futuro cineasta. Mesmo as situações quase absurdas que sabemos serem reais não perdem a verossimilhança, sendo bem desenvolvido em narrativa e dramaturgia que nos torna cúmplices e quase parte daquela família também.
Um judeu que fala “Jesus” quase como bordão. Um menino de coração bom que brinca de fazer mágica com sua câmera. Sammy Fabelman é um protagonista fácil de construir empatia. Desde o primeiro minuto, com seu medo de entrar na sala de cinema que é “escura”. Passando por seu fascínio olhando a tela e posterior vontade de repetir a cena que o impactou. De alguma maneira, ele desperta nossa própria relação com o cinema, que é também a fase do espelho na psicanálise, quando buscamos nos reconhecer no mundo.
Sam quer mais do que se reconhecer em tela, ele quer se expressar, quer construir o efeito que tanto o impactou desde o primeiro momento. E a maneira como Spielberg vai construindo a parceria com seu alter ego é empolgante. A maneira como as duas câmeras se misturam e vão nos mostrando o filme dentro do filme nos faz lembrar a magia do cinema ou, melhor, nos faz testemunhar essa magia acontecendo.
A cena em que o filho filma a mãe dançando no acampamento, por exemplo, é de uma poesia ímpar. E o ritmo das imagens da dança e a mise-en-scène dos demais membros, em especial o contraste da irmã preocupada com o reflexo e o pai e o amigo encantados reflete o tom de toda a projeção que traz riso, choro e ternura em equilíbrio. Ou a cena no quarto da namorada com o contra-plongée da imagem de Cristo. Ou o 360º na revelação de em que sala em que ele se encontra na parte final por causa dos cartazes na parede. Você não precisa conhecer de cinema para entender que tem algo ali especial.
The Fabelmans é mais do que uma autobiografia. Há uma coragem de se expor em nome da arte. Há uma escolha precisa de elenco, com destaque para Michelle Williams. Há um timing melodramático preciso. E, principalmente, uma verdade compartilhada com a plateia que nos lembra o quão incrível é poder seguir nossos sonhos, vocação ou o que quer que se chame isso. Não há como negar, Spielberg nasceu para isso.
Os Fabelmans (2023 / EUA)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Steven Spielberg e Tony Kushner
Com: Gabriel LaBelle, Michelle Williams, Paul Dano, Seth Rogen
Duração: 151 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Fabelmans
2023-01-23T08:52:00-03:00
Amanda Aouad
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